SEM PAPAS NA LÍNGUA

Quantas crônicas devem ter sido dedicadas ao papa. Este ser já quase pasteurizado, midiaficado, palavra que acabei de inventar para expressar múmia, mídia e todas as suas interlocuções e modificações.

É certo que todos querem estar presentes ao funeral do papa. Eu também, por isto aqui estou.

Entre Fidel, fiel cubano e casto de enganos vixit!

Lula e Severino, representantes da terra brasílica e severa com todos ante esfera republicana.

Nossos índios devem rezar providências ao Jucá garimpeiro.

O mundo inteiro reza e suplica por vastos caminhos de paz.

Desastres africanos devem implorar por perdão aos inocentes pecados cometidos.

Também nossas adolescentes infectadas de HIV, em dúvida entre o pecado e o prazer.

Dívidas e dividendos representados por seus longos cabelos, proibidos de cortes.

Mas o corpo não pode esperar por um consentimento.

O corpo sente e avança pecando na carne de sempre. Meã culpa, meã culpa.

E a barriga infla gerando seres proibidos de sentir apenas prazer. Meã culpa. Meã culpa.

E o papa sabe ser gentil e se expressa em todas as línguas de seus pecadores fiéis.

Sabe perdoar aqueles que o alvitram. Mas o papa não sabe ouvir.

Seu texto decorado de ator que foi, não ouve a platéia receosa que grita por estanque de sangue.

Não sangue de guerras já descritas.

Mas sangue de almas de cotidianos aflitos.

Não se pode perdoar dízimos infinitos e a isto chamar de tolerância ecumênica.

Vamos dar um basta aos atritos que percorrem áreas de granito.

O papa não pôde, apesar dos ritos, poupar vidas e conflitos.

Adeus à era de cristo.

Que venha um papa negro e aflito, a desmentir recados de Nostradamus e postergar o fim do mundo, que criança alguma tem algo a ver com isto.

Na glória do Senhor, descansemos em paz.

E que não fique o dito por não dito.

Rocio Novaes
Enviado por Rocio Novaes em 05/04/2005
Código do texto: T9885