Homilia na Ordenação Presbiteral de Renato Oliveira

Dom Adair José Guimarães

Homilia na Ordenação Presbiteral de Renato Oliveira

Goianésia – Go. 19/12/2015

Amados irmãos e irmãs,

O Senhor Jesus nos convida a doar nossas vidas pelo Reino.

01.Dentro da liturgia deste IV Domingo do Advento, a Igreja se alegra com a ordenação de mais um sacerdote para o serviço ministerial na Diocese de Rubiataba e Mozarlândia. A ordenação de um padre é motivo de festa e júbilo para toda a Igreja. Nestes tempos exigentes, mais do que nunca, necessitamos de sacerdotes que respondam humana, pastoral e espiritualmente aos grandes desafios que pesam sobre a humanidade inteira. Desta feita, caro ordinando, viva com intensa alegria o imperativo de Jesus que tomaste como lema de sua ordenação sacerdotal: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 27).

02.A primeira leitura nos alenta com a certeza de que fomos escolhidos por Deus: “Antes de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações” (Jr 1,4). O sacerdote é um escolhido especial de Deus, separado, cuidado e amparado por Ele para “ser Cristo entre os homens”, como enviado seu. Esta é a da vida do padre, cuja existência toda é marcada pela Unção Sacerdotal, decorrente da primeira Unção do Santo Batismo. O Sacerdote católico é o homem que existe para fazer a vontade de Deus e ensinar as pessoas a fazerem o mesmo.

03.Existimos para louvar a Deus e realizar sua vontade no ordinário de cada dia de nossa vida, seja nos trabalhos e ofícios mais simples e nos mais complexos que forem reservados no nosso caminho. Nossas atividades sacerdotes devem estar acompanhadas da alegria do sacerdote que serve com alegria e amor. O amor do padre não se dirige às criaturas, mas a Deus. Assim como Nossa Senhora trouxe no seu seio o Cristo e o apresentou ao mundo com alegria, o sacerdote é o homem que apresenta Cristo com sua vida, com seus gestos e com sua oração ao mundo de todos os tempos.

03.Todo sacerdote é tirado do meio do povo para servir ao povo, escutamos na segunda leitura. Antes de tudo o bom sacerdote sabe no dia de sua vida, até no momento de sua morte, dizer com o Apóstolo Pedro, “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” e terás sempre a proposição de Jesus no coração: “Apascenta as minhas ovelhas”. Bela a missão do sacerdote: apascentar, cuidar, conduzir, elevar, ungir, perdoar, orar, celebrar e se entregar sem reservas. O Salmo 22 é uma oração do Patriarca Davi que exalta a “Deus como Pastor dos homens”. “O Senhor é o meu pastor, nada me falta”. Quanta suavidade, beleza e proteção podemos notar neste salmo. O padre é pastor, legítimo pastor, investido com a autoridade amorosa de Jesus.

04.Santo Agostinho, no seu longo sermão sobre os “maus pastores” não teve piedade de elencar as desgraças que recaem sobre a vida dos pastores que não apascentam o rebanho, mas busca apenas os seus interesses. A partir das exortações do Profeta Ezequiel sobre os maus pastores de Israel, Agostinho dirige palavras duras contra os, sacerdotes, bispos e padres, que apascentam os seus interesses e não os do rebanho. A Igreja sempre foi vítima de pastores que não deram ou dão bons exemplos de homens pobres, humildes e castos no serviço do pastoreio. Triste é a vida de sacerdotes que apascentaram seus interesses e não os de Cristo. A imoralidade na vida do clero, em todos sentidos sempre foi a lepra da Igreja. Pecados que bradam aos céus. Na história da Igreja de Goiás não são poucos os sacerdotes que morreram e deixaram atrás de si somente bens materiais ajuntados de forma impróprias, famas, glórias mundanas, pecados abomináveis, um evidente contraste com o que Cristo quer de seus sacerdotes. Os padres precisam pensar como vão morrer e se apresentar diante de Deus. Ao receber o Sacramento da Ordem o padre deve pedir a santidade de vida e lutar por isso com jejuns, orações e sacrifícios.

05.Tanto a Palavra de Deus, quanto Santo Agostinho e Santa Catarina de Sena, são implacáveis com os sacerdotes que procedem de forma má, cuidando dos seus interesses, dos seus prazeres e não das necessidades das almas. Também a Sagrada Escritura, bem como os santos citados, são longânimes ao exaltar as virtudes do sacerdote que cumpre seu dever e, como apaixonado por Deus, apaixona as almas por Ele. A Igreja tem uma plêiade de sacerdotes santos no céu, pois passaram por este mundo fazendo o bem. Quantos padres santos que deram a vida em nossa região. São muitos! Deus os conhece, nem sempre nós os conhecemos tão bem como conhecemos os maus exemplos dos poucos que foram ou são infiéis. Parece até que as coisas ruins marcam mais do que as coisas boas. Mas precisamos fazer memória de grandes homens do clero goiano que abriram caminhos, nos quais hoje percorremos: Pe. Pelágio, Cônego Trindade, Dom Alano, Pe. Jesus, Dom Prada, Pe. Luiz Olabarieta, Pe. Valetim, Mons. Juarez dos Passos, Pe. Lourenço, Mons. Zezinho, Dom Victor, Pe. Vicente, Mons. Linconl e tantos outros de venerável memória.

04.No último dia 12 de junho, em Roma, aconteceu o encontro mundial de sacerdotes e o Papa Francisco conversou com os sacerdotes por duas horas a fio. Qual foi o ensinamento do Papa aos padres naquele dia. Disse o Pontífice que a Igreja precisa de sacerdotes apaixonados por Jesus Cristo. Elencou, ademais, a realidade e os vários desafios da vida sacerdotal, além de responder a algumas perguntas dos sacerdotes.

05. “O sacerdote, disse, à medida que vai andando no amor com Jesus, sente o carinho de seu Mestre de maneira distinta. E o busca, o comunica e o ama com carícias renovadas. Amem, deixem-se amar, abram o coração a Ele”. Da mesma forma que um homem e uma mulher não deixa de falar de sua paixão quando estão apaixonados, um padre apaixonado por Jesus se deixa notar. “Quando um sacerdote é apaixonado por Jesus se nota, se reconhece, se vê esse amor que é transmitido constantemente”. Eu acrescento que isso se torna mais visível quando o padre celebra piedosamente a liturgia, quando passa momentos longos diante do Sacrário da Capela da Paróquia e o povo passa, entra e sai da capela, e lá está o padre, absorto na oração. Quanta edificação!!! Lamentavelmente nem sempre o povo nos vê a rezar. Não basta o povo nos ver correndo, fazendo, administrando, é preciso que nossas ovelhas saibam e vejam que nós, seus pastores, falamos-lhes de Deus porque falamos com Deus. É notório o vazio de uma homilia sem ser preparada ou rezada. O padre, a exemplo de Moisés, deve falar com Deus e ao descer do monte da oração, ter o rosto brilhante para ajudar a apontar o caminho da luz e da verdade ao rebanho sedento. O padre deve ser sempre padre e mais nada, simplesmente padre, pobre, casto e obediente.

06.E não basta contemplar Jesus, disse o Papa, é preciso que os padres se deixem contemplar por Jesus. Às vezes essa pode ser uma tarefa difícil quando os padres estão cansados, com problemas, de forma que podem até acabar cochilando diante do Sacrário. Mas nesses momentos, disse, Deus olha para os padres como um pai que olha para o filho dormindo. “Se você dorme diante do Santíssimo não se preocupe, mas vá até o Tabernáculo, não deixe de ir”.

07.Francisco enfatizou que os padres são chamados a ser como Jesus, amar sem limites, em todas as circunstâncias. Algo que o entristece, por exemplo, é quando ele vê um padre se recusar a dar o Batismo a uma criança recém-nascida porque ela é filha de mãe solteira ou de um pai de segunda união. “O batismo não pode ser negado a ninguém. Por favor, que isso fique marcado em seus corações. Não aterrorizem o povo de Deus, não os façam fugir. Ninguém me contou isso, eu vi (…) Por favor, uma Igreja sem Jesus e sem misericórdia, não”. Com atitudes assim, o Papa explicou que a Igreja se torna madrasta, em vez de ser mãe. “Por favor, façam as pessoas sentirem que a Igreja é sempre mãe”.

08.O padre deve ser sempre o agente número um da Misericórdia Divina. Quanta alegria as pessoas sentem ao serem acolhidas pelo padre, ao receber uma sua visita em sua casa, ao serem confortadas com a absolvição de seus pecados ou alimentadas com a força da esperança com a Unção dos Enfermos. O padre não é um homem melhor do que os outros homens, mas um homem diferente, pois realiza o que os outros não podem realizar. Deve ser diferente no seu modo de agir, no seu modo de conduzir os negócios da Igreja, na maneira como trata os funcionários e colaboradores da paróquia e na maneira de vestir e de se apresentar.

09.Caro ordinando, caros diáconos e seminaristas, a crise do mundo e da Igreja, consequentemente a crise do clero, não deve servir de álibi para que vivamos de qualquer jeito nosso ministério e a nossa fé e muito menos deve ser um desestimulo aos que estão na formação para o ministério. A Igreja sempre está em reforma e vem sempre da parte dos leigos e, particularmente, dos jovens. Estamos num momento de urgente reforma dos costumes na Igreja, sobressaltada pelos vendilhões do relativismo, do liberalismo e do secularismo crescente nos últimos 100 anos que coloca o homem no centro com seus prazeres e satisfações transitórias, enquanto Deus é colocado na periferia ou simplesmente ignorado. Os sinais dessa reforma está evidente em todos os cantos do mundo através de jovens que desejam viver autenticamente sua fé como a Igreja sempre nos transmitiu. De dentro desse movimento de renovação universal para a autenticidade e a verdade, Deus está chamando jovens ao sacerdócio, à vida religiosa e ao matrimônio de forma santa, autêntica e profética.

10.A renovação da Igreja sempre ocorreu com sofrimentos e dores, portanto, os que a encampam terão pela frente uma estrada de sofrimento, dada a estruturação do subjetivismo da fé e das estruturas antropocêntricas que roubaram o lugar do Pantocratur, do Cristo como Senhor e Kirios e levaram a Igreja pelos caminhos do relativismo e da similaridade com as realidades passageiras da história. O Papa Francisco já denunciou isso atestando com veemência que “a Igreja não é uma ONG”. Não é de se estranhar que as pessoas que desejam uma vida autêntica, maior aprofundamento na oração e no conhecimento da fé, muitas vezes são rechaçadas até mesmo por bispos e sacerdotes contaminados pelo relativismo teológico, ético e religioso, como várias vezes o Papa Emérito, Bento XVI destacou no seu magistério.

11.Ingavelmente vivemos um tempo de desafios, mas também de esperança para a Igreja e para o mundo. Evidentemente que da atual geração da Igreja não se espera muito, dado os vícios e contaminação com os métodos truncados e ineficazes para a evangelização e santificação do povo de Deus, além dos desvarios na vivência e no testemunho. A esperança está nas novas gerações que virão, no novo clero que o Espírito Santo está suscitando nestes tempos, podemos aguardar um renascimento da fé, da pastoral, da santidade que o Papa Francisco tem postulado como “uma Igreja em saída” que vá ao encontro das pessoas com a autenticidade dos seus pastores que devem dar o exemplo de pobreza, humildade e santidade. O Papa nos tem chamado a atenção sobre a pobreza e o desapego dos bens e sobre o perigo do carreirismo. Ademais, severamente Francisco nos tem advertido, a nós sacerdotes, para que ao invés de ficarmos viajando para lá e para cá, que viajemos dentro de nós mesmos através da oração e em busca das ovelhas perdidas.

12.Desejo ao novo padre um ministério fecundo com os grandes valores da fé, em profunda unidade com a Igreja, representada pelos Bispos em comunhão com o Papa. 13.Que a virgem Nossa Senhora da Glória, nossa excelsa Padroeira da Diocese de Rubiataba e Mozarlândia, interceda pelo novo sacerdote a fim de que viva com intensa alegria seu ministério em favor do Povo de Deus. A sua vitória, meu caro ordinando, está na vivência dos três amores do bom padres: o rosário, o confessionário e o sacrário. Nestas três fontes santas, santificará sua vida com a pobreza, a castidade e a obediência e no final da vida terás a morte santa e a salvação eterna. Importa isso e mais nada, pois aqui está a essência do que é ser um padre que agrada a Deus e leva o seu povo a fazer o mesmo. Amém!

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 01/01/2016
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