Imundisse

Uma coisa me assusta há muito tempo... Muito, muito tempo.

Passava eu pela rua com um copinho de sorvete, quando avistamos (isso, eu e outra pessoa) algumas crianças revirando o lixo (também não sei se eram crianças, o que se entende por crianças e adolescentes hoje em dia é completamente confuso, enfim é uma outra discussão).

Vimos então as criancinhas ali, remexendo em tudo, abrindo sacolas e entrando dentro para pegar alguma coisa de comer... Comer.

Até que ouvimos: "ei moço! me dê um pouco disso aí!, claro, demos. Mas aí é o ponto, a pessoa que estava comigo deu, logo eu também dei, porém, ele deu todo o pote para elas e eu, uma colherzinha para cada uma, na boquinha de cada uma, o mesmo tanto para não dar briga e depois continuei comendo o sorvete que estava uma delícia e, percebam, ainda estou vivo.

Depois que demos os sorvetes, a pessoa me disse: "Thiago, você é doido? Não pode fazer isso não cara, dar sorvete na boca e depois comer. É perigoso..."

Vocês não fazem idéia do quanto isso ecoou dentro de minha cabeça, qual o raio de distância isto alcançou. Não fazem idéia.

Pus-me logo a pensar, analisar, refletir, concluir e julgar. Se existia algo que estava próximo a me contaminar e me poluir, seria isto, a pessoa ao meu lado. Não demorou 30 segundos para esta análise.

Pus-me a pensar então: "será que eu não me atento muito pra esses pequenos detalhes, que mais são voltados para onde não deve do que para onde deve, será que eu amo demais as pessoas para não ter tempo de julgar se uma coisa ínfima me faria mal? Será que eu sou tão igual, mas tão igual a qualquer um, que não dá tempo para notar as diferenças? Ainda mais diferenças que não existem, negativas e destrutivas? Será que eu não consigo ter o maldito preconceito?"...

Resumindo...

Fiquei puto.

Isso só aumenta minha decepção com o terrível humano...