Morte ao Pensamento
Há um desassossego que diz: “Se o coração pensasse, ele
morreria” eu desisti de pensar. Pois ao pensar duas vezes
ou até mesmo uma, você sempre faz a coisa certa. Por isso
quero fazer a coisa errada. O que será pior? Fazer a coisa
certa contra sua vontade ou fazer a coisa errada a favor
de sua vontade? Se o que move a nossa vida são nossos
desejos, se fizermos a coisa certa, não estaremos vivendo,
é um não-viver. Então eu faço a coisa errada. Não penso
mais com a cabeça.
Se para não deixar de pensar totalmente eu resolver pensar
com o coração, vou lembrar da frase: Se o coração
pensasse, ele morreria, e eu não quero morrer. Faço a
coisa errada, não penso e assim existo. Ou melhor, não
penso e assim vivo, pois uma pedra também existe e por não
pensar não deve ser triste. Por só existir, uma pedra não
deve viver e por não viver não deve pensar e por não
pensar deve ser feliz. Ela vive quando você a toca, toque-
me, ela se move, mova-me, ela desliza, deslize-me.
Parecerá loucura tocar a pedra para apenas vê-la se
movendo, mas o que acontece é que ela estará fazendo parte
do seu momento e um momento é tudo na vida, um momento sem
pensar e o medo falha para que minha sombra viva, e uma
sombra viva na parede projeta meu corpo à porta que está
aberta. Se eu pensar serei uma parede que são como todas
as outras paredes, vou pensar igual a todo mundo que o
branco é branco, e a vantagem da pedra sobre a parede é
que a parede não se move, mas a pedra sim. Não quero ser
mais um concreto que saíra do chão, se erguerá, se juntará
ao teto e impedirá a visão do céu. Meu coração não pensa,
meu coração arrisca, pois fazer a coisa certa é fazer o
que os outros esperam, a coisa errada é não esperar que
alguém espere... Mova-se, mova-me. Morte ao pensamento.
Notte Fonda