TRATADO DO BOATO

Um dos grandes desafios a que se propunha Van Gogh era retratar através da sua pintura emoções puras em nível de fidelidade expressas pelas cores combinadas com a luz e formas.

Poetas e filósofos empenham-se ao máximo na tarefa de manusear as letras de tal modo que consigam exprimir seus sentimentos e compartilhá-los, fazendo-se entender por intermédio de símbolos lapidados segundo um desejo de aproximar seus interlocutores da realidade de suas percepções.

Escultores, de igual forma, buscam na sua arte o mesmo potencial tradutor de um reducionismo idiossincrático, objetivando uma unidade de entendimento ou uma experiência prazerosa capitaneada pela arte.

Entretanto, nossa realidade por vezes é atravessada pela construção requintada de discursos sobejamente empregnados de uma estrutura familiar mas que se apresenta absurdamente desprovida da fidelidade no seu compromisso com a verdade. A roupagem seduz pela semelhança estrutural da linguagem que é o instrumento comum, servido para construir contextos desprovidos da ética e de uma moral que impede o justo juízo que pesa a circunstância na sua indicação de um direcionamento adequado. Refiro-me ao instituto do “boato”.

O boato é uma das formas mais covardes de violência contra a moral, a credibilidade e a história da sua vítima. Etmologicamente vem do Latim boatus, “mugido, grito” e de bos, “boi”. Boatos são isso, apenas barulho sem compromisso com a realidade dos fatos, desferidos para atingir propósitos, não se importando com a veracidade do seu conteúdo.

Sabidamente, Boatos sempre estiveram a serviço de estratégias espúrias, que buscam conduzir seu alvo para dificuldades criadas pela elaboração de cirurcunstâncias virtuais, provocando stress e exigindo dispêndio de energias para a manutenção da estabilidade ante seus efeitos.

Entretanto, as consequências do boato têm seu potencial de desestruturação inversamente proporcional ao grau de discernimento do público que o recebe, ou seja, quanto menor o amadurecimento dessa classe em termos de juízo crítico e capacidade de raciocínio capazes de analisar, à luz da lógica, a natureza dos elementos envolvidos, maior será o efeito nefasto do boato, independente de ser ou não verossímeis as considerações objeto desse boato.

Por não ser producente a contraposição diante de uma inverdade que é propalada (boato) e recebida por uma mente desacustumada com o exercício do pensar criticamente, é que se recomenda que se evite o embate em torno da questão cerne do boato, visto que se assim o fizer, talvez o único efeito possível seria o de potencializar a sua publicidade. Recomenda-se, em contrapartida, o direcionamento de todos os esforços rumo à normalidade da conduta preconizando a continuidade de atuação.

Nesse sentido, como toda as coisas que não se alicerçam em bases sólidas, o boato há de se esvair pela sua própria natureza inconsistente e vazia. O contrário disso, ou seja, manifestações de defesas pontuais geram sacrifícios que afastam o atingido da sua trajetória, tão necessária às suas exigências, podendo concorrer assim para que o virtual despose trajes concretos, tornando em fatos uma promessa ou uma aspiração pré-concebida.

MARCO ANTONIO BREGONCI
Enviado por MARCO ANTONIO BREGONCI em 27/11/2011
Reeditado em 27/11/2011
Código do texto: T3359876