MEU DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA N. 33 DA ACADEMIA DE LETRAS DE CANHOEIRO DE ITAPEMIRIM

Exmo. Presidente da Academia Cachoeirense de Letras, Dr.Solimar Soares da Silva

Senhores componentes desta mesa.

Senhores Acadêmicos e Acadêmicas

Meus Senhores,

Senhoras.

No princípio era o verbo, e o verbo

estava com Deus e o verbo era Deus.

E o verbo se fez carne e habitou entre nós

(João 1, vs. 1 e 14).

A palavra que melhor define o meu discurso nesta noite é “agradecimento”. Agradecer hoje é o meu dever, dever de acadêmico, dever de cidadão, portanto, agradeço a Deus pela grande alegria que me é concedida neste momento, aos confrades pela confiança, a minha família, aos amigos e a todos os presentes.

É grande a honra que me conferem os acadêmicos ao me admitirem a sua companhia e ao seio desta tão respeitada instituição, por este motivo, ao mesmo tempo em que invade o meu peito uma indescritível alegria, também me é conferida a grande responsabilidade de zelar ainda mais pela palavra escrita e também pela cultura de um modo geral.

O que é uma Academia de Letras senão o espaço de consagração e celebração da PALAVRA? Se o próprio Universo fora concebido primeiramente via verbis, a palavra precisava mesmo ter seus espaços sagrados, seus guardiões, seus rituais de celebração. Desde sempre, nos imensos templos, nas modernas academias, nos saraus, nas esquinas e becos sacralizados pelos poetas vagantes, dos mais clássicos, aos mais boêmios, todos A cantaram na voz dos grandes poetas, de Salomão ao mais humilde, muitos se renderam aos encantos desta dama que todos os segredos desvelam, que todas as malícias esconde, que todas as emoções declara, que todo o desejo expande. Por elas tudo se diz, com elas tudo se esconde: palavras, palavras! Palavras que ferem, palavras que acalmam, palavras que alegram, palavras que dizem o indizível, constroem o mundo.

Confesso não ser fácil a missão de falar entre escritores e poetas, estes que fazem a linguagem ser de plástico, ser de líquido, ser de nuvem de tanto que a contorcem, de tanto que moldam sua aparente concretude, sua frágil rigidez.

De tanto que a fazem escorrer como gotas, esvanecer- se como fumaça, desenhar os movimentos musicais do jazz, com todos os seus improvisos, e, quando se precisa, fazem-na novamente enrijecer-se com a firmeza de uma pirâmide egípcia. Só estes sábios loucos a quem chamamos poetas têm esta coragem de confiscar segredos, ritmos e efeitos que a linguagem esconde.

Eu? Eu Sou apenas um aprendiz, amante da linguagem desde minha infância incentivado que fui por meu pai que cultuava o habito da leitura.

Mas meu olhar para a linguagem e meu vício de querer descobrir a planta, a arquitetura invisível de cada texto, sempre caracterizaram uma postura mais analítica.

Não que eu não escreva; faço - o todos os dias, sobre assuntos diversos e sempre me orgulhei das poesias que escrevo, pelo fato de antes, serem criadas no fundo do meu coração.

A poeticidade nos modos de dizer nos persegue porque poesia tem a ver com vida e com emoção. Assim, mesmo não tendo a pretensão de sermos o melhor, sempre procuramos ser leitores daqueles que consideramos ter este mérito. Por este motivo somos seus leitores, seus expectadores e admiradores...

E aqui acredito ser um espaço de importante diálogo com o fazer literário. Por isso, com muita alegria aceito a Cadeira Nº. 33, e pretendo honrar o escritor e poeta Achilles Vivacqua que nasceu no dia 2 de janeiro de 1900, na cidade de Rio Pardo, atual Muniz Freire, Filho de Etelvina e Antônio Vivacqua.

Aos 20 anos de idade mudou-se para Belo Horizonte.

Naquela capital a sua residência tornou-se palco de reuniões da intelectualidade mineira e tornou-se conhecida como Salão Vivacqua, contando sempre com a presença de CARLOS DRUMOND DE ANDRADE, PEDRO NAVAS, ABGAR RENAUT, dentre outros.

O poeta e escritor Achilles Vivacqua publicou seus trabalhos em revistas e jornais de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santos e outros Estados do país.

No ano de 1928 o poeta e escritor Achilles Vivacqua se consagrou como tal. Isso porque, neste ano, foi lançado o seu livro: SERENIDADE dedicado à avó paterna, dona Margarida Vivacqua.

Em dezembro de 1942 Achilles faleceu vitima de tuberculose.

A poetisa Dina Manhães que ocupou a cadeira Nº. 33 pela última vez, nasceu no município de Cachoeiro de Itapemirim em 9 de julho de 1900. Formou-se pela Escola Normal “Munis Freire”.

Professora, lecionou inicialmente em escolas rurais, passando depois a atuar no Grupo Escolar Bernardino Monteiro.

Foi membro da Associação dos Geógrafos do Brasil.

Poetisa, trovadora, colaborou com os jornais “Correio do Sul”, “ O Arauto” e “Revista Capixaba”.

Antes de falecer em Niterói – Rio de Janeiro, a 26 de janeiro de 1978, organizava um livro

sobre a vida e a obra de Achilles Vivacgua,

No ano de 1992 a Academia Feminina

Espiritosantense de Letras lhe concebeu a homenagem de “MEMBRO IN MEMORIAM”.

Concluindo a nossa fala nesta noite, gostaríamos de lembrar que um grande lingüista e ao mesmo tempo teórico da Literatura chamado Roman Jakobson já dissera que a linguagem interessa em todos os seus aspectos: em estado nascente, em uso, em degeneração, em distúrbios, em seus efeitos poéticos, e em seus conteúdos históricos. Se a arte popular aqui entra, a sociedade e suas variações são objeto de tratamento prestigioso.

Entrando o popular pela linguagem poética, temos a imagem desvelada da cultura de massa, e esta visão da realidade mundana nos dá a possibilidade de reconhecer as várias línguas portuguesas que existem no País.

A mídia eletrônica, impressa e televisionada dão espaço constante para a repetição dos velhos truques gramaticais, enquanto a discussão sobre a língua que o povo fala, na rua, na internet, nas novelas, não é objeto de reflexão institucionalizada.

O discurso dominante ainda é o da gramática, o da métrica perfeita, das formas corretas, puras.

E o povo que não fala correto, e o jovem que está sendo tomado pelo internetês, não têm espaço no mundo da linguagem? O perigo disso é que a exclusão lingüística gera a exclusão social e econômica.

A preservação da cultura erudita é objetivo de valor indiscutível, faz parte do patrimônio histórico cultural de nossa nação, e as Academias têm - no como tarefa precípua, mas todo bom acadêmico sabe que mesmo esta cultura não se faz com o purismo isento da influência popular. Então, salve a linguagem em todas as suas manifestações! É assim que entendo minha presença aqui e este é o espaço conceitual que pretendo representar. Isso é uma maneira de expressar meu jeito de estar no mundo, entendendo que os pequenos falam, cantam, compõem, reivindicam, negam, afirmam, negam-se e afirmam-se. Entendo que não é papel das Academias assumirem as tarefas da escola; e também não podem ser ambientes de preservação do preconceito lingüístico.

Às Academias competem outras tarefas,

além das já mencionadas. E a história mostra que têm desempenhado um papel importante na organização de eventos, na promoção de concursos literários, e outros que servem para divulgar a cultura cachoeirense, capixaba e nacional, despertar o interesse de jovens pela literatura e incentivar a criação de novas agremiações culturais. Porque a importância da arte da palavra é indiscutível. A arte melhora o mundo, reafirma crenças, influencia as épocas e renova os pensares.

Talvez mais felizes fôssemos com um pouco da agudez

intelectual de Machado de Assis, do finíssimo classicismo de Camões, da sensibilidade de Cecília Meireles, da capacidade de virar o mundo ao avesso de Clarice Lispector, do jeito de tirar poesia de onde ninguém mais tirou de Augusto dos Anjos, de dizer da terra, dos pássaros, das formigas, de Manoel de Barros. Todos eles em sua vã luta com as palavras, como diria Drummond. Palavras, sempre elas a nos desafiar; aceitemos, então, este grande desafio!

Muito obrigado!

10 DE SETEMBRO DE 2010