Do humilde sentir de si mesmo segundo a "Imitação de Cristo"

Do humilde sentir de si mesmo

O autor traça um paralelo - uma espécie de ‘chave de leitura’ – para elaborar a sua reflexão. Assim ele parte do fato do conhecer, do conhecimento em si. Aqui ele estabelece duas formas básicas de compreensão de conhecimento aquele que podemos chamar de ‘externo’ e aquele que podemos chamar de ‘interno’.

Quanto à valorização do chamado conhecimento externo de si, ele sublinha seu valor, porém ressalta o seu des-valor – por assim dizer – que são o ensoberbecimento e a sua transitoriedade. Todo aquele que possui um alto conhecimento – na categoria de externo – sempre se julga muito acima daquilo que realmente é. Quando isso acontece – e isso acontece sempre e com todos aqueles que só se preocupam com o saber externo de si – há como que um desprezo pela pessoa do outro, o qual é de suma importância visto ser ela imagem e semelhança de Deus o que, em si, já abriga toda a carga de dignidade possível e imaginável!

Porém, o que nos interessa é o conhecimento interno. Por quê? Porque essa categoria de conhecimento se revela como aquela luz que banha as trevas daquele outro. E, essa luz possui um nome: humildade.

Nesse modo de entender a humildade, ou seja, como luz que se projeta para fora iluminando as trevas exteriores, há de se perceber nela aquela outra maneira de projeção da luz, ou seja, ela também é uma luz que se introjeta. Ela é uma luz que se volta para dentro iluminando o conhecimento de si mesmo. Tal compreensão nos liberta do demônio da achar-se feio, maldito e ruim e nos coloca naquela luz que nos revela nossa feiúra, mas sem nos “demonizar” e sim apenas nos mostrar que somos pecadores e, portanto, necessitados da misericórdia de Deus e de se amor. Mesmo porque Deus detesta o pecado não aquele que peca.

Nisso já se percebe que essa introjeção luminosa de humilde perceber-se a si mesmo nos remete a um outro estágio de conhecimento e, esse estágio, é o conhecimento de Deus em sentido bíblico, isto é, do experenciar a Deus na própria constituição de si: no espírito, na alma e na carne. Ora, já que estamos falando de conhecimento há uma definição bíblica de Deus! Lá, está escrito: Deus é amor! Sendo assim, a finalidade de conhecimento de Deus á amar. E, como nos diz São Paulo em sua carta à comunidade de Corinto: “Eu poderia falar a língua dos homens. Eu poderia falar a língua dos anjos. Mas, se tivesse amor (conhecimento interno de si mesmo iluminado pela humildade que se desdobra na ascenção ao conhecimento de Deus) as minhas palavras seriam como o barulho do gongo ou o som do sino. O amor é paciente e bondoso. O amor não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Não é grosseiro, nem egoísta. Não se irrita, nem fica magoado. O amor nunca desanima, mas suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor é eterno!” ( 1 Cor. 13, 1-8a).

E esse conhecimento de Deus se ramifica para produzir fruto de amor na ação de serviço generoso e voluntário aos irmãos, principalmente os mais necessitados.

Então, não significa que tenhamos que desprezar o conhecimento, mas assim como Maria, irmã de Lázaro, escolher a melhor parte! Isso porque o conhecimento de si mesmo e de Deus possui a marca da eternidade: céus e terras passarão, mas minhas palavras não passarão! Mas, não só. Isso porque esse nosso conhecimento deixa em nossos rostos aquele doce lampejo das divinas consolações, visto ser o dulcíssimo Jesus a base dessa luz.

Santa Teresa d’Avila disse certa vez: “o sofrer passa, mas o ter sofrido, fica”. Nós, então, diremos a semelhança de Santa Teresa: ”o amar passa – visto que o homem é finito e por isso, morre – mas, o ter amado fica eternamente”. Por que o “amor é mais forte que a morte”.

Dranem
Enviado por Dranem em 03/02/2009
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