Conheço pessoas que vivem sob um verdadeiro pânico: não conseguem imaginar a hipótese de se conformar com uma posição social abaixo da que têm. A vaidade, que em tudo se intromete, participa ativamente do processo. Ter acesso a determinadas coisas ou situações passa a ser mais importante pela nossa "posição" do que pela coisa em si. Por exemplo: pessoas que não têm paladar para apreciar um bom vinho tenderão a pedi-lo quando estiverem num ambiente mais requintado.

     Um exemplo esclarecedor: ao observar alguém numa cadeira de rodas, experimentamos em nós a dor que imaginamos que a pessoa sinta. Se ela, porém, for deficiente física desde o nascimento, ou há vários anos, sofrerá bem menos do que supomos. Ora, se o ser humano é capaz de se adaptar a uma limitação tão dramática, porque não o faria com a perda de status, que afeta mais a vaidade que as necessidades básicas da vida?

     Nossa capacidade de adaptação é muito maior do que podemos imaginar. Na prática, a dor é forte, mas de duração limitada. Isso porque passamos a nos identificar com as pessoas de condição idêntica.

     Nesse aspecto, como em vários outros, somos traídos por nossa capacidade de imaginar. Inventamos dores maiores que as que sofreremos da mesma forma que imaginamos prazeres maiores que os que teremos quando antevemos uma viagem, um novo relacionamento afetivo ou uma casa nova, por exemplo.

    Assim como a dor está presente só na transição, o prazer também só existe, por tempo limitado, quando saímos de uma situação pior para outra melhor. Como diz o ditado popular, não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe!