0 vexame de uma lady em N. York

Gosto de escrever cronicas!

Principalmente aquelas do meu cotidiano ou dos outros; sou uma grande observadora das vidas e comportamentos das pessoas, de suas reacoes nos acontecimentos mais comuns.

A Cronica me da uma certa liberdade para descrever fatos que, na maioria das vezes, pensamos que soh acontecem a alguns eleitos pela providencia Divina ..... quando nao eh bem assim ...... somos tao iguais e comuns que, certamente, mais de metade dos leitores vao se identificar direta ou indiretamente com esta croniqueta.

"........ eu resolvi tirar um dia soh pra mim e passear em N. York, onde pretendia comprar alguns presentes pra familiares e passear no Central Park.

Eh tao dificil sair sozinha, sem compromissos de hora marcada que, uma semana antes eu ja me sentia ansiosa por aquele dia. Pensei em fazer tanta coisa naquele meu dia off que, nem que o dia tivesse 100 horas, eu teria conseguido.

Meu filho levou-me a estacao ferroviaria e comprei um bilhete para 7 da manha.

Estava "vestida para matar" ..... entre "mulher fatal" e "executiva" : uma bota preta cano curto de couro fino, saia de cor mel, clarinha, que deixava a vista o biquine preto, discreto, mas chamativo para os olhares mais atentos (se olhassem, claro). Uma blusa preta de seda fina por dentro da saia. A bolsa, parecia gemea com a bota ...... modelo maleta mas, de um charme maior que o meu.

Ainda numa prova de disposicao pra "chegar chegando", onde nem sabia pra onde ir...... comprei uma revista e fui lendo-a no trem. Fingindo estar absorta numa leitura sem importancia, pensava que naquele vagao nao havia ninguem que nao estivesse olhando aquela gostosa de pernas cruzadas que nao olhava pra ninguem.

Ao desembarcar, tratei logo de usar meus oculos escuros, mesma cor da saia, que tinha comprado para aquela ocasiao. Meu objetivo era mesmo ver as expressoes masculinas quando por eles passasse aquela colossal mulher. Colossal: era como me sentia e nao obrigatoriamente, como estava.

Da estacao ateh o Central Park fui andando, de proposito....... era minha passarela. As vezes, entrava numa loja, outra e outra mais e saia dizendo: compro na volta..... ateh com certo menosprezo. Chegando ao Central Park dei aquela respirada funda ..... como se pudesse oxigenar pulmoes e cerebro por mais uns 20 anos. Andei de charrete por todo Park.

Uma fome medonha e pouco comum me fez comer um enorrrrrrrrrrrrrme hot dog e tomar uma coca-cola. Eu sempre odiei hot dogs e nao tomo refrigerentes mas, eu estava no Central Park, cartao postal de N. York e nao comer hot dog e tomar coca-cola eh o mesmo que queimar a bandeira americana em praca publica.

Nem bem o cachorro chegou ao estomago ...... um gato arranhou meu intestino e uma dor fina e infinda iniciou ali. A coca-cola empurrava o cachorro que desceu a contra gosto. Tentei lembrar da janta.... nao me lembrava de ter comido um gato, enfim......isso pode ter acontecido quando dormi.... quem sabe um gato entrou por minha boca a dentro?

Mais uns 10 minutos eu ja passava a mao na testa gelada e o confronto mortal entre o felino e o dog invasor ja estava no segundo round. Decidi voltar e comprar o que tinha visto e rumar pra Estacao de volta a Connecticut.

Ja andava com passo mais curto e entrar em qualquer loja era impossivel. Dei uma acelerada quando avistei o terminal ferroviario ...... atrevessei sinal vermelho e quase me atropelam ..... antes isso tivesse acontecido .... quebrariam-me um osso e evitariam a tragedia emocional que ainda estava por vir.

Nunca entendi porque nao entrei numa loja e pedi para usar o banheiro ..... acreditei ate o ultimo momento na obediencia do cu que, provou ser o orgao mais pacifico do nosso corpo: ele decidira que gato e cao tinham que brigar la fora e nao dentro de mim e assim, sem me avisar, botou o gato pra fora e pelo rabo. Sim, pelo rabo. Ja entrei na Estacao com pelo menos 5 cm de merda fora no furico. Joguei o bilhete no homem, entrei no vagao e me sentei...... achatando o coco que se espalhou. A blusa estava colada no meu corpo....... tanto que suava. Impressionante, nessas situacoes, como acreditamos sempre que vai dar tempo. Tempo de que? Na verdade nessas situacoes perdemos a inteligencia..... ateh hoje acredito que existem neuronios no esfincter anal. 0 cu pensa anos-luz a frente do cerebro. 0 trem mal partiu da estacao e eu ja tinha cagado, 28 gatos e 34 cachorros ferozes.

Cada cachorro e cada gato com uma ninhada de pelo menos 6 filhotes.

Em nenhum momento olhei pra dentro do vagao ..... eu soh olhava para fora, da janela, tamanha vergonha. 0lhava mas nao via.

De relance, percebi que, os passageiros se acomodaram num montinho humano em certa parte do vagao, longe de mim ....... com medo da contaminacao .... mas, o ar estava empestiado.

Fiquei solitaria com a maldita fauna naquele banco.

Telefonei pra meu filho e mal falava: chorava.

Era suposto que tivessem deixado um carro pra mim na Estacao de minha cidade, para a minha chegada mas, diante do ocorrido, meu filho foi encontrar-se comigo.

Quando me levantei para o desembarque, abriram alas e eu passei humilhada. Ploft... ploft...... ploft ...... eram meus passos ..... com a bota cheia da merda que escorreu perna abaixo.

Pra aumentar minha desgraca, meu filho me enrola jornais pela cintura ....... e eu me senti uma banca de jornal ...... com as manchetes abertas e ninguem querendo ler.

Me irritou a pergunta: MAE, QUE FOI ISSO? Comecei a me vingar gritando, reclamando, falando que ele era culpado, que nao me dava sossego pra sair, que nao me avisou do hot dog, que o Central Park era longe da Estacao enfim, que nao me lembrou de sentar-me ao vaso antes de sair de casa porque meu intestino eh britanico.

Ele nem palavras tinha pra mim ...... apenas mantinha o jornal preso a minha cintura. Parecia um policial levando um criminoso pra cadeia.

0 carro estava laaaaaaaaaaaaaaaaa na puta que o pariu, o que me obrigou a andar por todo estacionamento sob os olhares dos curiosos que: pra nao aplaudir ..... riam na surdina. Senti-me uma merda. Nao, eu era uma merda.

A humilhacao aumentou quando meu filho abriu a porta do carro e antes que eu me sentasse....... envolveu o banco em plastico duro, abriu todas as janelas ........ meu proprio filho estava morto de nojo de mim.

Ao chegar em casa fui recepcionada por meus netos que improvisaram a formacao de um quinteto e entoaram: "a vovo fez coco na calca" ! "a vovo fez coco na calca"! Entrei em depressao severa!

Tomei banho! Joguei a culpa em tudo e todos e fui dormir com medo de mijar na cama .

N. York soh me viu dois anos depois mas, nao me reconheceu porque fui vestida de jeans, igual a todos e peguei o trem das 10 ...... antes, fiz meu coco..... pontualmente as 7....... fiquei traumatizada com meu potencial fisiologico ...... Benza-me Deus!

jotapati
Enviado por jotapati em 15/01/2006
Código do texto: T99227