Significância

Eu te amo. Três palavras, sete letras. Uma frase. Um pronome pessoal com um oblíquo átono e um verbo. Um sujeito seguido de um objeto direto e um verbo transitivo. Três sílabas poéticas, comumente usadas agregadas em sonetos e versos alexandrinos. Significam, representam e tentam expressar, todavia consubstanciam nada além das três sílabas poéticas. Vira algo mecânico, torna de algo tão transcendente para a comunhão da física e suas ondas sonoras. É um simples abrir de boca onde emana o ar que é restringido por duas membranas, uma força para passar entre elas que resulta em vibração: eu te amo.

Mecânico. Insensível aos olhos de quem raciocina sua facilidade de emissão. Você impulsiona o ar pelo relaxamento do diafragma, comprime a passagem com as cordas vocais, abre a boca e tudo está resolvido, e tudo são mil maravilhas, e a guerra acaba, o rato abraça o gato, o cavalo vira um real presente à troia e os problemas desaparecem. Mágica? Não, ilusão. Apenas ar. E um ar não forte o suficiente para arremessar os problemas para longe. Um simples sopro – carinhoso admito – que acende uma brasa, que inflama uma chama a qual estava um tanto quanto acalentada, mas que não muda uma raiz, uma árvore de infortúnios, uma pedra no caminho ou um problema.

É apenas ar, um assovio bonitinho. Talvez um pingo no ‘i’, um enfeite ao concluir. Uma pintura artística num prédio; um prédio, esse, construído com bases sólidas de atitudes com maiores valores em joules do que um simples assoprar sonoro, um prédio construído com atitudes que resolvem, que procuram entender, que tentam arredar as pedras, que constroem. O ‘Eu te amo’ é apenas um acabamento artístico. Amar é uma arte, não uma solução. Não se constrói um prédio com tinta. Constrói-se um prédio com suor, com catarse, com atitudes. Eu te amo. Três palavras, sete letras, três sílabas poéticas. Só.

(Matheus Santos Melo)