Despedida de um suicida

Decidi voltar atrás

Difícil fazê-lo quando o horizonte inunda os olhos e a alma

Deixo de ser esta carcaça agonizante

dando voltas em torno de idéias mais moribundas

que sorrisos em favelas

Não aceito que a esperança

venha recostar sua pesada cabeça sobre meu colo

distraindo-me ao acariciá-la

para que não veja as mazelas do mundo

Tampouco quero ficar feito ponteiro de

contagiros subindo e descendo ao sabor

de um mecanismo que não sei ao certo

como funciona

Em minha breve passagem

por este arremedo de existência

distanciei-me de mundos

Não pelo desapego, mas pela

fé nas maças da árvore da vida

Maças apodrecem, sonhos morrem

E quando agora o bom em mim

acomoda-se restringindo-se a sua melancólica mediocridade

sinto as teias do tempo desabarem sobre meus ombros

Pilhas de efêmeros sentimentos brotam a minha frente

Sento-me a mesa de espíritos tão iluminados

quanto a mais densa das florestas

e conduzo minha estória

ao abismo do esquecimento