Eu Motor!

Meu corpo se abre

E n''uma combustão

Tal qual um pistão a dez mil RPM

explode em toda sua fúria

Grita, geme e chora!

O câmbio engasgado do meu sorriso

com suas engrenagens gastas e cansadas

Continua engatado, esperando o soltar

da embreagem do meu coração

Coroa, corrente e pinhão,

dilacerados por tanto uso

refletem meu cérebro,

já quase sem nenhuma força

que faça a roda da vida girar

No limite da rodovia

a cento e dez por hora

O carburador da alma

sofre com os resíduos de

um combunstível sujo e seco

carinhosamente proporcionado

pela maldade humana

Com a poluição no rosto,

que a viseira do mundo não

consegue segurar

paro no próximo posto e,

exausto, reviso-me por completo

a cada rotação marcada no conta-giro

Minha bateria, de retificador e estator

danificados, fruto de incoerência e falsidade

já não dá conta de sinalizar direções,

extinguir o escuro, alertar o perigo

E na rodovia conservada, de chão negro

enfeitado, com margens rasas e avisos,

sigo forte, fugindo de mim mesmo,

escondendo em minha própria sombra

acelerando e reduzindo, conforme os

radares da vida, até o freio da vontade

não mais responder a meu comando.

F. Pinéccio

Itapira/SP

24/09/20 05

02:13hrs