EU E MEU MP3

Quem já leu alguns de meus textos sabe o quanto gosto de música e, em tom de brincadeira, chego a dizer que a música é minha amante. Creio que herdei essa paixão de meu pai, que também era um grande apreciador da boa música.

Em nossa casa jamais faltou um aparelho de som, desde a época dos bolachões feitos em cerâmica e que giravam a 78 rotações por minuto na “vitrola” (assim se chamavam os aparelhos de som da época). A tecnologia foi chegando e as aparelhagens evoluindo de tal maneira que dos pesados e quebráveis discos de 78 rpm (com apenas uma música de cada lado), temos hoje pequenos aparelhos que chegam a armazenar uma infinidade de músicas com uma qualidade sonora irrepreensível - os chamados “players” de MP3. Existe uma infinidade de tipos e marcas para os mais variados gostos e bolsos: MP3, MP4, MP5, de 512 MB, 1 giga, 2 giga etc.

E, como não poderia deixar de ser, após um longo período de espera, decidi comprar um desses aparelhinhos, indispensáveis para um “musicólogo” como eu. E, já que o meu negócio é música, optei por um MP3 de 1 gigabyte. Depois de muita procura, e levando em consideração o preço do produto, optei pela compra de um no valor de R$ 55,00 onde se via o logotipo da Sony (claro que pelo preço não poderia ser um Sony). Segundo o vendedor, a garantia seria de três meses (na loja). Testamos o aparelho antes de fechar negócio; resolvi acreditar no tal MP3 Sony – que não era Sony – e o levei para casa, cheio de razão e com uma imensa vontade de transferir muitas músicas do computador para ele.

Chego em casa, e ao tentar ligá-lo, não consegui. O MP3 não queria conversa comigo. Removi a pilha; coloquei-a novamente; troquei a pilha e... nada. Voltei na loja onde o havia comprado e na primeira tentativa do vendedor, o MP3 abriu os olhos e riu de mim. Tinha que ficar segurando o “on/off” por um determinado tempo para que ele ligasse. Um pequeno mico, mas nada que me impedisse de continuar acreditando nele (no MP3).

Volto para casa e começo a passar as músicas do computador para ele. Tudo vai correndo bem até que ele simplesmente parou de aceitar as músicas, mesmo estando com mais da metade da sua capacidade total livre. Telefonei para um amigo, técnico em informática, e ele me sugeriu que removesse todas as músicas já armazenadas e formatasse o aparelhinho, apesar de o vendedor ter me garantido não ser preciso formatar (uso o Windows XP). Fiz a formatação sugerida e... bingo!!! Deu certo. Só que tive de transferir novamente para ele tudo o que já havia passado. Mas fui inteligente, pois tinha enviado para uma pasta no disco rígido tudo o que já havia sido gravado anteriormente e depois foi só voltar para o MP3. Achei genial essa minha ação... (!!!???)

Transferi o máximo de músicas que me foi possível e, aí, uma nova demonstração de vida própria do bonitinho. Como queria fazer uma sequência e depois ouvi-la na ordem estabelecida, numerei todas as músicas, começando por 001 até a última. Cheio de razão, já no começo da madrugada, que acho o melhor momento para ouvir música, lá fui ouvir a tal sequência selecionada. E não é que ele me toca em outra seqüência, totalmente diferente daquela que eu havia programado?! E não estava programado para tocar em ordem aleatória (shuffle), como alguém pode sugerir. Irritei-me mais uma vez, mas aguentei o tranco.

Até que no dia seguinte, continuando a ouvi-lo, ele para de repente. Pensei comigo: acabou a pilha. Troquei a pilha e, nada. Não abria os olhos de jeito nenhum. Fiquei olhando para ele, a raiva crescendo dentro de mim e pensei: “Sua vida termina aqui, seu miserável” (na verdade, chamei-o por outro nome). Após retirar a pilha e o fone de ouvido (que eram inocentes), atirei-o contra a parede e depois por várias vezes joguei-o ao chão, dirigindo-lhe alguns impropérios. Não contei, mas acho que foram umas dez jogadas na parede e no chão. O golpe final e mortal foi pisar em cima dele e girar o pé para não deixar margem a dúvidas. Aí, acabou saindo tudo do lugar, pecinhas pra tudo quanto é lado. Até a mola que faz a pressão de contato na pilha saiu voando.

Acabada a guerra, ainda ofegante, eu me vi pensando: “E agora, seu burro? Vai ficar sem MP3?”. Respondi a mim mesmo: “Vou sim. Pelo menos, por uns dois dias”. Passados os dois dias, saí à caça de outro aparelho, e só encontrava porcarias iguais ao que tinha comprado anteriormente. Até que em uma grande loja de departamentos encontrei um da marca Phillips, com dois gigabytes de capacidade. Esse vinha devidamente embalado, com manual de instruções e até um cabo USB, além do fone de ouvido de boa qualidade. Fechei negócio; paguei no cartão de crédito e, ao retirá-lo, o entregador me apresenta um de apenas 1 gigabyte. Falei: “Amigo, comprei o de dois giga”. Ele foi, e voltou dizendo que não tinha de dois giga. Quase surtei. Ameacei armar uma arruaça, mas, antes disso, o entregador me levou até o vendedor que, após consulta, me disse na maior: “É... Só tem esse do mostruário”. Só não lhe dei um “chega pra lá” porque sou educado (?). Quer dizer, continuava tendo problemas com o MP3. Mesmo assim, decidi manter a compra com a promessa do vendedor de que poderíamos desfazer o negócio no dia seguinte, caso o aparelho não funcionasse adequadamente. Para minha alegria, funcionou e está funcionando corretamente (pelo menos até agora).

Agora me digam: será que um “filho de Deus” merece tanto aborrecimento por causa de um minúsculo aparelhinho chamado MP3?

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 20/05/2008
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