Prometeu acorrentado


Prometeu criou uma fala
Acorrentado por toda a eternidade e por 30 moedas de prata
Gargalhou quando perdeu a máscara
E chorou quando finalmente sucumbiu à verdade.
Morpheu foi testemunha. Coitado! Não merecia!

Eu quase ri da farsa criada por ele,
Quase acreditei no castelo de cartas marcadas
Ele que antes de tudo, é minha flora e fauna psicológicas.
Sou, portanto, espectadora e crítica da minha própria falácia.

Meu fígado está quase exposto.
Palco da ira e do orgulho,
É retalhado um pouco todos os dias e se regenera no seguinte.
Sou, portanto, a protagonista mais dedicada da peça criada
e escrita minuciosamente em tantas noites insones.

Ah, que eu poderia ser apenas Afrodite. Acredita?
Medusa também me serviria.
Mas... Prometeu? E acorrentado?
Não há justiça neste panteão. Decididamente!

Mas não há como me conformar nem com o deslumbramento medíocre da primeira,
Nem com o poder destruidor da segunda.
Sou talvez, parte do sangue de Aquiles.
Talvez a rebeldia insana de Zeus, mas Prometeu?

Cronos é outro que me cobra
Assim como fez aos filhos, me devora todos os dias,
Sem perdão, sem trégua.
E eu, escrava da própria imagem pintada no lago do equívoco
Tenho que sorver, respirar e beijar os doces lábios envenenados
Do próprio Narciso. Do meu próprio umbigo.

Portanto, taberneiro que observa esta fala estúpida e sem sentido
Traga a taça pintada para os dias finais do filósofo
Não crio nada, só copio.
Deixe que eu me encharque de cicuta.
Prefiro morrer livre em espasmos de dor
Que ceder a exigência de quem acha que me domina.

Prometeu? Eia! Nunca mais!


Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 19/09/2012
Reeditado em 19/09/2012
Código do texto: T3890094
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.