TALVEZ...

Às vezes acordamos cedo e vemos um filme passar diante dos olhos semiabertos, semifechados. Primeiro vêm as tenras lembranças da primeira infância, muitas vezes bem poucas, vêm aquelas dos primeiros dias na escola, a seleção dos primeiros amigos, a primeira professora... Quase nunca nos lembramos de problemas ou tristezas nessa fase.

E a gente vai crescendo e aprendendo que o mundo possui muito mais do que a cabecinha infantil imagina. Descobrimos que nossos pais sofrem e que não são como os heróis das histórias em quadrinhos, e que os problemas deles são bem mais densos, mas mesmo assim sempre se importam conosco.

Depois, vemos uma fase na qual todos os adultos são chatos e você tem milhares de sonhos. Seus pais são antiquados e você não pode fazer nada. Talvez você tenha crescido em um ambiente em que tudo era pecado e se errasse, adeus Céu. Talvez tenha tido liberdade demais...Talvez você, nessa fase, tenha sonhado muito, mas muito mesmo, e não pudesse realizar seus sonhos. Nela, é comum lembrar-se do primeiro amor, das paixões e amizades conquistadas, dos medos, aventuras e segredos, das brincadeiras de mau gosto dos seus colegas e dos micos, talvez você já pensasse em sexo ou fosse muito inocente, a ponto de “ser” criança por muito tempo, no corpo e nas atitudes... E então você cresce, estuda, se diverte, e essa é a fase na qual mais há lágrimas, tristeza e alegria. É a fase do Tudo.

E o tempo passa, e passa rápido, e você se vê procurando um rumo, ou não procurando nada. E agora você se sente grande: nova fase — aquela de grandes responsabilidades, aquela em que você deve cuidar do seu nariz — E vêm mais sonhos, e vem mais medo, e vem a liberdade de se sentir adulto, de tornar-se responsável por tudo que o cerca. Nessa fase, ter responsabilidade é um dever. Saber se guiar é uma necessidade. Ser justo e honesto é um tipo especial de honra. Nessa fase você tem pouco tempo para muita coisa e mesmo assim dá conta de tudo. Você deseja mudar o mundo e não sabe como, e de repente descobre que precisa analisar seus valores, conceitos, atitudes... Aí sim você encontra a fórmula para mudar um mundo (pelo menos um pouquinho dele). Você se cansa de vez em quando e deixa o quarto em um estado que denomino 'procurando evidência — você quase faz parte do CSI': livros (se você lê) espalhados, umas roupas aqui e ali, tudo ao alcance do seu corpo em estado de meditação na cama, agarrado apaixonadamente a um notebook, celular ou qualquer outra coisa que possibilite acesso à internet. É essa a fase complexa da metamorfose humana, “do faço ou não faço, quero, posso, não posso... preciso me decidir, vou não vou”. Essa é a fase em que você precisa dar um rumo à sua vida e você pensa em fazer um planejamento, mas enrola e nunca faz... Vamos, ela também passa depressa. Talvez você precise mesmo se planejar, porque o resto da sua vida depende dos passos dessa fase. É preciso analisar se os possíveis tombos terão recuperação lenta, rápida ou se levarão a abismos. Também é preciso calcular as probabilidades de sucesso. Aqui é a fase das escolhas. Você precisa dar o primeiro passo e cuidar dos próximos como se fosse um filho, um recém-nascido.

E mais uma vez o tempo não para. Talvez você esteja vivendo o período mais longo da sua vida. Já escolheu seu destino, seu caminho, seu estilo de vida. Complemento da fase anterior, é hora de cuidar dos frutos. Às vezes, tudo parece vazio. É nessa fase que talvez você procure o sentido da vida, tenha crises existenciais ou se sinta quase completamente feliz, busque realizar outros sonhos menores e vai levando... Aqui você talvez se acomode um pouco, fique mais à janela, contemplando o passado e até "vivendo" a vida do outro. Cuidado, "o tempo não para!" De vez em quando é bom sacudir a poeira dos pensamentos e dar um chute nas atitudes. Acreditar no novo é sempre uma necessidade.

E o tempo vai passando, as coisas vão mudando... Talvez você tenha filhos, netos... E quem sabe sua saúde já não seja a mesma, seus hábitos estejam mais concretos e você possua algum sonho... O tempo não parou e não lhe deu espaço para fazer tudo o que queria... e nessa fase talvez você suspire mais do que deveria e resmungue mais do que o necessário...

É o tempo do “E se...”; “Ah, se eu...”, “Quem me dera!”.

Se você tiver filhos, alguns deles tentarão ainda satisfazer seus desejos, outros não. Se você for sozinho, quem sabe tenha alguns poucos amigos com os quais possa falar, chorar ou relembrar o passado (você faz isso todos os dias). Se a saúde vai mal, a cabeça também, talvez, se foram bem organizadas, as outras fases poderão ajudá-lo nesta. É, meu amigo... O tempo não para nunca!

Sabe, o fim se aproxima... Talvez você viva muito mais do que o esperado para a sua idade. Talvez você vá em breve. Agora, você fica à janela, desejando viver mais um pouco, vendo o tempo passar. Acho que deve sorrir, não se lamentar, ser mais alegre e sonhar mais um pouco, afinal, os sonhos colorem nossos rostos e nos deixam mais dispostos. Você teve tempo para fazer tantas coisas, então, não é hora de chorar, pois ainda dá tempo... Cada dia é dia de sorrir. Não podemos voltar no tempo, mas podemos tornar o hoje melhor do que o ontem, afinal, veja quantas coisas você já fez e viveu...

Lucieni B Santos
Enviado por Lucieni B Santos em 02/08/2013
Reeditado em 05/09/2013
Código do texto: T4415938
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