Ao telefone

Galicismo ou não, acho que “ao telefone” soa melhor que “no telefone”. Mas o que eu digo mesmo, quando alguém pergunta por outra pessoa que está falando naquele aparelho móvel ou no fixo, e ele não pode atender, é que ele está em outra ligação. Isso é uma coisa estranha por sinal, o telefone móvel, vulgo celular, toca. O sujeito está próximo de outras pessoas. No entanto ele começa a falar como lhe convém, na altura que deseja, e automaticamente todos falam baixo para não atrapalhar.

Mas o telefone não é móvel? Por que o falante não sai da sala? Sei lá. Todo mundo atende o tal aparelho onde quer, e a gente fica sabendo até de problemas muito particulares dos outros, mesmo sem querer.

Procuro seguir regras de boa educação nas minhas ligações telefônicas, e tomar o máximo cuidado com o que digo, sabe lá de que presídio podem estar ligando. No trabalho o cuidado deve ser ainda maior. Tem amigos que adoram passar um trote na gente. Alguns me ligam dizendo que é o Moacyr Scliar, ou a Martha Medeiros. A primeira vez cheguei a ter um friozinho na barriga, que acabou com a gargalhada do outro lado da linha. Outra vez paguei o maior mico. A voz perguntou em tom grave e sensual:

- Quem é que está falando?

Eu, já aborrecida, achando que era meu irmão, respondi:

- É tua irmã seu filho da...

Mas não era, era um fornecedor. Nunca mais fiz isso, prefiro falar com os engraçadinhos ao telefone com polidez, sonhando em esganá-los pessoalmente.

Ana Mello
Enviado por Ana Mello em 13/05/2008
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