Criatividade Reprimida

Cá estou eu novamente na Praia dos Anjos, mesmo banco, mesmo calçadão - talvez até na mesma hora. Fazia alguns dias que eu não escrevia nada, menos ainda lia. Principiava a ter sintomas de criatividade reprimida. Se isso existe? Tentarei explicar.

Quando fico mais de uma semana criativamente improdutivo, toda minha inspiração se acumula e ela precisa ser “aproveitada” de alguma forma. O primeiro meio que ela encontra para isso são meus sentimentos. Começo a sentir saudades extremas das pessoas que mais amo e mais me fazem falta, certas vezes sinto ódio sem motivos das mesmas pessoas. Na maioria das situações fico deprimido.

Admito que tudo isso é estranho. Muito difícil explicar, mas tento mesmo assim.

Sinto a criatividade como certo tipo de entidade além de qualquer compreensão, mas ela em nenhuma hipótese deve ser vista como um dom. Qualquer um pode alcançá-la.

Você deve imaginá-la como uma jovem muito fechada, reclusa e introvertida. Não é tímida, apenas necessita de grande esforço para ser conquistada. Como qualquer mulher difícil, ela será muito fria a princípio. Também será chata, complicada e quase impossível de se ver sorrindo.

Importante: nunca a procure, sempre espere que ela chegue até você, mesmo que de uma forma bem subliminar. Ela odeia quando tentam persuadi-la, se sente usada ou manipulada, confia pouco nos outros.

Com o tempo ela aprenderá a lhe admirar, entenderá que suas intenções com ela são das melhores e que você a ama mais do que ela possa imaginar.

Passados meses de convivência ela se acostumará com sua companhia e não negará tanto quando você a procurar. Ficará feliz em lhe ajudar, ficará feliz ao vê-lo feliz.

Quando você se dá conta, está dependente dela. Nada mais importa. Você nem precisa mais chamá-la, não quer incomodá-la e sabe que ela sempre aparece em momentos propícios. Você a adora, age quase completamente de acordo com a vontade dela, quer vê-la sempre sorrir para você. O sorriso dela é tudo.

Nem sempre ela aparece. Às vezes se isola demais, parece ter esquecido sua existência. Você se deprime. Tenta animá-la, tenta descobrir o que houve de errado, o que você pode ter feito, então quando pensa em desistir e deixar tudo pra trás ela volta como um furacão, sorridente e com mil saudades.

Complicado demais? Estranho demais? Bom, eu disse que você devia vê-la como uma mulher – apesar de que não considero as mulheres tão complicadas como muitos dizem.

Se quiser imaginar agora como me sinto quando fico com criatividade reprimida, tente se lembrar de algum momento em que você quis muito dizer a uma pessoa o quanto a amava, mas nunca conseguia encontrar um maldito meio de dizer isso a ela e tinha que sentir todo aquele sentimento lhe corroer por dentro sem que ninguém soubesse.