DISCURSO DE POSSE NO IHGC

Novo Membro: Prof. Me. Francinaldo de Jesus Morais

Considerações Iniciais

Por processo que cabe a Diretoria do IHGC, com base no seu Regimento, foi-me destinada a cadeira nº 21, cujo patrono é Cândido José Ribeiro.

Caso referido processo de escolha pudesse ter a interveniência do escolhido, tendo em vista aproximações entre a trajetória do novo membro e a do seu futuro patrono, dificilmente, no meu caso, esta escolha recairia sobre Cândido Ribeiro.

Cândido Ribeiro teve toda a sua trajetória de vida ligada à chamada classe econômica e politicamente dominante (os patrões) enquanto a minha trajetória até aqui carrega as marcas da cultura dos dominados (os operários e camponeses).

Dois maranhenses de Caxias com origens sociais e trajetórias econômicas radicalmente opostas!

Como “aprendiz de historiador”, sei que opções existem, sem que elas necessariamente inviabilizem ou minimizem a importância de cada pesquisa. Como exemplos, cito dois estudiosos da chamada Revolução de 30, no Brasil. Com opções diferentes, os historiadores Boris Fausto (perspectiva das elites dirigentes, “ vencedoras”) e Edgar de Decca (perspectiva dos operários e camponeses, “vencidos”), realizaram trabalhos referenciais sobre esse momento crucial da vida nacional.

Aproximações entre mim, servidor público, professor de História, e o industrial Cândido Ribeiro talvez possam ser verificadas, quanto ao compartilhamento de insatisfações no tocante as amarras econômicas que impedem as forças produtivas se desenvolverem em cada tempo e sociedade. Mas com certeza serão encontradas divergências sobre o controle de quem essas forças produtivas devam está!

Em verdade, devo dizer que, como gesto de justiça, ninguém mais mereceria ser meu patrono que o historiador caxiense Eulálio Leandro. Este, mais responsável que eu próprio por esta honra de está aqui sendo empossado na cadeira 21. Especial reforço para esta posse, também recebi dos 21 interlocutores para quem enviei mensagens por emails com questionamentos sobre como poderei contribuir com o IHGC. [Registro de agradecimento]

Eulálio Leandro é um professor por profissão; um pesquisador por vocação e um apaixonado por Caxias, vivendo uma forma de exílio em São Luis, capital do Maranhão. A convite do professor Eulálio produzi o posfácio do seu livro O Júri da Corte, lançado pela Ética Editora de Imperatriz, principal divulgadora da literatura maranhense. O Júri tem agora lançamento nacional pela Editora Juruá, de Curitiba, no Paraná. [Registro minha admiração por Adalberto Franklin, pela ousadia de manter uma Editora no Maranhão].

Já foi dito que a vida é como ela é e não como gostaríamos que ela fosse. Se é assim, reconheço o patronato de Cândido José Ribeiro e procurarei honrá-lo como possível.

O Caxiense Cândido José Ribeiro

Natural da cidade de Caxias-MA, seus pais foram aqui negociantes e proprietários. O historiador Milson Coutinho, no trabalho Caxienses Ilustres (2002, p. 90-92), não indica com precisão a data de nascimento de Cândido Ribeiro. Oferece a este respeito apenas que” presumivelmente (...) na segunda metade do século XIX” (p. 90). Quanto ao falecimento deste, porém, Coutinho afirma ter ocorrido no dia 31 de julho de 1933, na cidade de São Luis-MA.

A vocação de Cândido Ribeiro para o que chamamos hoje de “empreendedorismo” pode ter sido organizada com a sua vivência na Inglaterra, na cidade de Liverpol, maior centro industrial do seu tempo. O jovem caxiense escolheu seguir para a Inglaterra, diferenciando-se da maioria dos filhos das famílias abastadas brasileiras da época que seguiam o caminho do bacharelado em Direito em São Paulo ou Recife.

De volta ao Brasil, ainda segundo Milson Coutinho (2002), Cândido Ribeiro, fixou-se inicialmente em Caxias. Estando aqui, tratou de adquirir terras e associar-se ao grupo local de industriais do setor têxtil. Em Caxias, seus esforços industriais voltaram-se principalmente para a Industrial Caxiense. Em São Luis, para a Fábrica Santa Amélia, a Usina Santa Rita e a Fábrica Santa Isabel. Atuou, também, em Sobral, no Ceará, onde se associou ao grupo industrial de Ernesto Sabóia, criando a indústria Ernesto & Ribeiro.

Não foi possível saber das ideias de Cândido Ribeiro sobre o movimento operário, suas reivindicações por melhores salários e condições dignas de trabalho e de vida. Igualmente, não pude descobrir o que Cândido pensou sobre a escravidão africana, o trabalho escravo que no Maranhão e, particularmente, em Caxias, foi determinante para a construção das riquezas de famílias de negociantes e proprietários como os Ribeiros.

Em sua terra natal, Caxias-MA., em que pese a importância histórica que parece ter, Milson Coutinho (2002) não registra espaço público dedicado à sua memória. Em São Luis, Coutinho informa existência da Rua Cândido Ribeiro, a antiga Rua das Crioulas.

Espero poder superar as limitadas informações de Coutinho e as minhas, sobre o meu patrono, com o estudo que realizarei da obra Cândido Ribeiro: o maior industrial maranhense dos séculos XIX e XX, dos pesquisadores Célio Gitahy Vaz Sardinha, Maria de Lourdes Ribeiro Guimarães e Marcelo Ribeiro Vaz Sardinha.

Muito obrigado!

Caxias, MA., 10 de dezembro de 2011.

Francinaldo Morais
Enviado por Francinaldo Morais em 08/12/2013
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