"As Gatinhas do Dia-a-Dia" =Crônica do cotidiano=

Há mais ou menos uns três meses que a conheço e parece que nossa amizade durará enquanto eu durar. O nome dela é Carla e temos “apenas” uns quarenta e três anos de diferença de idades. Ou seja, forçando um pouco a barra, eu poderia ser avô dela. A diferença enorme de faixas etárias não impede que sejamos amigos, e que tenhamos prazer em nos ver todos os dias. Muitas vezes mais de uma vez.

Ela trabalha na padaria situada no térreo do edifício onde moro e me atende sempre. As outras moças até esperam que ela o faça, pelo hábito criado.

Comecei a fazê-la rir quando me perguntou, depois de me atender:

- Mais alguma coisa, moço?

- Só o troco, filha.

Uma bobagem à toa, mas acho que ela riu do jeito que falei, ou porque eu ainda não havia pago a despesa. Ela sorriu e eu elogiei seu sorriso. Aí ela ficou vermelhinha, o que hoje em dia me parece uma raridade.

Que menina linda é a Carlinha...Daquele tipinho de morena que dá vontade da gente ter muitos anos a menos, ser solteiro, e poder paquerar a sério, cheio de boas intenções. Moreninha, rosto redondinho, sorriso lindo, olhos escuros e olhar tímido, transmite um jeitinho de quem precisa de proteção. Para consolo de coroa, gostaria muito que fosse minha norinha, mas minha cambada toda já está comprometida. Azar deles.

A risada mais alta que ela já deu até hoje foi quando elogiou minha esposa:

- Muito simpática sua esposa, seu Fernando.

- Aquela que esteve comigo aqui ontem à noite?

- É. Achei-a muito simpática e bem educada.

- Aquela seria a última pessoa do mundo com quem eu me casaria, menina.

- Puxa vida! Porquê? Me pareceu tão legal...

- Aquela é a minha mãe, Carlinha. Minha mulher, graças a Deus, é bem mais nova que eu.

A outra gatinha que tenho prazer em ver quase todos os dias é a Jéssika dos Correios. A Jéssika “importada”, com K no nome, como costumo brincar com ela. Loirinha, magrinha, estudante de Direito, tem sempre um belo sorriso, um jeitinho amável de atender, sabe conversar, rir, bater um papinho rápido enquanto ajuda na embalagem das encomendas, e parece sempre trabalhar com prazer e disposição. Tipo gente que gosta de gente. Do tipo que a gente gosta de saber que existe.

Uma certa loja aqui da minha região tem uma vendedora que vou te contar...Alta, morena clara, cintura estreitinha, traseiro tipo “ideal-alto luxo-cinco estrelas-suspensão hidráulica”, olhos azuis, boca linda, pernas compridas, uma cabeleira densa, comprida, cintilante, que balança enquanto ela balança, digo, anda, que me obriga todos os dias a andar meio quarteirão a mais para “ver os móveis” daquele estabelecimento.

Se ela não estiver lá quando eu passo por perto, economizo caminhada: os porteiros dos dois prédios próximos à loja, também fãs da gostosona, me fazem sinal de negativo e eu continuo em linha reta. Mesmo que eles não fizessem o sinal eu saberia. Pelas caras deles.

Quando ela está na loja envidraçada as caras dos dois parecem brilhar de satisfação. Ô mulherão, meu Deus!!

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 16/05/2008
Reeditado em 17/05/2008
Código do texto: T992571
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.