Crônica das perguntas

Crônica das perguntas

"Pena que a vida seja tão curta!

Há tantas coisas bonitas para serem vistas!´´

Acho que ´´a noite´´ estava chegando quando o autor Robert Frost escreveu:

'´Os bosques são belos, sombrios, fundos.

Mas há muitas milhas a andar e muitas promessas a guardar

antes de se poder dormir,

sim,antes de se poder dormir.``

...Há momentos em que nos perguntamos se tudo vale a pena; se todo sacrifício que vemos e passamos compensa?

Ontem conversei com um ser feminino que mantém a casa sozinha ,sem fazer nada para si; luta desesperadamente por´´ um lugar ao Sol ´´para os filhos;mas os adolescentes se encantam não só com a idade que têm ,mas com toda a fantasia que os envolvem, com um Universo consumista que os abraçam...Hoje não mais com bailinhos nas garagens ,nem com vitrolinhas que acabavam por produzir beijos atrás dos armários! Há pouco tempo ,um ´´homenzarrão´´ chorando sua solidão e a ingratidão de amigos antigos; que se afastaram depois de seu novo rótulo de ``separado´´...Noutra ocasião, uma viúva que só se permitiu sorrir após seus sessenta anos; porque gargalhar em bom som era coisa de´´ mulher a toa´´...Amigas que acompanharam a infância de seus filhos trancados apanhando de maridos bêbados, omitindo-se por medo de também apanharem;e rebelarem-se não era ´´coisa de mulher´´!

Mulheres casadas com viajantes, que criaram seus filhos sozinhas e passavam noites chorando num ´´Universo masculino´´; onde seus maridos esqueciam a dor das saudades em bares e prostíbulos.

Homens que exigiam que suas esposas não cortassem cabelo ,não saíssem a noite,não ´´respirassem´´, não vivessem!Mulheres que foram criadas para serem donas de casa, e maridos que casaram com a imagem e semelhança da própria mãe; fazendo sexo com suas esposas apenas para procriarem,proverem,brincarem nos finais de semana ; e sentirem-se os melhores pais do mundo!

Homens que diziam respeitar ´´ a moral e os bons costumes´´ ,mas jamais perderam o vício de namorarem uma infinidade de mulheres e exigirem fidelidade extrema de suas esposas.

Mulheres que mudaram de estado, país, nacionalidade por grandes amores que jamais serão a representação de suas famílias.

Mulheres que optaram pela separação para serem fiéis a si mesmas.

Mulheres que labutam para prover mais da metade do orçamento doméstico e continuam a ter múltiplas jornadas de trabalho.

Homens que ´´se esfolam´´ cotidianamente em prol de uma família que o desconhece totalmente.

Mulheres que sonham, homens que deliram,crianças que ficam sós,adultos que realizam crenças de seus pais.

´´Desmemoriados´´ que batem em seus filhos porque esqueceram a idade que tiveram e todos os seus sonhos.

Adolescentes que aprendem que se entorpecer por qualquer vício pode valer a pena.

Famílias que gritam ,gesticulam e nunca se apóiam.

Pais que exigem diplomas e louros; acreditando que vivemos no continente europeu.Filhos que se esquecem que sem formação as chances de sobrevivência são remotas.Um chefe de estado que acredita que ´´tupiniquim´´ é melhor que língua inglesa; e que representar o país com um intérprete é um orgulho nacional.

Noites em claro aguardando respostas que não chegam.

Dias repletos de ´´ poréns´´ e ´´ senãos´´...

Quando vamos viver?Noutra época? Noutra encarnação? A culpa pode ser sempre de alguém,mas será mais uma ilusão não nos responsabilizarmos pela nossa qualidade íntima de vida!

Talvez seja hora do ´´ passo a passo´´;talvez seja o memento de nos dedicarmos a um dia após outro.

Talvez possamos aprender com todas as histórias tristes; e possamos realmente trilharmos novos rumos para nós ;e como conseqüência para todos os que amamos.

Talvez seja hora de exemplificarmos em nós uma qualidade íntima de amor próprio respeito por si; com diálogos internos mais fraternos ;para que através deste apoio íntimo possamos temer menos, amar mais ;e por excelência deixarmos de nos iludir.Não temos mais tempo para fazermos as mesmas coisas...

Estamos sem crescer por dentro!

Já é Natal de novo; as lojas estão repletas de presentes ;as pessoas vão se entupir de artigos que jamais usarão;comprarão inúmeros ítens para tapar as carências de seus dependentes;farão muitas contas pAra si mesmos; e no inicio do ano( que poderia ser novo) mais uma vez culparão a política, o índice de analfabetismo, o nordeste petista,o Delfim do passado,os paulistas malufistas,e todas as listas de culpados pelas sensações vazias de suas mesmas escolhas...

Desejo para todos nós que optemos engatinhar em tudo que pensamos que somos mestres ;e nos especializar pela ciência íntima da oportunidade da vida cotidiana.

Talvez possa realmente valer a pena...

´´PORÉM, NADA MUDARÁ SE FIZERMOS DE CONTA QUE CRESCER NÃO É PRECISO!´´

Tenhamos cuidado!

O relógio jamais para; e nunca saberemos, de fato, quando ´´o nosso show´´ vai terminar!

MARÇO DE 2007.

Nilma Oliveira Finholt