DISCURSO DE FORMATURA
“Digníssimo Senhor Professor GERALDO SARDINHA, ilustre Paraninfo da Turma de Formandos, Excelentíssimo Senhor Dr. AMINTAS DE BARROS, Prefeito Municipal de Belo Horizonte, Senhor Diretor do Colégio Municipal, Professor GERALDO MAGELA, Senhores Professores homenageados, demais Mestres do Colégio e Autoridades presentes, prezados Colegas, Senhoras, Senhores:-
Coube-me, por graça de Deus, a elevada honra de pronunciar a oração de despedida em nome dos Formandos do Curso Ginasial, destes moços que ora se graduam, alunos do glorioso Colégio Municipal desta cidade, externando ao ensejo a nossa palavra de gratidão, de reconhecimento profundo aos nossos estimados Mestres e Diretores.
Não seria eu o jovem indicado, realmente credenciado para se ocupar de tão honrosa tarefa, pois que qualidades oratórias não as possuo, o precioso dom que imortalizou DEMÓSTENES não me aureolou a fronte e, alma poética, quisera dela estar imbuído.
Gostaria de poder transmitir-vos, e bem, toda a alegria que neste momento me invade o coração, toda a tranqüilidade e confiança que se apodera do meu espírito adolescente, toda esta sensação de felicidade máxima que agora experimento juntamente convosco.
Entretanto, sinto-me faltaram-me as forças. Reconheço-me frágil, quase inepto. O grande CÉSAR rir-se-ia de mim neste instante magno e significativo da minha vida; CÍCERO julgar-me-ia atrevido bastante; OVÍDIO ver-me-ia ridículo!
Mas, se os argumentos são pobres e carecem de tarimba, de classicismo e de autoridade, pulsa mais forte o coração, brada mais alto ainda o sentimento de amor à causa, ao Colégio e aos queridos Mestres que, timoneiros seguros, cônscios da rota traçada, brilhantemente souberam nos conduzir ao término da jornada, caminhada de glórias, de sofrimentos, de alegrias, de lágrimas e de sorrisos.
É, ainda, o extravasamento do entusiasmo contagiado que, convocando o cérebro a um trabalho árduo e a um febril esforço, aniquila de vez o respeito humano e logra conduzir-me até vós para o cumprimento da missão designada, numa tentativa ousada de levá-la a cabo.
Companheiros, chegamos ao fim da segunda e quase que praticamente a primeira etapa da nossa vida estudantil. Nesses quatro anos de lutas provamos o sabor da vitória e, muita vez, o fel amargo da decepção e do malogro. É verdade que pensamos em abandonar a arena nos momentos críticos do espetáculo; é bem verdade que algumas vezes vacilamos, temerosos de seguir adiante; é verdade ainda que, em meio ao clamor da batalha, chegamos a cair por terra, quase vencidos!
Porém, algo invisível tratava-nos as feridas, enxugava-nos as faces umedecidas pelo suor da refrega, untava-nos os músculos cansados com miraculoso bálsamo, alimentava-nos com a seiva da esperança e, refeitos de corpo e alma, nos atirávamos novamente à pugna de colossos.
Já dizia GONÇALVES DIAS:- “- A vida é combate que os fracos abate e aos fortes, aos bravos, só pode exaltar!”. E nós, bravos de todos os bravos, expúnhamos o peito ao combate e pelejávamos com fervor, sempre acreditando na vitória final.
E agora, meu punhado de heróis, ela nos sorri finalmente. Conquistamo-la, quais formidáveis CÉSARES do Novo Mundo. Temos, em conseqüência, de prestar contas a DEUS, à FAMÍLIA e à SOCIEDADE.
A DEUS, pelo desempenho correto de nossas funções escolares, confessando se nos portamos com a moral elevada, com a honestidade necessária e se soubemos arcar com a responsabilidade que nos pesou por sobre os ombros.
À FAMILIA, pela educação recebida, pelos conselhos adquiridos dos nossos já saudosos professores. É mister que os coloquemos em prática, observando fielmente as regras de civilidade aprendidas, de moral, que muitas e inúmeras vezes eles nos ofereceram. Exigirá a FAMILIA o atestado da nossa aplicação aos estudos, o testemunho comprobatório do nosso aproveitamento. Indagará se procuramos fazer do Colégio um prolongamento do Lar, se nos aprimoramos com amor e carinho. Cabe-nos, pois, responder na íntegra ao questionário.
À SOCIEDADE, pelo título alcançado, pela cultura armazenada que já pode ser posta a serviço da coletividade, da harmonia entre os homens, da confraternização universal. Quer ela saber se observamos a máxima do velho SANTO TOMÁZ DE AQUINO:- “- Toda a superioridade nos é dada em razão do bem comum.” – Convém meditarmos um pouco sobre isso. Será um exame de consciência, um retrospecto, uma olhadela para o nosso próprio EGO.
Portanto, amigos da batalha recém conquistada, atentemos às explicações recebidas nos bancos do Colégio, de Mestres experientes, capazes, desejosos de ver-nos assimilar seus ensinamentos, seus inesquecíveis e proveitosos conselhos e praticar sua filosofia ministrada, e pregar, e difundir a sua doutrina.
Encaremos com um sorriso franco a nova estrada que se desenha à nossa frente, trazendo em seu percurso – quem sabe?, talvez os mesmos espinhos desta feita esmagados sob os nossos pés de gigantes e enveredemo-nos por ela plenos de otimismo, de fé e de perseverança.
Lutemos ardorosamente pela causa do bem comum, aperfeiçoando sempre o nosso intelecto, lembrando-nos à toda hora destes nossos primeiros guias, vanguardeiros ferrenhos da nossa cultura, cujo prazer único consiste em nos ver crescer, subindo, se elevando à procura de mais e mais conhecimentos.
Disse, certa feita, o insigne RUI BARBOSA:- “- Mocidade vaidosa, não chegará jamais à virilidade útil. Onde os meninos campearam de doutores, os doutores não passarão de meninos.”
Provemos o contrário, aniquilando a vaidade, destroçando o sofisma, esmagando a presunção, batalhando com fé e com honra e sejamos um exemplo para a posteridade!
A todos os Mestres do Colégio Municipal de Belo Horizonte o nosso eterno agradecimento.
Aleluia, aleluia! ...
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NOTA:- Seis candidatos concorreram em disputa do título de Orador da Turma de Formandos. Foi escolhido o aluno ANTONIO KARDEC, da 4a. série “A” (manhã). Critério adotado pela Comissão Julgadora dos trabalhos, composta dos Professores GUILHERME, BICALHO e ERNESTO:- “ ... escolhemos o discurso mais simples, mais objetivo, mais accessível à uma formatura de alunos do Curso Ginasial."
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B.Hte., 30/10/1959