MEU DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS - A I L


Discurso de posse do Acadêmico José Ribeiro de Oliveira, na Academia Imperatrizense de Letras, em 13 de novembro de 2005.

Acadêmico: José Ribeiro de Oliveira
Cadeira de nº : 12.
Patrono: Juscelino Kubitschek de Oliveira.



Sr. Presidente da Academia Imperatrizense de Letras,

Exmº Sr. José Reinaldo Tavares, Governador do Estado do Maranhão,
Demais autoridades presentes, Minhas Senhoras e Meus Senhores.

         "Como disse São Paulo: "Mesmo sendo a glória do  mundo, um      fenômeno transitório, o homem sempre parte em busca do           reconhecimento pelo seu trabalho".



     No dia 12 de novembro de 1998, por volta das 20h., desembarquei na cidade de Imperatriz, vindo do Rio de Janeiro, tendo antes passado por São Luís, onde tomei posse no cargo de Delegado de Polícia, após submeter a concurso público.
           A escolha por esta cidade foi minha. A decisão foi criticada por toda a minha família e amigos, que conhecendo Imperatriz, me diziam: aquela cidade é um lugar violento, é uma cidade de forasteiros, pistoleiros, em fim, é um lugar muito perigoso.
            Ora, eu estava vindo do Rio de Janeiro, onde havia trabalhado 21 anos combatendo o crime. Trabalhei 5 anos ininterruptos na Baixada Fluminense, um dos cantos mais violentos do mundo, e ali combati o crime organizado e os grupos de extermínio, realizando um trabalho que foi reconhecido até internacionalmente.
           Pois bem, após conseguir acomodação provisória no Hotel São Luís, saí sozinho, a pé pelas ruas da cidade, na noite já madura. E como se esta quisesse me recepcionar com uma das suas mais belas performances, fui atraído para a Beira Rio, apenas seguindo o fluxo da vida noturna da cidade.
           Em meio às luzes, divisei um enorme clarão, a pouca distância, me induzindo a ver um mar que a pouco deixara para trás. Encurtando um pouco mais o caminho, fiquei extático e me pus a contemplar a exuberância da natureza benevolente, transportando o céu para o chão, através do espelho da imensidão de suas águas: era o Rio Tocantins.
      As luzes do outro lado me remeteram, por alguns instantes à Niterói (imaginsndo olhar, da Praça Quinze, por sobre a Bahia de Guanabara), ainda dominado pelas imagens do inconsciente, mas logo retornei e continuei a contemplação.
        Como se tivesse presenciado um fato inusitado, fui me afastando aos poucos daquela imagem e continuei a andar pela cidade.
        Sem falar com ninguém, apenas observava e fazia indagações a mim mesmo: onde vim parar? Que lugar é este? Por onde irei começar?.
       O certo é que andei por algumas ruas do Centro da cidade, e Já de retorno para hotel, passei por uma rua, onde observei um certo movimento que me pareceu familiar, uma aglomeração de pessoas, algumas viaturas policiais paradas, e logo descobri o óbvio, era a delegacia policial, o lugar onde iria trabalhar.
       Entrei e me identifiquei para o funcionário que estava atendendo, sabendo logo que se tratava de um Delegado ad-hock.
      Conversei um pouco com este e me foram apresentados mais dois outros policiais, também ad-hock.
     Fiquei admirado, mas não me assustei, estava determinado e muito consciente do que iria enfrentar.
    No dia seguinte apresentei-me para trabalhar. E mais uma surpresa, não tinha espaço físico para ficar, não tinha auxiliares para me ajudar, não tinha viatura para diligenciar, não tinha material para trabalhar, também não havia a quem reclamar.
     A determinação, a perseverança, a força de vontade, a seriedade e o profissionalismo me impulsionaram a fazer o que eu pudia, da melhor maneira possível, levando em conta a experiência que trazia na bagagem.
     Vendo isto, Deus cumpriu a sua palavra, quando disse: “Faça a tua parte que eu te ajudarei”.
     O querer de Deus sempre esteve comigo. Aqui instalei a minha família, realizei um bom trabalho, fiz amigos, enraizei a minha vida, e mais que isto, tenho tido o reconhecimento do povo desta cidade, através de manifestações individuais, de entidades e das instituições.
     Aqui tenho tido inspiração para a produção literária, e além de vários artigos publicados, já escrevi e lancei dois livros: O Fantasma das Drogas e a nossa mais recente obra, A Corrupção Entrava o Brasil. Também restabeleci a minha atividade de educador, a mais alta dignidade que um homem pode alcançar na vida.
     No ano de 2003, recebi da Câmara Municipal de Imperatriz a Medalha do Mérito Legislativo, como homenagem e reconhecimento pela contribuição e participação intensa na vida social desta cidade.
     Agora em 2005, dois acontecimentos importantes afagam a minha alma e me prendem definitivamente a Imperatriz: o lançamento de mais uma obra literária, e a minha eleição para ocupar uma cadeira na seleta plêiade intelectual da cidade, a Academia Imperatrizense de Letras.
     Este fato, por si só, é um marco na minha vida e ilustra a minha história.
   O chamamento é de singular importância, pois significa a convocação para contribuir com a arte de criar, cultivar e desenvolver a literatura, a cultura e o pensamento harmonizador da convivência social.
     Mas os acontecimentos da nossa vida seguem por entrelaçados fios que surpreendem as ligações que estabelecem entre fatos e pessoas, por força imanente da causalidade, traçando, de maneira imprevista, certas coincidências que não nos parecem mera obra do acaso.
     Essas considerações, senhores acadêmicos, vieram-me ao pensar no destino que me levou a ocupar, com muita honra, a Cadeira de nº 12, desta Academia, cujo patrono foi um dos maiores estadistas brasileiros de todos os tempos, o inesquecível Juscelino Kubitschek. de Oliveira.

Juscelino Kubitschek - Vida e Obra

     A sua história o eterniza pelo idealismo destacado, pelos seus feitos, pelas suas realizações, pelas suas idéias desenvolvimentistas e progressistas, que merecem destaque pormenorizado em todas as nossas citações. Entretanto, nesta oportunidade me convém destacar, dentre outras tantas vocações, qualidades e virtudes, a importância que sempre deu à cultura, à educação e à valorização intelectual.
     Só a educação poderá promover a liberdade, a dignidade do homem, e permitir, por um processo cultural, a transcendência do conhecimento. Juscelino Kubitschek, nascido aos 12 de setembro de 1.902, era um literato, e preferia viver cercado de exponenciais das letras e da cultura brasileira.
     O seu tempo foi marcado pelo dinamismo cultural, artístico esportivo, pelo otimismo, pelo crescimento da indústria e da construção de um novo tempo sob o Céu do Brasil.

A Origem:

     Filho do Delegado de Polícia João César de Oliveira e da Professora Júlia Kubitschek, Juscelino ficou órfão aos 3 anos de idade. Com muita dificuldade, conseguiu fazer o curso de medicina, profissão que exerceu por vários anos, com brilhantismo.
     Ingressou na vida política pelas mãos do também Delegado de Polícia Benedito Valadares, interventor no governo de Minas Gerais, que o nomeou para a Chefia do seu Gabinete Civil.
     Sua carreira política respeitou uma tramitação hierárquica no poder, lhe permitindo acumular experiência suficiente para chegar à Presidência da República preparado para o cargo.
     Sua trajetória começou pela chefia do Gabinete Civil do Governo de Belo Horizonte, foi eleito prefeito da cidade, deputado federal, senador, foi governador de Minas Gerais, e em todos esses cargos mostrou enorme dinamismo e capacidade de formar equipe de assessores igualmente dinâmicos e brilhantes, a exemplo do arquiteto Oscar Niemayer, do Engenheiro Bernardo Sayão, de Josué Montelo e tantos outros.
     Como Presidente da Republica e fundador de Brasília, nós todos o conhecemos, mas é importante destacar o cidadão Juscelino, pessoa simples, médico respeitado, seresteiro de Diamantina, compositor, cantor, escritor, deixando suas memórias e seus pensamentos registrados através dos livros, dentre eles: Uma Campanha Democrática (1959); A Marcha do Amanhecer (1962); Meu Caminho para Brasília (1975) e Por que Construí Brasília (1975).
     Em junho de 1974 foi eleito membro da Academia Mineira de Letras. Em 18 de junho de 1976 recebeu o troféu "Juca Prado" conferido pela União Brasileira de Escritores, em São Paulo, por ter sido eleito o intelectual do ano de 1975.

A ingratidão

     Num período de turbulência política, após exercer a Presidência da República e já eleito Senador da República pelo Estado de Goiás, Juscelino teve o seu mandato e seus direitos políticos cassados pelo golpe militar, foi preso, exilado e proibido de sequer visitar Brasília, a bela cidade que construíra.

O final da história.

     Curioso de tudo isso é que no dia 9 de agosto de 1976, uma notícia correu o país, dando conta que Juscelino Kubitschek havia morrido num acidente de estrada. Era mentira, agouro, ele estava bem vivo na sua fazenda em Luziânia, próximo de Brasília. Ao saber da falsa notícia, disse aos Jornalistas: "Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram".
     Onze dias depois, no final da tarde de 22 de agosto, 12 dias antes de completar 74 anos, a mesma notícia voltou a circular nos meios de comunicações de todo o País.
     Desta vez era verdade, o ex-presidente havia morrido, às 17:55h, num acidente automobilístico, no quilômetro 165 da via Dutra, quando viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro.
     Na véspera do acidente, Juscelino confidenciou ao Deputado Carlos Murilo: “Democracia neste país, só depois de minha morte, Eles têm muito medo de mim."
     Imperatriz teve o prazer de receber o grande estadista Juscelino Kubitschek, que aqui esteve no dia 25 de janeiro de 1961, quando veio inaugurar a estrada Belém–Brasília.
     Tornou-se patrono da Cadeira 12 da Academia Imperatrizense de Letras, que na data de hoje está sendo ocupada por um Delegado de Polícia, 29 anos depois de sua morte.
     Juscelino tornou-se imortal pelo empreendedorismo que lhe corria nas veias. Progressista, revolucionário, Juscelino promoveu e participou de um momento de espetacular crescimento cultural em todos os campos: na literatura, nas artes na cultura, nos esportes, etc. O nome Juscelino deixou de ser apenas uma identidade e passou a ser uma marca, um símbolo de desenvolvimento, de dinamismo, o marketing do sucesso que até hoje se espalha por todos os cantos desse País.
     Por tudo isso, pela imensa contribuição social que prestou a este País, e especialmente pela sua admiração e dedicação à literatura, o fenômeno central da vida e do espírito, hoje lhe prestamos essa homenagem, dizendo ao saudoso presidente:

 
Nesse louco vagar, nessa marcha perdida,
Tu foste, como o sol, uma fonte de vida:
Cada passo da tua vida era como um caminho aberto!
Cada pouso mudado, uma nova conquista!

     Presidente: Nos devolveram, após longos anos, a democracia que nos fora subtraída. Mas ela nos foi entregue eivada de vícios que não está sendo fácil depurá-la.

     Quanto a Vossa Excelência, Presidente, não houve ainda um outro que ocupasse tanto espaço na memória do teu povo.
     Guardemos nas nossas mentes, a saudade desta noite, de comunhão e de amizade, que harmonizam os nossos destinos na generosidade da participação, adornados pelo manto da ternura, que já nos faz sentir uma outra saudade, a saudade do futuro, que aqui projetamos, para que outros, assim como nós, possam também viver.

Imperatriz, 13 de novembro de 2005.
José Ribeiro de Oliveira
Academia Imperatrizense de Letras-A.I.L.
Professor José Ribeiro de Oliveira
Enviado por Professor José Ribeiro de Oliveira em 08/07/2011
Reeditado em 03/09/2018
Código do texto: T3083013
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