DISCURSO DE FORMATURA DA TURMA DE HISTÓRIA DE 2010 DA UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA

Amigos formandos, pais, parentes, amigos em geral, professores, todos os convidados...

Senhoras e senhores,

Agradecemos a presença de todos nesta noite de tanta luz e boa energia. Agradecemos aos nossos pais, presentes ou ausentes por terem sido os responsáveis imediatos pela nossa existência – e sem a presença deles no mundo não estaríamos aqui. Agradecemos às nossas famílias – grandes ou pequenas – sem as quais tudo seria bem mais difícil. Sobre família, podemos incluir também nossa rede de amigos – mais ou menos próximos, mais ou menos íntimos, amigos de hoje, de ontem, de sempre, em maior ou menor quantidade – pois sem amigos, ainda que possam ser em pequeno número, tudo também fica mais difícil. Agradecemos a todos os nossos mestres, que participaram de todas as etapas do nosso aprendizado. A nossa presença aqui nesta cerimônia é a prova concreta do grande valor que todos nós, formandos de História, damos aos professores. Professores são, na pior hipótese, pessoas muito interessantes. Na melhor, pessoas iluminadas. Professor – esta profissão reverenciada em todas as épocas da humanidade, uma profissão reconhecida por qualquer pessoa de bom senso como algo totalmente indispensável ao desenvolvimento humano. E hoje temos a grande alegria em dizer a nós mesmos e ao mundo: somos também professores.

Estou aqui em nome da turma de História. As coisas que digo são, portanto, em nome de meus amigos de turma que me confiaram esta honrosa missão de dizer algo que os represente. Vou tentar fazê-lo. Convido então a todos as pessoas presentes para refletirmos juntos sobre o que é ser um professor de História.

Convido-os também a pensar sobre a importância de se ensinar e aprender história. E, por fim, a pensarmos em sobre o que é História. E começo pela última proposição: o que é História.

O que é História. Vou tentar esclarecer então agora a todos o que é História. A informação que tenho a transmitir neste instante, apresenta-se com base numa idéia compartilhada por alguns mestres e formandos aqui presentes. Nós não sabemos exatamente o que vem a ser História. Um querido historiador do século 19 disse: “tudo o que é sólido desmancha no ar”. Pois bem, assim o conceito de história parece ter-se desmanchado no ar. Pode parecer brincadeira – e, de certa forma, não deixa de ser – mas se eu chamasse aqui na frente um de nossos mestres ou doutores do curso de História desta Universidade, não seria espantoso se ele gaguejasse ao tentar explicar o conceito de forma enxuta. Mas isso não é alarmante. A história não é algo enxuto. A história é uma coisa enorme, vasta, ampla, como é a vida.

Quanto à importância em se aprender e ensinar história, aí sim, o que tenho a dizer vai parecer mais animador. O estudo e o ensino de história podem ajudar as pessoas a compreenderem o mundo. Compreender melhor as problemáticas contemporâneas a partir da pesquisa histórica, ou seja, entender o Presente a partir da compreensão do passado; melhor compreender como se dá a vida em sociedade e porque se dá desta forma; compreender o papel de cada indivíduo nas transformações ocorridas em todos os tempos até os dias de hoje e daqui por diante, com todas as continuidades e rupturas; compreender o quanto somos inevitavelmente sujeitos da história, e em como, com base em relatos de acontecimentos passados, temos também a possibilidade de interferir nos acontecimentos que interferirão na história, sendo agentes da história que está por vir. E a História é um eterno porvir, sempre sujeita a transformações das quais podemos participar, das quais Devemos participar. Estudando história estamos mais próximos de saber quem somos, porque somos assim, de onde viemos e porque viemos, o que nos trouxe aqui. Porque falamos e pensamos usando a língua portuguesa, porque nosso país é desigual, porque somos considerados um país cristão, etc.

O professor de História? O professor de História é esta pessoa dotada de um importantíssimo papel social. É um profissional que levará seus alunos, mais do que conhecer os “grandes eventos” do passado, a serem pessoas críticas, capazes de entender ou de elaborarem questões sobre economia, política, cultura, sociologia, antropologia, “mentalidades”... passando estes a terem instrumentos que os permitam uma melhor compreensão dos fatos.

No entanto, não apenas os alunos de um professor de história são privilegiados por tal conhecimento adquirido por seus mestres. Assim como é importante lembrar que não é também privilégio dos professores de história o ato de contar histórias.

Nossos pais e avós (ou tios) foram aquelas pessoas que nos contaram as primeiras histórias que ouvimos na vida. Quero aqui dar uma sugestão. Agora será uma boa oportunidade aos pais, avós, tios, de ouvirem novas histórias, desta vez contadas pelos novos professores que aqui estão se formando. E garanto que essa gente aqui tem muita história pra contar. Façam essa experiência. Vocês não se arrependerão. Será uma boa oportunidade para os mais velhos ouvirem um pouco sobre o que os mais novos têm a contar. Será até mesmo uma forma de retribuição.

Por exemplo, Minha mãe que aqui está presente já deve até saber mais ou menos quem foi Karl Marx, caso já não tenha se esquecido. ... Mas isso não tem importância. O importante é sabermos que a tentativa de transformar o mundo em um lugar melhor é uma parte importante da aventura de viver. Alguns homens fizeram isso há tempos. E qualquer homem ou mulher pode hoje também tentar.

Meus companheiros de curso. Esta foi uma grande jornada. Uma grande e linda viagem. Daquelas, que por serem tão lindas, passam tão rápido. Parece que foi ontem que tivemos nosso primeiro encontro. Pessoas diferentes, com pensamentos diferentes, diferentes visões de mundo, histórias de vida diferentes, temperamentos diferentes, idades diferentes, e, no entanto, viajando juntos, por todo esse tempo, sem perder o interesse na paisagem, sem perder o interesse no outro. O outro: como essa expressão “o outro” é importante para nossa turma. Nem todos os momentos dessa viagem foram fáceis. Nem tudo foi claro ou calmo. Houve muitos erros e acertos. Acertar é bom. Mas errar é importante. E quantas vezes precisamos errar para que assim tenhamos a grande chance de corrigir as rotas deste caminho cheio de curvas e cruzamentos. E um novo caminho, uma nova viagem começa agora. Poderá não ser uma viajem na primeira classe, mas desta vez com novos saberes adquiridos, e claro, ainda assim temos muito o que aprender na grande escola que é a vida. A vida, que sempre espera tanto de nós, é a maior de todas as escolas.

Em nome de todos os formandos do Curso de História, por todos e para todos eles, e para todos os seus familiares e pessoas queridas,

Boa sorte,

Muito Obrigado.

Vassouras/ RJ, fevereiro de 2011.