Ainda te Lembras?!

Lembras que ter um pai cujo pai perdeu o que restava de uma relação familiar? Ter um pai que cumpria a sua própria promessa e depois encontrou coisas e mais coisas e superou a sua própria promessa, e nunca pareceu estar mais feliz ou mais seguro do que o seu antigo pai fracassado, deixando-te numa espécie de estado selvagem e de vergonha em relação aos teus talentos que ele não encontra nos próprios filhos? Lembra-te desse pai que te ama tanto, mas que quer receber todos os investimentos que ele gastou, todas as vitórias que ele não conquistou, e que não pratiques nenhum erro cujo mesmo tanto cometia contra sua antiga família?

Lembras que as mulheres podem ser tão vulgares em matéria de funções sexuais e evacuatórias do que os próprios homens?

Lembras que é possível entretecer harmonias hipnóticas da psicose que ocultamos ao redor do grito em “mi menor” de um notebook barato ou de um flerte libidinoso no escuro, cantarolando canções antigas enquanto frases são digitadas, e o medo cresce enquanto sorrimos?

Lembras que algumas prostitutas drogadas têm mais dificuldade de deixar a prostituição que as drogas, e a explicação para isso tem que ver com as direções em que flui o dinheiro em resultado de ambos os hábitos?

Lembras que inúmeras pessoas nunca simpatizarão contigo, faça o que você fizer ou não?

Lembras que por mais inteligente que alguém seja, é sempre muito menos inteligente do que possa aparentar?

Lembras que "partilhar" significar "falar", e fazer o inventário de alguém significa às vezes criticar essa mesma pessoa?

Lembras ainda que dormir pode ser uma forma de escape emocional, e com esforço sustentado se pode abusar dessa atividade?

Lembras também que a privação do sono intencional pode ser uma fuga afetiva de que se abuse subconscientemente?

Lembras que as drogas que mais usamos carregam o mesmo embuste paliativo do trabalho, de amar alguém, o consumo abusivo de conversas e de silêncios; a cleptomania nas lojas e nas interações entre os próprios amigos; o sexo desenfreado que não se admite ou que se estampa na testa como flâmulas de vitórias; a abstinência disso ou daquilo, nossa religiosidade paganizada que não preenche nada; a comida nas refeições, a masturbação dos pensamentos e da imaginação? Sempre trocamos um vício por outro que nos seja mais “agradável ou apreciável”?!!

Lembras que estar sozinho não é um fruto funcional da solidão?

Lembras que a realidade lógica não é garantia de verdade alguma encontrada?

Lembras que somos objetos comprado e vendidos todo dia por algo, alguém, independente dos propósitos e condições?

Lembras que ninguém faz nada de graça nesse mundo, e até Deus só recompensa aqueles que o obedecerem?

Lembras que as pessoas más e mesquinhas nunca acham que são más e mesquinhas, mas que todos os outros o são?

Lembras que é possível ainda aprender coisas importantes com pessoas idiotas?

Lembras que é mais fácil uma pessoa de QI baixo deixar um vício do que alguém com o QI alto?

Lembras que várias vezes os seres humanos, para que sintam que ainda estão vivos, precisam se auto-mutilar com as próprias mãos e com os pensamentos afiados como giletes, e sentir que não são meros sacos de vísceras, células e de monotonias?

Lembras que pouco interessa o que os outros pensam de nós quando nos apercebemos, com todo o nosso corpo e alma, da pouca importância que somos todos nós?

Lembras que precisamos dos outros em algum momento, de algum afeto e compreensão, mas nos afastamos quando nossas motivações gritam e predominam?

Lembras que ainda existe um pouco de bondade em estado puro, sem misturas, ainda dormindo dentro de ti minha amiga?

Lembras que muitos viciados numa substância são também viciados em pensar, o que significa que eles mantêm uma relação pouco saudável e compulsiva com o seu próprio pensamento?

Lembras que noventa e nove por certo de nossa atividade mental e psíquica estão a rir e a pregar peças em nossas próprias vidas e atitudes?

Lembras que não é imprescindível praticar sexo com uma pessoa para que ela nos passe a ser tachada de chata e vazia antes do próprio ato sexual?

Lembras que não estamos sozinhos em nossa solidão coletiva, embora cada um pense que seus próprios sofrimentos sentidos e vividos são os únicos na vida de cada um, e não! Não mesmo compreendemos a tristeza alheia? Mentimos, e sem as mentiras a vida seria insuportável?!!!!!

Lembras que é preciso muita coragem pessoal para confessar para si mesmo, e para alguns poucos amigos, sobre como o quão fracos e imbecis nós somos?

Lembras que esse lugar-comum_ “Eu não sei quem sou, e nem o que eu realmente quero” _ acaba por ser mais do que um lugar comum, passa a ser a nossa hospedaria eterna?

Lembras que trepar com alguém de quem não se gosta de verdade gera uma sensação de maior solidão do que se não tivesse feito?

Lembras que até pessoas estúpidas conseguem enxergar em nós coisas de que nem suspeitamos, ou que não queremos ver em nós mesmos?

Lembra-te do quanto é possível abusar da generosidade alheia, e depois fingir que nada aconteceu?

Lembras que quando o barco estiver afundando, não importa o âmbito ou o que seja, cada um busca apenas salvar a si mesmo?

Lembras que “aceitação” de, ou em qualquer coisa ou setor em nossas vidas, é normalmente mais uma questão de cansaço do que outro aspecto que se pense?

Lembras que incontáveis vezes é muito melhor conviver sozinho, num quarto escuro e fétido de misantropias, com baratas nas paredes e no chão as quais não precisam fingir que se importam com as nossas excreções e dores?

Mas tu lembras ainda minha amiga que provavelmente não há anjos nenhum nesse torpe universo, contudo há pessoas que bem podiam ser anjos, e ainda assim elas são anjos em nossas vidas tão miseráveis e simultaneamente bem ornamentadas, porém não conseguimos ou não queremos valorizá-las, seja lá por que razões possamos inventar?!

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 14/01/2014
Reeditado em 15/01/2014
Código do texto: T4649135
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