CONFERÊNCIA CULTURAL DOAS AFRO-DESCENDENTES.... O RETORNO.

Conferência Cultural dos Afro-Descendentes...

O retorno.

Por Poet Ha, Abilio Machado

O meu sorriso não foi perdido, não foi afetado e nem tampouco ao extremo.

Olhei as pessoas poucas que estavam presentes, algo acontecia, uma meia dúzia conversavam a um canto, me perguntei sobre os políticos da outra noite, sumiram, ganharam os canudinhos de papel colchet.

Chacoalhei os ombros e me fui, vestido de negro, não acontecia nenhum debate, nenhuma manifestação, nem mesmo os indivíduos retornaram devido a distância...

Ao passar pelas ruas da cidade encontrei muitos jovens, sua maioria membros daquele grupo recolhido e na espera.

Espera de um céu que lhes oferecesse mão, arroz, feijão e açúcar. Que lhes oferecesse remédios, assistência e um cadinho de dignidade. Mas serão talvez vítimas do futuro como foram do passado, pois a grande maioria quer deles o que a eles virão, os investimentos para o ensino, ninguém está preocupado se realmente aprenderão, mas sim se saberão assinar a documentação do título de eleitor e a súmula no dia do voto.

Ninguém quer saber realmente se a preparação profissional deles será a este ou aquele caminho, se haverá realmente capacitação profissional, não te querem organizados, te querem organizar, opositores da mesma lei. Gritos de opostos.

Por que não foi realizada uma ampla divulgação? À toda cidade e sim prestou-se a apenas a uma comunidade, pois a verba destinada a eles, às quilombolas estão na porta do cofre, foi aprovado, é realmente remanescente de ex-escravos então o dinheiro vai ser solto como se abre uma torneira.

O grande exemplo é que o acesso a água encanada e tratada há muito existe e por que só agora a entidade responsável foi até eles? Véspera de eleição, véspera de fechar e conter os gastos, se gastar tudo bem, se não gastar nunca mais...

Pois a cada discurso vem a mesma ameaça, trazida na alma, se continuarmos, se ainda estivermos aqui, se nos elegermos, se nos mantiverem à frente... Ouvi isto à s vezes displicente e às vezes nas entrelinhas...

É uma pena que estes jovens que encontrei estejam aqui fora, tubos de garrafas plásticas cheirando a vinho, cheirando a cachaça e refrigerante, cheiro de cigarro importado de aroma doce e forte, cheiro de mistura de temperos da cozinha da Maria e da Juana...

Jovens que poderiam estar lá dentro vendo um bom espetáculo da comunidade, ouvindo música de seus vizinhos, vendo a arte de seus amigos, admirando os trabalhos manuais das moças e mulheres quilombolianas.

Estão aí... os jovens absorvidos na vertente do nada, a pensar no agora como um fruto a ser comido rápido sem sabor, apenas dissecar o tempo, pois amanhã o batente é sobreviver na selva humana.

Vejo seres aprisionados na condição de se ainda responder ao cabresto, antes escrevizatizado pela força brutal do chicote e hoje pela necessidade, pela falta de um tudo que para cada um é muito, como viver no céu de seu quintal.

De que adiantam palavras quando o estômago está vazio, a carne está fraca e a mente caída em tonturas de falta de sumos de carboidratos e proteínas.

De que lhes adiantam aprender a plantar quando o solo lhe oferece pedras... Foi uma das colocações que ouvi... De imediato lembrei-me da história da criação do Estado de Israel, meu velho amigo precisa conhecer a história, feita sem imediatismos, sem demagogias e sim na procura de organizar e crescer com o apoio de todos... A formatação de que os judeus usaram para a construção de seu país de fato é extraordinário e deve ser seguido como exemplo, de capacitação, de conquista, de empreendedorismo, precisaram de ajuda financeira sim, mas não ficaram a espera de governos, eles foram governo.

Vi repetir-se suavemente as medidas cautelosas de que este ou aquele são meus inimigos, que não devem fazer parte ou vão me cortar na minha ambição... Pois bem a escolha foi feita e eu pergunto e agora José?!

A mim resta pedir desculpas a toda comunidade do Palmital dos Pretos, pois busquei sempre informações sobre o período escravagista, seus abolicionistas, seus líderes e não busquei informações sobre eles. Desculpas por não ter no ontem me levantado e ido até a frente e gritado sendo sua voz e sua garganta, por não ter sido suas lágrimas da mãe negra, da mãe índia... Que choram em suas taperas por só ter farinha de mandioca e água para alimentar seus filhos. Chorei hoje ao ver aquelas poucas pessoas reunidas e as muitas na rua, falando alto e com roupas esquisitas, americanizadas e em má conduta.

“Queria pedir desculpas por ser um brasileiro ítalo-latino-indio-afro-descendente.”