"Não vai haver golpe!" Será?

Não vai haver golpe.

Será?

Muitas pessoas que me conhecem, sabem que evito entrar em discussões políticas voltadas ao partidarismo. Acho perda de tempo discutir e brigar por ideologias alheias, mas diante de vários fatos que estamos presenciando em nosso país, resolvi traçar algumas linhas sobre política, abordando uma frase que muito se está falando, ou por concordar, ou por discordar: “Não vai ter golpe!”

Deparamo-nos com essa frase todos os dias. “Não vai ter golpe!”

Golpe de que? De qual tentativa de golpe se fala? Quem dará esse golpe?

Será a esquerda desmoralizada invocando seus direitos? Ou a direita sem ética tentando se passar pela salvadora da pátria? Serão as “centro qualquer coisa” indo na direção que lhes convém, com seus conchavos partidários?

Independente do que aconteça com nossa pátria, de quem será o protagonista desse golpe, acredito que muitas coisas têm passado despercebidas.

Diante do que vejo retomo tal pensamento: “Não vai ter golpe!”

Acredito sim que não teremos um golpe...

Temos sim “golpes”. Todos os dias temos golpes!

Temos um golpe quando a população se divide em classes sociais; quando um país se separa entre ricos e miseráveis; quando o local onde se nasce seja motivo de chacotas e discriminação. Temos um golpe todo dia, quando o “diferente” é diminuído.

Temos um golpe todo dia, quando a Carta Magna é desrespeitada; quando as leis são para poucos; quando o pensamento de Getúlio Vargas se torna verdadeiro: “Aos amigos, a lei; aos inimigos, os rigores da lei!”; quando a constituição fala que não haverá Tribunal de exceção, mas os políticos corruptos são julgados pela Turma do STF e o cidadão comum por um único juiz, nos estados. Temos um santo golpe todo dia, quando políticos são beneficiados mesmo em uma condenação.

Temos golpe quando a maior empresa do país é surrupiada; quando a merenda não chega às escolas, pois a verba se perdeu em um bolso; quando os trens do metrô foram superfaturados; quando a refinaria indesejada foi comprada a preço de ouro, ouro negro; quando a maior cidade da nação pinta faixas vermelhas nas ruas, que vão de lugar nenhum para nenhum lugar e diz que são quilômetros de ciclovias; quando a educação e a saúde pública estão em último plano, na cidade, no estado e no país. Temos golpe quando a administração pública inventa algo para consolar o cidadão.

Temos um golpe quando encontramos defensores ferrenhos de partidos políticos, se esbofeteando pelas ideologias que nos levam ao caos; quando vemos pessoas agredindo outras só por pensarem diferentemente; quando corruptos condenados são defendidos cegamente; quando só nos faltam as armas para que sejamos iguais aos países que vivem em guerras civis; quando pessoas lutam, matam ou morrem defendendo o indefensável. Temos um golpe quando partidos políticos se tornam maiores que nossa dignidade.

Temos um duro golpe quando as pessoas saem para passeatas pensando que defendem seu país, mas acabam por defender partidos; quando uma passeata se torna motivo de desavenças entre pessoas comuns. Temos um duro golpe quando nossa nação está se dividindo.

Temos o tão amargo golpe, quando um político vai a um programa de entrevistas e diz que a população deveria questionar os altos salários de empresários e não o “monástico” pagamento de deputados; quando um político renuncia para não ser cassado e é reeleito nas próximas eleições; quando um corrupto é condenado, mas não devolve o dinheiro que recebeu ilegalmente; quando uma empresa é responsável pelo maior acidente ambiental do país e continua a operar e é a responsável por investigar; quando nossa floresta amazônica é desmatada; quando nossos índios são assassinados. Temos o tão amargo golpe quando os interesses de poucos se tornam prioridade em desfavor de muitos.

Temos um golpe ferrenho quando a população tem de matar um leão por dia para sobreviver; quando políticos, “dignos representantes do povo”, vivem com altos salários, verba de gabinete, auxílio paletó, verbas de passagens, auxílio moradia e etcéteras; quando o povo paga impostos para sustentar seus “eleitos”; quando tais eleitos só se lembram do povo sofrido em época de eleições; quando políticos enriquecem e o povo empobrece. Temos um golpe ferrenho quando o povo é tão somente massa de manobra eleitoreira

Temos um golpe direto quando o governo estadual manda a polícia agredir estudantes, por discordarem da reorganização escolar; quando professores recebem salários ridículos; quando a prefeitura desativa inúmeras unidades de saúde, sem dizer o motivo; quando o governo federal investe milhões de reais em obras inacabadas. Temos um golpe direto quando escutamos inverdades, ditas como verdadeiras realizações dos executivos, seja municipal, estadual ou federal... e muita gente acredita.

Temos o golpe dolorido, doido no peito quando nosso país, imenso e lindo, acaba se tornando vários diante dos desmandos da política partidária e interesseira, que coloca a população em conflito consigo mesma.

Temos um golpe quando pessoas referendam Brecht e seu “Analfabeto Político” somente por terem lido sem nunca entender a essência desse escrito.

De fato, “Não vai ter golpe!”, pois os golpes já são distribuídos gratuitamente. Temos o golpe de esquerda, o golpe de direita e o golpe do centro.