Libelo Brasil
"Os governos é que deveriam temer o povo, não o povo o governo" (V for Vendetta)
Nós, o povo, votamos.
Nós, o povo, portanto, elegemos nossos representantes e deveríamos exigir mais representação de nossos interesses que apenas representatividade política.
Nós, o povo, assistimos, todos os dias, a inércia de entes públicos cuja medida de tempo é diferente da nossa. Pouco fazem com o muito que recebem de todos nós.
Nós, o povo, portanto, deveríamos cobrar a fatura das urnas.
Nós, o povo, convivemos, passivamente, com a inépcia de nossos políticos e de nossa elite (nela incluo-me).
Nós, o povo, portanto, admitimos, lenientemente, entregar, nas mãos de poucos, nosso destino, pois assim é mais cômodo: não repartimos a culpa das coisas.
Nós, o povo, cremos, fielmente, que nosso umbigo esteja sempre mais limpo que o do outro, mas não está.
Nós, o povo, portanto, não deveríamos assumir a corrupção como coisa hedionda, aquela produzida ou sentida pelos políticos, pois temos nosso “jeitinho brasileiro”.
Nós, o povo, banalizamos tudo produzido ou sentido por qualquer um de nós, nas manchetes escritas ou ditas “em escalada”. Desde o tapa no menino até a porrada escancarada em uma maria-da-penha; da bala perdida ao massacre urbano.
Nós, o povo, portanto, não deveríamos correr atrás das autoridades, da polícia, do governador, do presidente, do papa, com o discurso do descaso.
Nós, o povo, reclamamos dos preços da gasolina, do pão, do remédio, da luz, da água, do ônibus, do chuchu, da banana; reclamamos das filas do hospital, do banco, da matrícula. Reclamamos de tudo, enfim!
Nós, o povo, portanto, deveríamos fazer alguma coisa (além de reclamar)!
Nós, o povo, portanto, deveríamos voltar ao primeiro passo e exigir mais representação de nossos interesses por nossos representantes.
Nós, o povo, portanto deveríamos pressionar e cobrar as realizações nos tempos em que elas devem acontecer; exigir competência na ordenação de nossos dinheiros.
Nós, o povo, portanto, deveríamos exigir EDUCAÇÃO a fim de que formássemos massa pensante e pudéssemos reformar nossa CULTURA de passividade.
Nós, o povo, portanto, deveríamos abominar o comportamento do quero-o-meu, do só-dessa-vez, do vai-lá-cara-dá-um-jeito.
Nós, o povo, portanto, deveríamos prestar atenção nas ações e nas pessoas que as sofrem.
Nós, o povo, portanto, deveríamos deixar de comprar aquilo que é supérfluo e encareceu; brigar por baixar o custo de tudo que é essencial.
Nós, o povo, deveríamos lembrar que o governo saiu do povo, pois foi eleito.
Nós, o povo, deveríamos lembrar que o Estado e os governos não podem fazer tudo. Têm que fazer muita coisa, mas muitas outras nós, o povo, temos que assumir, pois somos a maioria.
Alguém deve temer a alguém afinal?