Discurso de posse do acadêmico Edmilton Bezerra Torres na Academia Pesqueirense de Letras e Artes, em 19 de julho de 2014.

Excelentíssimo presidente da Academia Pesqueirense de Letras e Artes, Sr. Sebastião Gomes Fernandes.
Ilustres componentes da mesa.
Autoridades presentes.
Senhoras e senhores acadêmicos.
Queridos familiares e amigos.
Minhas senhoras, meus senhores.
Boa noite e obrigado pela presença de cada um de vocês.

Senhoras e senhores,
Dizem que a melhor parte de um discurso é quando ele acaba, inclusive para quem discursa. Por isso lhes peço um pouco de paciência antes de podermos saborear esse momento.
Muitas coisas boas aconteceram na minha vida de forma não planejada. A minha entrada na Academia Pesqueirense de Letras e Artes é a mais recente.
Até a divulgação do edital para ocupação das cadeiras vagas na academia, eu nunca havia ambicionado concorrer a uma delas, porque, apesar de escrever poemas e eventualmente algumas crônicas, não me sentia qualificado para tal.
Há cerca de três anos, também sem nenhum planejamento prévio, tornei-me membro da Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira, onde comecei a divulgar os meus poemas, e foi a partir daí, que passei a receber incentivos, tanto por parte de membros da APLA, como de colegas da SOPOESPES, para candidatar-me a uma das cadeiras vagas, quando fosse deflagrado o processo de provimento.
Os incentivos aumentaram após a publicação do edital, mesmo assim eu hesitava, aceitando inscrever-me nos momentos finais do prazo. Inscrevi-me, mas não esperava ser um dos escolhidos, pois julgava que havia candidatos mais qualificados do que eu.
Uma vez escolhido, procurei reprimir a vaidade, pois senti o peso da responsabilidade de ter sido selecionado entre outros candidatos que, imagino, eram bastante qualificados.
Neste momento de honra e orgulho para mim, em que tomo posse na Academia Pesqueirense de Letras e Artes, faço uma breve homenagem, ainda que postumamente, à pessoa que mais contribuiu para a minha formação moral e intelectual, pela sua determinação e pelo seu exemplo. Um matuto lá do Sítio Capim Grosso, chamado Martinho Firmino Torres – O meu pai.
Nascido no comecinho do século 20, numa época em que, mesmo para os habitantes da cidade, estudar era um privilégio de poucos, imaginem para um agricultor que nasceu e residiu grande parte da sua vida na zona rural.
Entretanto, o meu pai venceu vários obstáculos e, de forma praticamente autodidata, instruiu-se a ponto de não passar vergonha diante de nenhum interlocutor.
Quando nasceram os seus primeiros filhos, mudou-se para a cidade a fim de que os mesmos pudessem estudar, e como assalariado da Fábrica Peixe, mesmo passando diversas privações, não recuou do objetivo de educar uma família bem numerosa, 11 filhos, chegando até a vender o sítio para ajudar nas despesas.
Dele herdei, além de honra e caráter, o dom e o gosto pela poesia. O meu pai foi o primeiro poeta que eu conheci.
Se hoje vivo estivesse, sei que ele estaria muito orgulhoso por ver-me ocupar uma cadeira nesta conceituada entidade cultural, assim como estão orgulhosos, a minha amada família e os queridos amigos que aqui vieram me prestigiar.
Porém, maior que a vaidade pessoal de ocupar uma cadeira nesta academia, deve ser a responsabilidade por fazer parte desta plêiade. Aqueles que ambicionarem fazer parte desta instituição devem ter sempre presentes, o dever e a responsabilidade por um projeto permanente de desenvolvimento cultural da sociedade em que ela se insere, mas para isso, é necessário que nós acadêmicos, assumamos uma postura proativa, emprestando o nosso gosto pela cultura e as nossas energias, em defesa da cultura pesqueirense.
Doravante, passarei a ocupar a cadeira nº 8 da APLA, comprometido desde já, a ser um soldado desse exército cultural.
A Cadeira nº 8 da Academia Pesqueirense de Letras e Artes tem como patrono, o professor, geógrafo e literato Hilton Sette, nascido no Recife em 30/07/1911 e falecido em 20/12/1997 aos 86 anos.
Se eu fosse falar, neste momento, sobre a vida e a obra desse grande homem, sem omitir fatos relevantes da sua trajetória, não me sobraria tempo para abordar outros temas , por isso farei um breve resumo, pois foram quase 86 anos de um trabalho profícuo em prol do magistério, da literatura e da pesquisa científica.
Filho do escritor Mario Sette e de Maria Laura Maia Sette, desde menino já escrevia histórias que eram publicadas na revista infantil carioca “O Tico-tico” e no “Recreio da Petizada”, a sua congênere recifense.
Graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, mas nunca exerceu a carreira jurídica, pois sua verdadeira vocação sempre foi o magistério. Foi funcionário público, professor, autor de livros didáticos e de divulgação científica, geógrafo e escritor ficcionista.
Como professor de geografia e história, lecionou em quase todos os colégios particulares do Recife e nas mais importantes faculdades e universidades de Pernambuco.
De professor a autor de livros didáticos foi um passo, escrevendo e publicando junto com Manoel Correia de Andrade, vários compêndios de Geografia Geral e Geografia do Brasil.
Participou de várias pesquisas no campo geográfico, que serviram de base para publicação de diversos ensaios geográficos e em 1956, lançou a Tese com a qual conquistou a vaga de Efetivo da Cadeira de Geografia do Brasil do Colégio Estadual de Pernambuco, intitulada: “Pesqueira – Aspectos de sua Geografia Urbana e de suas Inter-relações Regionais”.
Em 16/11/1987 foi eleito para a Cadeira nº 9 da Academia Pernambucana de Letras, tomando posse em 04/02/1988.
Como literato ficcionista, apesar de graves problemas de visão, publicou diversas obras, sendo a última “Restos de Tacho”, uma coleção de contos dedicados à sua companheira Lúcia, em 1995, profetizando, talvez, com esse título, que essas seriam suas últimas histórias.
Considerando a exuberante bagagem intelectual de Hilton Sette, comprovada de forma inconteste na sua vasta obra literária, tendo, inclusive, contribuído para a divulgação dos aspectos geográficos da cidade de Pesqueira, a sua escolha para patrono da Cadeira nº 8 da Academia Pesqueirense de Letras e Artes, foi mais do que merecida e queira Deus, os seus ocupantes possam receber as bênçãos espirituais desse mestre, para dignificar a sua ocupação.

Senhoras e senhores.
Dos cinco novos acadêmicos que hoje serão empossados, serei o único a ocupar uma cadeira, cujo antecessor não é falecido - o jornalista, consultor de comunicação e marketing, ensaísta, crítico literário, filólogo, escritor e poeta Flavio Ricardo Chaves Gomes, que abdicou em vida, do direito que lhe fora outorgado.
Flávio Chaves iniciou a vida literária aos 25 anos, quando publicou o livro de poesias “Digitais do Coração”. Desde então teve diversos trabalhos publicados regularmente em jornais e revistas do país.
É filiado à União Brasileira de Escritores – Secção de Pernambuco, onde exerceu a presidência por oito anos e é membro de várias academias de letras, entre elas, a Academia Pernambucana de Letras, a Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro e a Academia Recifense de Letras.
Publicou diversas obras literárias, em sua maioria livros de poesia, recebendo várias condecorações de órgãos ligados à cultura e às artes, pela qualidade da sua obra.
Além dos cargos ocupados na UBE/PE, ocupou cargos de destaque na FUNDARPE, na Associação de Imprensa de Pernambuco, no Sindicato dos Escritores e Secretaria de Governo do estado.
Também foi fundador e editor de jornais e colunista do Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco, além de ter sido vice-prefeito de Carpina/PE, sua cidade natal, de 1997 a 2000.
Como acabamos de ouvir, senhoras e senhores, o ex-acadêmico pesqueirense Flávio Chaves, tem um currículo invejável. É um homem de múltiplas tarefas e, talvez por isso, não tenha conseguido conciliar as suas diversas atribuições, com as de membro desta academia, o que justificaria o seu afastamento.
Mas isto é passado, agora estou eu aqui assumindo a responsabilidade de substituir esse grande vulto da literatura pernambucana, com um currículo modestíssimo se comparado ao dele. Mas eu nunca pretendi comparar-me a qualquer pessoa. O que me trouxe a esta digna instituição foi esse meu modesto currículo.
Vós, ilustres acadêmicos, me escolhestes pelo que sou; um esforçado aprendiz de poeta, reconhecendo mérito nos meus escritos, e sou-vos grato por terdes confiado os vossos votos a mim, para, doravante, ombrear com os confrades e confreiras neste templo cultural.
Ocupando a Cadeira nº 8 da Academia Pesqueirense de Letras e Artes, não ostentarei o brilho curricular do meu antecessor nem do meu patrono, mas colocarei a minha inteligência e as minhas energias para dignificar os votos recebidos e lutar pelo engrandecimento desta instituição.
Muito obrigado a todos pela atenção.


 
Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 02/08/2014
Reeditado em 02/08/2014
Código do texto: T4907268
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