In-sanidade!

Minha linda sociedade de atores e atrizes abraçando-se e afirmando que são amigos uns dos outros e do mundo; garrafas de cerveja vazias ao lado de corpos vazios, de empregos vazios, de supermercados lotados e vazios, de gavetas entupidas com roupas vazias, de almoços e barulhos de talheres e de mastigações de alimentos, e todos ali sentados polidamente a digerir o vazio substancial e degustativo, com rostos expressivos e indiferentes. Foi verdade, um menino de doze anos se enforcou no quarto depois do divórcio dos pais; certo, nossas abstinências por pênis e por vaginas estão cansados de desejar, e doentes do próprio desejo em si. Por que quanto mais eu penso, menos eu sinto que algo em mim existe? As putas das minhas ideias só me fazem sofrer; a prostituta da Vida me descarta sempre que aparece um novo cliente com maços de dinheiro num carro de luxo.

Busquei uma cama para chorar, mas minhas lágrimas não encontraram nem sequer uma lápide onde eu pudesse depositar e descansar o meu pranto. Nem na buceta da Morte encontrei um gozo de vida, nem uma lágrima de prazer. NADA. Tudo nesse mundo são analgésicos e opiáceos de prazeres curtos que atormentam o inferno das contradições de nossa mente que sempre nos mente constantemente. Colisão de vícios de linguagem tão deturpados e sem coerências assim como meus pés que caminham sem caminhar. Viver é uma overdose contínua e latente que nunca acorda e nunca consegue dormir. Auto-assassinato pandêmico e idiopático em nossos leucócitos para todos os espíritos livres que ainda conseguem pensar. Belos cristãos de carteirinhas de plástico a recitar salmos no coral das igrejas. Todos nos julgam, mas o nosso pior crime, o nosso grande pecado imperdoável é continuar existindo nesse manicômio de ratos endemoninhados que pensam ser alguma coisa evolutiva nesse mundo.

Fidelidade canina, ou com a mãe natureza, ou com os laços sanguíneos no seio familiar? Piada. Todos são traidores desde que somos cuspidos do útero de nossas mães: pague as 30 moedas de prata e eu vendo meu melhor amigo; dá-me logo meus narcóticos que eu deixo você comer minha filhinha nova; se ofertares uma promoção, eu derrubo aquele idiota ali; se me pagares uma boa quantia, eu mato aquela família numa boa; todos competindo contra todos de educadamente nos parâmetros da lei é claro, até as ovelhas justificados pelo sangue do sumo pastor derrubam quem estiver na fila da porta estreita a fim de garantir seu bilhete premiado no paraíso. Pais que odeiam filhos e filhos detestáveis com os próprios pais não são novidades nesse circo de horrores banalizados.

Meu budismo e meu panteísmo com a natureza não acalmam nem um mero vento que dilacera as folhas dos galhos secos de meu íntimo ciclônico. “Coma essa droga de comida pirralho, se não eu enfio essa colher na tua garganta seu viadinho de merda”. A polícia ficou inerte e perplexa ao contemplar a criança que dançava em cima dos cadáveres dos próprios pais_ assassinados a facadas enquanto dormiam pelo próprio filho. Isso será debatido e será manchete nos jornais e na mídia, e nos colégios e nas esquinas e nos bares durante várias semanas.

Tudo nessa vida foi uma droga, tudo continua uma droga. Progresso moral e tecnológico enlatado, etiquetado, exportado, ensinado, devorado, e sempre andando agora de mãos dadas com a neurociência são os novos lixos necessários! Pode ser. Somos os filhos bastardos da História, dos deuses antigos, do Tempo, do Cosmo, de nossas ações, ou de qualquer baboseira teórica. Somos canibais com quem até amamos. Somos necrófilos com os sentimentos que não queremos que ninguém descubra. Por que essa porra dessa dor nunca se cala na cela do meu ser? Por quê? Ausência de harmonia?! Harmonia é evitar não pensar e não enxergar as coisas como elas de fato sempre foram, e ainda continuarão sendo: essas coisas incógnitas de merda e tão absurdas que não fazem a porra de nenhum sentido algum, até que um idiota chegue e insira nelas algum valor significativo, valores esses são apenas coleiras, cadeados, e correntes nos pescoços de nosso arbítrio que é um vírus terminal em nossas vidas, é uma montanha de mentiras em nossas costas, em nossas consciências ensaboadas, promíscuas e animalescas.

Vamos, rasgue as calcinhas na marra dos fatos, e verás as feridas gonorreicas e sifilíticas das essências superficiais das coisas, e de tudo. Vamos, quebrem os copos, quebrem as escrivaninhas, chutem as cadeiras, cortem as árvores, queimem os livros, mande qualquer um que apareça pro inferno, mas faça alguma pelo amor de Deus, faça algo que desperta essa tua sonolência que nunca acorda em tua alma. Sim, ainda há o amor. O AMOR?? O amor é uma camisinha de látex comprada em qualquer farmácia ou comércio: basta saber desembalar, usar, se divertir, jogar fora e depois ir até a geladeira e tomar um pouco de refrigerante diet. Esses viciados em vitórias, viciados em trabalho, viciados em ritos religiosos, viciados em debates e ateísmos fajutos, viciados em depressões e em sentir pena de si mesmos; viciados em beleza, em guerras, em dinheiro, em buscar conflitos em si mesmos; viciados no próprio vício em querer o querer ou o não-querer cada vez mais intensificados ou reprimidos, como ascéticos no gozo divino e sadomasoquista dos martírios da própria alma e do próprio corpo vilipendiados. Onde estão vossos demônios e vossos anjos em vossos desertos espirituais, a fim de que vocês, messias psicóticos de si mesmos, possam ser tentados e depois servidos, e assim possam descobrir quem são vocês e quais suas missões nesse mundo esquecido pelo próprio universo? Onde estão? Sempre estão em algum lugar, não é? As ligações moleculares e atômicas são mais reais do que a constitucionalizadas interações e ligações entre esses primatas humanos? What have I become? My sweetest friend everyone i know goes away in the end. I can't face the evening straight, you can offer me escape, but I can`t keep up, release me my friend? Why?

Quanto mais me aproximo das pessoas e de suas construções e progressos mais nojo tenho de mim mesmo, e mais quero me distanciar de todos, até de mim. Autonegação voluntária do subconsciente hostil e hostilizado? O circo do nosso Psicanalismo barato é mais ambíguo do que as ancestrais ambivalências humanas? Quero pensar e viver ao máximo sem saber que penso que estou a pensar e a viver, mesmo que eu nunca tenha pensado ou vivido. A vadia da Neurose me oferece sexo e cocaína de graça, como se isso, ou outra coisa qualquer, fossem narcotizar e fechar para sempre as angústias de minhas cicatrizes internas. Deixa a luz apagada como sempre tu me fizeste meu leal amigo. Quero segurar minha insanidade com os olhos fechados! O que foi isso? Quem está aí? Diga logo...

Esperem, eu sinto... Eu posso sentir, e é algo indescritível, porém eu sinto, tenho certeza disso: os sinos da capela do amor divino e incompreensivelmente humano ainda batem e pulsam em minha sombria alma errante.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 17/01/2014
Reeditado em 17/01/2014
Código do texto: T4652882
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