Necessidades básicas (Para ninguém)

Sim, é real, é necessário, e é muito preciso amar. É preciso parar de ter medo e sair de dentro das quatro paredes do corpo, e amar. Amar incondicionalmente, além da dor e do prazer. Amar, é disso que eu estou falando.

É preciso alguma coisa que transcenda a humanidade, os bobos sorrisos, a falsidade, a burocracia, as estratégias e os jogos, sempre de azar.

É necessário amar.

Deve haver qualquer coisa além do claro e do escuro, entre o lusco e o fusco, maior do que o silêncio, no entanto não menor que a eternidade. O momento entre o beijo e a preocupação, o arranhar teimoso do relógio contra os ventos transeuntes. Aquele olhar que diz que tudo valeu a pena, aquela mão que encontra a outra debaixo da mesa sem querer. E os pares de pernas também.

Os momentos engraçados o céu dos parques os pés dos pombos o milho das crianças e a grama que se balança ao redor das cores e corpos, o calor que eles emprestam ao sol. A noite a flor, o perfume molhado, os toques de penumbra pelos muros. Tudo isso é básico e sem tais coisas a vida se torna insustentável.

Pois então venha, se entregue, desista e serpenteie pelos meus braços e escorra sobre mim como areia na ampulheta e torne a me virar e vire a madrugada e alucine-se, ame, ame, ame! E faça desse amor uma canção, ou ventania... Que esse amor já nos tornou em poesia.

Ame, mas conte essa necessidade só pra quem tiver ouvidos.