Passeio Cultural

Cheguei na quinta de manhã para a Festa do Divino. Fiquei um tempo na porta da loja de Michele esperando passar algum conhecido para uma prosa. Não passou ninguém. Dei uma volta e encontrei Seu Homero com a pastinha de donativos para a o Mastro e a chegada das Bandeiras. Ele foi logo me agradecendo pelo pé de ferro que mandei fazer para dar praticidade à fixação do imponente símbolo religioso de Poções, lá na igrejinha.

Fui lá conferir, pois não havia participado da festa no ano passado. A porta estava aberta, entrei para rezar e refletir um pouco sobre a vida. Como ali foi um lugar que freqüentava quando criança, a fita voltou no tempo e me lembrei de várias missas e “rezas” que aconteceram.

Dei conta de quantas vezes havia subido aquela escada de madeira, de acesso ao coro. Parecia ouvir o som do grande órgão que era tocado por Bil. Lembrava de Lourdinha Amaral cantando com aquele timbre agudo. O som ecoava na pequena igreja.

Como somente os bancos da frente possuem local para ajoelhar, fiquei sentado admirando a tela atrás do altar, representando a santíssima Trindade. Era o mesmo Deus que dona Fetinha dizia a quem prestaríamos conta. O Cristo está lá, sentado à direita do Pai por 103 anos. A tela foi pintada pelo pintor italiano G. Lupi e doada à freguesia por Paulino Braga, em 1905, conforme as inscrições do rodapé. Permanece inteira, com alguns pequenos danos, protegida pela pomba do Divino Espírito Santo. É uma lembrança viva do meu passado. É uma cópia daquela que está no Vaticano.

No pequeno altar, à esquerda, a imagem de Santo Antônio de Pádua, doada em 1942 pelo italiano Afonso Liguori e família. No novo piso de mármore, resta apenas de original a lápide indicando que estão enterrados ali os restos mortais de Raimundo Pereira de Magalhães, fundador da nossa cidade.

Ao ver as imagens do Coração de Jesus e de São Roque, tive a lembrança das grandes procissões de fila dupla que ocorriam nos eventos religiosos. A imagem do Coração de Jesus era levada para a casa da minha tia Anina e a de São Roque para casa de tio Valentim, de onde saiam carregadas em andores ornamentados com lírios e copos de leite (flor).

Ainda havia a imagem do Senhor Morto, totalmente coberta, no mesmo lugar de onde ficava admirando na hora das “rezas”, quando as atividades religiosas ainda eram divididas entre a igrejinha e a nova igreja. Uma missa lá, outra cá.

No sábado, logo após o almoço, levei Fernando, Heloína Sarno, Edu Fagundes e Lála para fazerem o mesmo passeio que havia feito na quinta. Encontrei uma pessoa muito simpática abrindo as portas da igrejinha. Enquanto mostrava as imagens e contava as histórias aos visitantes, me apresentei e fiquei conhecendo a irmã Teresinha, da irmandade Medianeiras da Paz.

Contei de como foi montada a casa das Freiras (na esquina da Rua de Conquista), que todas as doações haviam sido guardadas em minha casa. Perguntei sobre as Irmãs Bernadete (a primeira administradora da casa), Antônia e Marilac.

Falou-me do trabalho social que ainda hoje é desenvolvido, principalmente aos idosos, levando a comunhão para eles. Coincidentemente, na quinta feira, enquanto descansava da viagem, fui acordado com uma das irmãs rezando e levando a comunhão para minha mãe.

Outro local de muitas lembranças e de lágrimas é a exposição de fotografias de José Onildo na Mostra Cultural, já implorada a criação de um museu na crônica “O Museu de Poções”. Naquele local, os rostos dos que visitam sempre têm lágrimas.

Eu também tenho as lágrimas não porque sou chorão, mas pelo que acho daquela exposição, cujo trecho da citada crônica repito aqui: “os nossos símbolos e a sensação de uma saudade sem retorno, de momentos únicos, eternizando-se tão perto da gente”.

Também acho justo parabenizar o pessoal do IECEM pelo trabalho de manutenção da nossa história, da nossa cultura e pela diversidade de assuntos exibidos no seu museu.

Um grande abraço,

Lulu Sangiovanni

luiz.sangiovanni@gmail.com

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 21/05/2008
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