Homilia no aniversário da Cidade de Minaçu. Dia 14/05/2006

Amados irmãos e irmãs,

Autoridades dos poderes constituídos,

Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!!

1. Hoje nos reunimos na casa mais importante de nossa Cidade, a Igreja, para o louvor eucarístico dominical. Ouvimos a Palavra de Deus e agora propomos a interiorização do que ouvimos para mergulharmos no Mistério da Consagração e Comunhão Eucarística.

2. Temos dois motivos importantes para apresentar na liturgia deste Quinto Domingo da Páscoa: o dia das mães e o aniversário de nossa querida Minaçu. Aliás, na nossa vida temos muito mais a agradecer do que a pedir. Agradecer pelas nossas mães, sejam elas novas ou idosas, sadias ou doentes, vivas ou mortas; agradecer pela nossa Cidade e nos empenhar, cada um no sentido de cumprir nossa obrigações e deveres, sobretudo com o próximo.

3. O Evangelho de hoje Jesus nos atesta: «Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que dêem mais fruto ainda”. Quão significativa são estas palavras. Este texto nos convida, sugestivamente, a sermos uma nova videira.

4. O texto do evangelho proposto faz parte dos acontecimentos que marcam a despedida de Jesus durante a Ceia (Jo13,1-17). Faz parte do testamento de Jesus, de suas últimas instruções aos seus amigos e amigas, que são muito variadas. No caso do evangelho deste domingo, Jesus fala aos seus do segredo de permanecerem unidos e crescerem, expandindo-se. Novamente nos encontramos diante de uma alegoria que nos apresenta Jesus e seu Pai:“Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor.”

5. Precisamos ter em conta que a videira era o símbolo do povo de Deus no Antigo Testamento (Jr 2,21) plantada pelo mesmo Deus, mas que não deu os frutos que ele esperava: “A vinha de Javé é a casa de Israel, e sua plantação preferida são os homens de Judá. Eu esperava deles o direito e produziram injustiça, esperava justiça e aí estão os gritos de desespero” (Is 5,7).

6. No Novo Testamento, Jesus mesmo se identifica com a videira e seus discípulos e discípulas com os ramos. Dessa maneira, apresenta-nos o novo povo de Deus, que é inaugurado por Jesus e todos os que vivem unidos a Ele (cf. Lume Gentium 6). A comunidade cristã nasce de Jesus morto e ressuscitado, única videira, e cresce sob ação fecunda do Espírito, porque é ele que pelo batismo nos fez nascer do tronco da videira, partícipes de sua natureza, nutrindo-nos de sua seiva, que nos faz desenvolver e dar frutos.

7. O Pai é o agricultor, que planta e cuida da videira com a intenção de fazê-la frutificar. O cuidado do Pai se manifesta no texto por meio da poda. O ciclo do cultivo das videiras, pode nos ajudar a entender melhor este evangelho. O inverno frio deixa sem folhas as árvores, entre elas as videiras. Os que as cultivam cortam os ramos secos e deixam somente o tronco. Quando começa a primavera, aparecem nos troncos ramos pequenos. E ali onde estava o lenho seco, morto, surge a nova vida e os ramos com o calor do sol crescem, a tal ponto que são apoiados em outras madeiras e logo dão fruto! No verão, recolhem-se as gostosas uvas.

8. Tanto na vida pessoal como comunitária, atravessamos tempos de inverno, de frio cujas causas podem ser variadas. O certo, porém, é que assim como no inverno o agricultor não fica parado, mas cuida da videira para que ela volte a produzir frutos, Deus nosso Pai, cuida de nós, de seu povo, para que ele continue crescendo e colaborando na construção de seu Reino. Nos tempos de inverno, acreditamos que Deus está cuidando de nós, ou pensamos que ele nos esqueceu?

9. Em outra parte do evangelho de João, Jesus nos revela que seu Pai e ele trabalham sempre, (Jo. 5,17), ou seja, em todo momento, em qualquer situação, não somente Deus está conosco por meio de seu Espírito, está agindo em nós, trabalhando em sua videira querida!

10. Podemos perguntar-nos como Ele age? Pois bem, dependendo da situação na qual nos encontramos, experimentamos a presença de Deus como consolo, fortaleza, esperança ou também Ele age, movendo-nos ao arrependimento, à conversão, ao perdão... Agora se Deus faz tudo, que fica para nós?

11. E aqui o evangelho é claro: fiquem unidos a mim, fiquem unidos à videira...sete vezes nos repete o mesmo! Permanecer unidos a Jesus, viver em união vital com ele é dom e é a nossa tarefa. Se vivermos em união com Jesus, alimentando-nos da mesma seiva que corre pelo tronco da videira, só nos resta viver como Ele viveu. O Espírito Santo que nos une dinamicamente a Jesus, nos “autoriza”, nos capacita a fazer as mesmas obras que Jesus fez, e maiores ainda!

12. E se ainda sentimos medo do inverno, vem em nosso auxílio as palavras do apóstolo Paulo aos romanos: “O que nos resta dizer? Se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós?... Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes nem as forças das alturas ou das profundidades, nem qualquer outra criatura, nada nos poderá separar do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 8,31.38-39).

13. A experiência de Deus nós a vivenciamos na comunidade, onde Deus revela seus sinais. Minaçu é nossa comunidade, onde devemos fazer a experiência profunda de Deus e do compromisso com nossa família e com todas as pessoas com quem convivemos.

14. A cidade é uma forma de vida coletiva e social, onde emergem os problemas e os desafios. Todos somos responsáveis pelo bom andamento da cidade. Devemos zelar do patrimônio público e natural que a todos pertencem. O respeito pelos vizinhos, o zelos pelos lugares públicos, prédios e avenidas faz parte da vida de um povo civilizado.

15. Hoje temos muito vandalismo na cidade; pessoas que poluem com sujeira, com sons estapafúrdios e impróprios ao bom gosto, a depredação do meio ambiente, etc. Quanto lixo jogado de forma sistemática no lago e nas estradas vicinais. A pesca predatória e o abate de animais silvestre de forma acintosa através das caçadas e esperas nos galhos dos paus, está pondo em risco o desaparecimento de muitas espécies.

16. Na comunidade e na cidade em geral, a base de solidificação do fundamento social é a família, a Igreja e a escola. O Povo deve zelar da família, fomentar a religiosidade e valorizar sobremaneira a escola. Temos na cidade um quadro de funcionários da educação estadual e municipal de grande valor. Lembrem-se, a escola é a extensão da família. Pena que a educação, apesar dos avanços, ainda não é levada tão a serio pelos mandatários das diversas esferas do poder: salários parcos, salas de aulas superlotadas e tantas outras precariedades físicas tem retardado o bom andamento da educação pública aqui e em muitos lugares da nação.

17. De vocês, autoridades dos poderes constituídos, se espera o cumprimento do dever e da lei. Nosso país está enlameado e afundado no calabouço da corrupção que fere a dignidade dos mais simples e necessitados. Lembrem-se, todos nós seremos apresentados um dia diante do Tribunal de Deus, onde nos será pedida a prestação de contas de nossas administrações.

18. Lidar com o bem público exige de nós a ética e a atitude moral no trato com dinheiro do povo. Neste momento em que nossas dignidades são agredidas pelo lamaçal da corrupção que advém da ilha do Poder Central, não podemos esquecer que todos temos o verme que tem corroído a consciência de pessoas de níveis tão elevados: o pecado da ganância. Ao povo cabe a responsabilidade de acompanhar a todos que exercem o poder e o serviço democrático. Somos uma democracia que, embora ainda pobre e insipiente, precisa ser trabalhada e acompanhada.

19. A mãe é ternura, é bondade ética. Neste dia das mães quero recordar o papel da mulher mãe no processo de cada pessoa e de toda a sociedade. O jargão “por traz de uma distinta pessoa sempre há uma mulher” pode ser uma realidade. A melhoria da sociedade e da cidade como todo advém da grandeza de cada mãe que passa valores e dignidade aos seus filhos.

20. Parabéns mães!!! Parabéns Minaçu!!! Que sejamos os ramos da videira que é Cristo para instauramos, na parcimônia da esperança, um novo mundo, tão sonhado e querido por tantas pessoas. Que a soberania do Poder do Ressuscitado, pautada no profundo amor ágape nos seja a indicação do melhor caminho. Amém!!!

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 09/03/2007
Código do texto: T406541