­Agradecimento pelo título de Pai do Ano 2012 ASPA/UFPA
                                             Sérgio Martins Pandolfo*
 
   Sr. Presidente, caríssimos membros da Diretoria da ASPA, associados, senhores, senhoras.
 
   Cumpro inicialmente agradecer a escolha de meu nome para representar, simbolicamente, o Pai do Ano desta prestigiada Associação, dentre tantos outros que certamente melhor os interpretariam. Poderia, facilitada, cômoda e simplesmente ler o belíssimo texto escrito pelo presidente Ronald Aguiar, constante do boletim deste mês, intitulado Declaração de Bens, que sintetiza, à inteireza, o que é ser pai nos dias presentes, posto que concorde inteiramente com as análises e as observações que lá postou.  
   Esse boletim, que guardarei certamente em gaveta especial de meus arquivos de coisas especialmente valiosas e, também, num dos escaninhos de meu coração, quem sabe um dia meus netos, bisnetos ou descendência mais remota o compulsarão e tomarão ciência de que um dia fui escolhido por meus pares dessa ínclita associação para simbolizar o Pai do Ano. Entretanto, permito-me aqui expender algumas reflexões que tenho feito ao longo da vida, como pessoa, como pai e agora como avô.
    De fato não é tarefa das mais amenas compartir, com a companheira, as responsabilidades de criação e educação dos filhos. Cabe ao homem, desde a primevidade, ser o único ou principal provedor da subsistência financeira do lar, para o que tem de sair de casa cedo, quando as crianças ainda dormem, à faina laboral, voltando muitas vezes somente à noite, quando os filhos estão já a dormir, cabendo historicamente à mulher, a tarefa meritória e inarredável, de orientar a educação dos filhos. Sem ponta de dúvida isso está atualmente um pouco modificado, eis que a mulher moderna, seja por necessidade de complementação orçamentária familiar, seja por necessidade de realização pessoal e profissional, também sai à rua, a competir num mercado de trabalho cada vez mais duro e restritivo.
    Isso, entretanto, não significa necessariamente o abandono de sua sagrada missão de mãe e administradora do lar. E sobre essa assertiva posso opinar de cátedra, pois que me acostumei, desde minha verdoenga infância, a ver minha inesquecível e valorosa mãe, falecida há apenas três anos e ainda muito por todos nós pranteada, a por-se de pé, ainda antemanhã, para as primeiras providencias administrativas da casa, sair em seguida para sua atividade laboral externa, voltando para uma rápida supervisão à hora do almoço, para só voltar de vez à tardinha. Cobrava e supervionava, cedo da noite, os “deveres de casa” – como se chamava então – de cada filho, ensinando e dissecando com cada um, as lições do dia, incentivando-os e exortando-os a seguirem sempre os caminhos da honradez, da responsabilidade e boa conduta, o que, felizmente, parece terem todos assimilado.
    Anos rodados fui constatar, com rara felicidade, que exatamente a mesma coisa iria suceder, por parte de minha mulher, que aqui está como sempre junto a mim, em relação aos nossos três filhos que hoje, criados e encaminhados, seguem suas vidas próprias. Pari passu ao desempenho de suas atividades profissionais da arte de Hipócrates não negligenciava de suas incumbências de mãe e dona de casa.               
     Estamos agora a curtir a segunda geração.
Neto é o filho adocicado, sentido assim pela “diabetose” da madureza. As mulheres são as estrelas guias que iluminam com seu facho de luz os caminhos daqueles que estão sob sua guarda, aí incluído, por óbvias razões, o companheiro. A mulher, dona de imensa fortaleza, não pode perder o dom da delicadeza.
   Mas nessa luta nem sempre fácil, que pressupõe noites indormidas, há momentos de dificuldades extremas, quase inultrapassáveis, que somente a boa razão e o diálogo franco e aberto podem superar. Não podemos nos deixar embevecer pelos eventos adocicados da vida. São os momentos amargos que nos enrijecem o corpo e nos retemperam as energias para vencer as vicissitudes e as adversidades que se nos antepõem. Isso torna mais deleitoso e apetecível o banquete das comemorações, quando olhamos para trás e temos a satisfação de ver que nossos esforços não foram em vão e que, de uma forma ou de outra, contribuímos, com nossa presença e com nossos exemplos, para a boa formação e orientação das gerações que nos sucederam. Tenho certeza que a grande maioria dos pais que aqui estão presentes teve experiências iguais ou parecidas e agora deliciam-se com ver os filhos e netos seguirem, a passo firme, os rumos que lhes foram apontados.
   De minha parte posso asseverar que a vida me tem sido amena, apesar dos muitos agostos que carrego, podendo palmilhar feliz o restelho de vida que ainda me cabe desfrutar.
   Agradeço, uma vez mais, a distinção do aponte do meu nome para o simbolismo desta festiva comemoração, desejando a todos um bom final de semana.

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Alocução proferida na Sessão Festiva da ASPA/UFPA em 18/08/2012,  comemorativa ao Dia dos Pais, no restaurante Estação Gourmet.
*Médico e escritor
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 20/08/2012
Reeditado em 21/08/2012
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