Conferência Internacional do Medo
Última noite
Primeiramente, informo que minha fala é rápida,
Pois gostaria de, nesta noite, somente lhes falar sobre o medo.
O medo de estar aqui, de estar entre vocês.
O medo de que me olhem e se assustem com minha humanidade.
O medo de que reclamem por eu ser homem junto a vocês, homens.
O medo, tão-somente o medo de eu sair daqui disparado
Pela mínima vaia ou mesmo por alguma expressão de descontentamento.
O medo de eu me esconder em casa, trancafiar-me no banheiro
E me olhar no espelho e constatar que sou de fato homem.
A minha humanidade me assusta e sou condenado a ostentar esta máscara
Até que eu seja enfim enterrado por outros homens.
Tenho medo da sombra: seremos sempre perseguidos por ela.
E, no meio de uma multidão de homens, uma comunhão de sombras
Que se entrelaçam e se misturam.
Ao fim de nosso encontro, cada um carregará a sua.
À noite, elas descansam no seu mundo de trevas;
Nós, homens, dormimos com nossos medos,
O grande medo de acordar e ainda sermos essa humanidade.
Os cães nos lambem por medo, os gatos nos ignoram por asco.
Sozinhos, choramos sob a luz do primeiro instante;
Sozinhos, lamentamos sob a escuridão do último.
No entremeio dessas pontas, foi montado um palco de bonecos
E assim funcionamos pelo medo.
Eu, aqui, os vejo para confirmar o que digo,
Com o medo estampado na cara hepática.
O coração acelera, os membros doem, sentimo-nos desconfortáveis.
Somos homens.
Eu, aqui, sinto medo de encerrar minha fala,
Porque falando, vocês se calam.
Mas tenho de encerrá-la e vocês se levantarão altivos
E me saudarão com palmas e lágrimas de homens,
E, com medo, agradecerei.