Conferência Internacional do Medo

Última noite

Primeiramente, informo que minha fala é rápida,

Pois gostaria de, nesta noite, somente lhes falar sobre o medo.

O medo de estar aqui, de estar entre vocês.

O medo de que me olhem e se assustem com minha humanidade.

O medo de que reclamem por eu ser homem junto a vocês, homens.

O medo, tão-somente o medo de eu sair daqui disparado

Pela mínima vaia ou mesmo por alguma expressão de descontentamento.

O medo de eu me esconder em casa, trancafiar-me no banheiro

E me olhar no espelho e constatar que sou de fato homem.

A minha humanidade me assusta e sou condenado a ostentar esta máscara

Até que eu seja enfim enterrado por outros homens.

Tenho medo da sombra: seremos sempre perseguidos por ela.

E, no meio de uma multidão de homens, uma comunhão de sombras

Que se entrelaçam e se misturam.

Ao fim de nosso encontro, cada um carregará a sua.

À noite, elas descansam no seu mundo de trevas;

Nós, homens, dormimos com nossos medos,

O grande medo de acordar e ainda sermos essa humanidade.

Os cães nos lambem por medo, os gatos nos ignoram por asco.

Sozinhos, choramos sob a luz do primeiro instante;

Sozinhos, lamentamos sob a escuridão do último.

No entremeio dessas pontas, foi montado um palco de bonecos

E assim funcionamos pelo medo.

Eu, aqui, os vejo para confirmar o que digo,

Com o medo estampado na cara hepática.

O coração acelera, os membros doem, sentimo-nos desconfortáveis.

Somos homens.

Eu, aqui, sinto medo de encerrar minha fala,

Porque falando, vocês se calam.

Mas tenho de encerrá-la e vocês se levantarão altivos

E me saudarão com palmas e lágrimas de homens,

E, com medo, agradecerei.

Tom Lazarus
Enviado por Tom Lazarus em 23/05/2007
Reeditado em 24/05/2007
Código do texto: T498074
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