DISCURSO COLAÇÃO DE GRAU EM PSICOLOGIA (ABRIL 2016)

Apoiado na estatura de gigantes, até o mais distante dos horizontes torna-se visível. Parafrasear quem nos precedeu é trilhar por caminhos pavimentados. Contradizê-los é ousar-se ao desconhecido. Gabriel Garcia Márquez disse, em certa ocasião: eu não vim aqui fazer um discurso... Eu sim! Vim discursar porque sou isso. Sou discurso. Todos somos. A palavra é a primeira das matérias. É o verbo a espera de ser carne e a letra que precede a vida. A criação surgiu da palavra, quando tudo ainda era treva a voz da onipotência determinou que houvesse luz. E assim foi feito. Entre verdade e literatura, o sagrado ou a falácia: o discurso!... É ele que muda o mundo, muda o homem, faz dele gente... Certa feita, conta a história, um judeu barbado morreu crucificado pelo discurso que escolheu fazer. Dentre muitas coisas, disse que a palavra curava. Um outro, séculos depois, escandalizaria seu tempo dizendo de outra forma, a mesma coisa. No frigir dos ovos, na crença ou no avesso, tudo é discurso... Portanto, sim, eu vim fazer um discurso! Contar uma história que conta outra e fazer uso do exercício de ressignificar.

No século XVI, quando a Coroa Espanhola invadiu a America Latina, os espanhóis, não só desconheciam o lugar que acabavam de aportar, como o povo que habitava nele e seu jeito fazer pontes. Diante da profundidade dos desfiladeiros e a impossibilidade do acesso, a mão do povo tecia corda. Entrelaçava fios e fazia laço. Do arbusto que vestia a terra e calçava o pé: a passagem, a ponte, o caminho!

O recorte citado nos empresta hoje seu simbolismo e poesia. Estamos aqui porque abismos foram vencidos. Sairemos daqui para um mundo de outros tantos. Tal como o povo que não silenciou o passo, temos hoje o privilégio do mesmo desafio. Com silêncio e escuta, a oportunidade de tecer pontes e vencer abismos. A psicologia que traz a palavra, também a acolhe. Uma ponte tecida a muitas mãos, fios feitos da matéria que nos faz gente. Fios que tecemos até chegar aqui. O primeiro dia “do outro lado”, os primeiros passos em novas terras.

O momento é de celebrar e agradecer. Mestres, família, amigos e quem mais o coração julgar de direito. O afeto também sabe fazer seus laços! Boas lembranças já foram produzidas e é justo o sofrer que virá. Não há boa relação que não reclame uma saudade!

Bons tempos foram os de nossa graduação! Pareceu imenso no começo, mas passou mais rápido que devia. Os primeiros dias ainda são memórias recentes, como se tivesse sido um “ontem” que acabou de acabar. Um “ontem” que desconstruiu certezas, levando consigo algumas dúvidas e deixando outras tantas. Na chegada fomos questionados: “por que você está aqui?” As respostas foram muitas, as razões também. O que nos trouxe já não importa tanto como o que nos fez permanecer. O que manteve o verbo no gerúndio... caminhando, tecendo, seguindo em frente.

Não quero me alongar demais, não posso. Já sorri, agradeci e celebrei. É hora de ir... A vida que nunca para está ali nos esperando, munidos de pequenas coragens vamos seguindo, tecendo fios, vencendo abismos.