CARACTERÍSTICAS DO ÊXODO RURAL EM ÁGUAS BELAS – PE

Na abertura do ano letivo de 2014, na última terça-feira, no discurso de abertura a secretária de Educação, professora Roseane falou sobre as dificuldades encontradas na pasta da educação do município, apesar dos notórios avanços, em lidar com um problema que não é exclusivo do município de Águas Belas e que exige uma nova perspectiva de planejamento: o êxodo rural. Mas o que é este fenômeno e Como se dá? Por que? Quando começou a ocorrer em nosso município? Estas perguntas me vieram à cabeça pensando, a partir da visão da população, que para alguns estes termos possam até soar de maneira estranha.

Pois bem, para deixar um pouco mais claro este termo além do meu singelo conhecimento, fui em busca de um especialista no meio rural e que já atua em nosso município a mais de 30 anos, doutor Marcos do Instituto Agrônomo de Pernambuco – IPA, que em uma rica conversa que travamos passou-me alguns dados que serão de fundamental importância para o entendimento deste fenômeno humano.

Portanto, podemos entender como êxodo rural a migração humana, que antes habitava e desenvolvia suas atividades produtivas no campo e, que por inúmeros fatores, passam a migrar em direção as zonas urbanas, tanto para lá habitarem, quanto para desenvolver atividades produtivas. Ou seja, os trabalhadores rurais que por diversas questões saem do seu meio, de seu habitat natural, por não poderem mais continuar aí, mudam-se para os povoados e cidades mais próximas, ou para os grandes centros. Causando um alargamento das periferias nas zonas urbanas, uma vez que a situação financeira destes retirantes não dar conta de arcar com os preços de melhores imóveis.

Entre as diversas causas que levam estas pessoas a saírem de seus lugares de origem, estão às severas condições climáticas existentes, principalmente no nordeste. Mais soma-se a isto os fatores humanos, estes que por sua vez vem acompanhados de uma ausência de infraestrutura que dê condições ao homem do campo de continuar a produzir em seu ambiente ou o fechamento deste agricultor ou pecuarista a novas técnicas (o que a meu ver torna-se ainda mais grave), pois eu pergunto quantos deixam em suas propriedades a porcentagem mínima de 20% (segundo o decreto 6.514 de 2008) de mata nativa exigida por lei? Também inclui nos aspectos de ordem humana a descaracterização da cultura social do campo: muitos hoje não querem ser mais campesinos, serem conhecidos como agricultores.

Estes aspectos humanos interferem de maneira direta nos aspectos climáticos, temos desta forma uma grande perda, que vem aumentando a cada dia: a diminuição das chuvas, ou sua má distribuição que são um resultado de nossas ações de degradação contra a natureza. Voltando aos levantamentos realizados por dr. Marcos junto ao IPA, destaco o levantamento de precipitação pluviométrica (que significa a ocorrência de chuvas) em nossa região. Isso traz uma ideia mais clara do que vem acontecendo em nossa região, por exemplo, entre a década de 1970 e 1980 o município de Águas Belas era o maior produtor de feijão do estado de Pernambuco (segundo dados do IPA), com uma precipitação (taxa de chuva) de 170mm nos meses de produção que inicia de abril até julho, neste mesmo período no ano de 1985 foi de 132mm, em 1995 de 109mm, em 2005 um ligeiro aumento para 174mm, em 2012 foi de apenas 35mm e em 2013 de 60mm. A diferença entre 1975 ano da primeira medição para 2013 é uma queda de 110mm, ou seja, choveu apenas 30% do valor da primeira medição.

Situações de urgência requer soluções também de urgências, que muitas vezes são paliativas mas necessárias, sendo isto uma gestão e não um planejamento de determinada situação. Lógico que isso não exclui (nem deve excluir) a necessidade de um planejamento para um combate do êxodo rural, que se faz necessário... um planejamento sério e comprometido, embasado na vivência do homem no meio rural. Uma das saídas a longo prazo segundo o técnico do IPA seria o crédito rural orientado, onde além da compra o trabalhador teria uma orientação não só na compra, como na infraestrutura do ambiente para dar continuidade a sua produção. Já há projetos deste gênero nos âmbitos da esfera governamental tanto federal quanto municipal, no entanto a expansão destes meios é extremamente necessária para mudança desta realidade. Temos visto a abertura do crédito para os produtores rurais, mais que ainda deixa a desejar, compartilho do pensamento de dr. Marcos: quando veremos um pequeno agricultor com condições de crédito suficientes para comprar seu próprio trator? Outra saída seria a abertura de pequenas indústrias de beneficiamento da produção agrícola, esta que já existe em outras localidades e que tem dado certo.

A saída como sempre está porém na educação, pois é nela que recai nossas esperanças, ela sozinha não poderá resolver, mais sem o agir dela torna-se impossível. Talvez quando mudarmos nossa consciência, quando soubermos cuidar de nossos campos como se fosse nossas casas: sem destruir, sem queimar, sem prender seus habitantes e nossos irmãos animais, sem matar... Pois quando matamos a natureza, estamos praticando um homicídios e ao mesmo tempo um suicídio. Saibamos também a nos organizar a produzir de maneira sustentável, a estarmos abertos a novas técnicas que venham a aproveitar o que já temos. Olhar para nossa região, ver o que ela já foi sem a organização que temos hoje, imagine o que ela poderá produzir! Agora para isso temos que desenvolver uma identidade com a nossa região, se somos do campo temos que ter orgulho e cuidarmos daquilo que Deus nos confiou, se somos da cidade devemos aprender a viver sem desperdícios, sem preconceitos, sem maltratar o meio ambiente e nosso próximo.

Se isso fizermos conseguiremos acabar não só com o êxodo rural, mais com tantos e tantos males do que sofre a nossa sociedade.

Ildebrand Gutemberg
Enviado por Ildebrand Gutemberg em 15/02/2014
Código do texto: T4692996
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