ESCOLA E CIDADANIA

A Constituição Federal, em seu Art 205 determina que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Podemos observar que a Lei Maior de nosso país assegura à criança, desde a sua concepção, o direito à educação e, cabe salientar, não se trata de qualquer educação, mas uma educação que lhe proporcione o pleno desenvolvimento de sua pessoa e o seu preparo para o exercício da cidadania.

Cidadania é o conjunto dos direitos de um indivíduo, porém, para exercer plenamente seus direitos, todo indivíduo precisa cumprir os deveres a que está sujeito. Dessa forma, quando falamos em cidadania, precisamos entender que existe uma estreita relação entre direitos e obrigações, entre liberdades e constrangimentos, entre poderes e responsabilidade.

É comum presenciarmos situações nas quais uma pessoa briga pelos seus direitos, ao mesmo tempo em que está deixando de cumprir suas obrigações. Sobre isso, Juarez Távora, militar e político brasileiro, dizia que “a cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas as outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado, desculpe, por favor e bom dia quando necessário... até saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que enfrentamos em nosso país”.

Certa feita, alguém comentou que jogar papel na rua não é falta de cidadania e que isso, inclusive, colaborava com os garis, pois eles não perderiam seus empregos. É muito importante, diante dessa afirmação, que nos lembremos da contrapartida entre direitos e obrigações, entre liberdades e constrangimentos, entre poderes e responsabilidade. Desse modo, quando evitamos jogar lixo na rua estamos respeitando o trabalho do gari, em vez de lhe privarmos do pão de cada dia. Não sujar a rua é respeitar o gari, é reconhecer a nobreza do seu trabalho, é contribuir juntamente com ele para a limpeza da cidade. Isso, sim, é prova de cidadania, porque é saber viver em sociedade e reconhecer que a cidade é um ambiente coletivo.

Transmitir esses conceitos para a criança é uma das atribuições da família e da escola e, se as nossas crianças aprenderem desde cedo esse procedimento, estarão aprendendo a exercer plenamente a sua cidadania. Estarão aprendendo que respeito gera respeito, que boa educação gera cortesia, que é necessário ter consciência de que todos nós, cidadãos brasileiros desfrutamos dos mesmos direitos, que o direito que eu reclamo é também direito do reclamado, na mesma proporção e, ainda, ele tem o direito de ser respeitado por mim.

O grande educador Paulo Freire, dizia estar errado o ditado popular: “minha liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. Segundo ele, o correto seria “a minha liberdade termina quando termina a liberdade do outro”, e ele explicava: “se o outro não é livre, eu também não sou livre”.

Sua forma de pensar expressava profundo respeito pelo outro. Será que existe maneira mais bonita de exercer a cidadania em sua plenitude?