O Retorno.

Noite fria de primavera, retomo a escrever, meses depois, parece até mesmo que eu perdi o jeito, muito tempo sem me expressar de qualquer forma, a não ser através de frases que jamais foram minhas, jogadas ao vento para quem quiser pegar.

Lá fora um vento frio, aqui dentro um cheiro doce, o vento entra pela janela e balança algumas fotos no mural, algumas até se arriscam em cair, porém outras continuam lá, firmes e fortes, sobre a escrivaninha um chá de uma erva qualquer, para quem sabe ocorra o alcance de um sono mais tranqüilo, com sonhos menos promíscuos e comprometedores.

Não sei ao certo o que ando sentindo, gostaria de pegar o carro e andar em uma estrada onde só tenha eu e meus pensamentos perturbados, uma estrada onde não se enxerga o além, uma estrada onde nada pode me julgar, onde tudo em volta seja sem vida para que a única coisa em movimento seja eu e minha mente mirabolante se sobre saindo com uma roupa vermelha qualquer.

Gostaria de julgar menos, ouvir menos e falar mais, queria gritar pro mundo todas as minhas impressões impuras sobre pessoas que se escondem atrás de uma pose intocável, mas que no fundo imploram para serem tocadas, reveladas, desveladas, queria cuspir na cara da sociedade e pintar expostamente tudo o que eu sinto tudo o que eu acho certo sentir.

Parece que o chegar de dezembro mexe com as pessoas, a certeza de que durante mais um ano poucas coisas mudaram ao longo da vida, parece que tem coisas que nascem para serem permanentes independente de quantos anos passem. Os dias andam bem, repletos de incertezas, nenhuma certeza se mostra firme entre palavras tão tortas, porém todas as certezas tentam se mostrar entre um gesto ou outro, sempre velados de pudor.

Vontade de que o sol saia e eu te prometa o céu, e eu te de o céu, um céu só seu, clareando o que definitivamente nasceu para ser nosso, talvez os anjos, os orixás, a sincronicidade, ou o simples acaso, todos os caminhos me direcionando ao inevitável que muitas vezes eu lutei para que fosse evitável, mas que agora não tem jeito, já faz parte de coisas que nascem para ser permanente.

Pois é mundo, retornei.

Carla Carina
Enviado por Carla Carina em 28/10/2010
Código do texto: T2584314
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