Discurso não feito, texto não escrito

Eu sou um petista, ou, fui, acho. Afinal, o partido surgiu das camadas mais pobres, falando em inclusão social e ética, duas coisas boas que me sensibilizaram. Seu discurso inflamado e militância aguerrida me fizeram a cabeça, era uma marcha cívica rumo à justiça social.

Acostumei com a ideia que meus líderes sabiam tudo, e muitas vezes aplaudi seus discursos veementes sem pensar, raciocinar; pois, ter a última palavra, de preferência de acusação, era mais importante que ter razão. Aliás, a sensação de subjugar o oponente é a “razão” da paixão, e eu estava apaixonado pela causa.

Nunca precisei da bandeira brasileira para passeatas, bastava a vermelhinha do partido. Afinal, meu sonho era maior que essa coisa xenófoba de pátria, era a disseminação internacional do “socialismo”.

Agora, porém, deparo com as ruas tomadas pelas cores pátrias, e um estrondoso, “Fora PT” que preciso tentar entender. Quem é o culpado disso tudo? Meus líderes sempre me ensinaram a dividir a coisa em dois lados; ricos contra pobres; heteros contra gays; negros contra brancos, patrões contra empregados... por isso, um lado deve ser bom, o outro, “marvado”.

Meu partido, disseram, é dos pobres, dos negros, dos gays, dos empregados... Contudo, a maioria das lideranças petistas enriqueceu à farta no poder, de modo que são patrões, negros são minoria entre eles, gays também... Quisera entender... Isso faria de meus líderes representantes dos opositores petistas? Eles seriam o mesmo que combatem?

Ou será que eles me drogaram com discursos mentirosos de modo que perdi o tino. Eles falam mal da imprensa que seria “Golpista”; o que demandaria que essa veiculasse mentiras contra o PT. Mas, a lei vigente não faculta a reparação dos injuriados, caluniados? Por quê não pleiteiam contra eventuais inverdades nos tribunais, invés de proporem o “controle social da mídia” nome palatável que dão à censura. Se é a sociedade que escolhe os rumos da mídia, não basta o controle remoto para cambiar de eventual canal tendencioso?

Por quê, quando o justiça lhes bate à porta desmascarando roubos bilionários eles se dizem perseguidos políticos? Por quê, quando a sociedade organizada clama por menos Estado, menos PT, indicam ao STF um “militante” vermelho invés de um jurista imparcial?

Será que as pífias conquistas sociais tão alardeadas justificam essa roubalheira toda? Se, o comunismo fracassou na Europa, Cuba, Venezuela, por quê seria bem sucedido por aqui? Tá certo que fui beneficiado com o financiamento de minha casa própria, e conheço alguns que obtiveram benefícios pontuais, concessões oficiais, mas, pensando bem, isso foi feito com dinheiro público, não do PT; gerir a coisa pública era seu trabalho no poder, e bem gerir no interesse dos cidadãos, não fazer uso disso como fosse propriedade do partido, ou, justificativa para perpetuá-los no poder, roubando a torto e a direito.

Se trocentas testemunhas os acusam e eles negam, por quê insisto em acreditar ainda neles? Não sei. Acho que, no fundo, não acredito. Mas, fiz tantos discursos em sua defesa, da “causa”, que quando os defendo, defendo meu passado, minhas escolhas erradas, meu petismo.

Mesmo as consequências de sua incompetência e improbidade batendo em meus bolsos, preciso defendê-los, afinal, aprendi que, mais importante que a verdade é a pose; que o teor é tom da voz; que a razão é ter a última palavra... Porra! Acho que estou definhando de petismo...