Prostituição sutil.

Há muito tempo eu queria escrever sobre o assunto, mas protelava por medo de ser mal interpretada. Em uma sociedade que tem por hábito julgar a classe feminina, principalmente quando se trata de uma prostituta, escrever sobre ela com um olhar compreensível e até mesmo compassivo, pode não ter uma boa recepção por parte do público. Mesmo assim, insisto. Mas não me refiro àquela profissional que vende o corpo a vários clientes em um prostíbulo com hora marcada. Hoje quero falar para aquela mulher, moça, menina, que namora ou está casada, mas não por amor. Quero falar daquela mulher que escolheu aquele homem não porque ele tem um sorriso que a deixa sem chão, mas sim porque ele tem na carteira algo que a deixa nas nuvens. Ele não é especial porque seu abraço é o melhor lugar onde ela queira estar. Ele é especial porque a deixa segura, financeiramente.

Quantas prostitutas do lar há por aí? São mulheres que, se agissem de acordo com as vontades de seus corações, jamais teriam escolhido seus maridos ou companheiros atuais. Mas poder ficar em casa sem precisar trabalhar fora nem estudar lhes pareceu mais atraente do que esperar para conhecer seu verdadeiro amor para dizer o "sim". Ou pior: muitas vezes trocam seus amores por uma vida comprada. E juram que saíram no lucro. O que elas não sabem, ou pelo menos podem demorar a perceber, é que esse tipo de negócio é muito caro e nada vantajoso para elas. Elas entram em uma prisão, não por vontade própria, mas pelo apego a bens materiais, conforto e comodidade. Abdicam de suas vidas, literalmente.

Foi-se o tempo em que as mulheres precisavam casar com um homem que tivesse condições de lhes garantir a sobrevivência. Durante muito tempo, a figura do marido significava segurança, estabilidade e conforto. Nossas bisavós sabem muito bem do que estou falando. Atualmente, uma das maiores conquistas na vida moderna foi, sem dúvida, a inserção da mulher no mercado de trabalho. A independência financeira trouxe a liberdade em vários sentidos: Liberdade para trabalhar. Trabalhando, liberdade de escolha e decisão. Liberdade é você poder adquirir aquilo que quiser, a hora que quiser, com o seu dinheiro, à custa do seu trabalho. Liberdade é você dividir a cama com uma companhia agradável. É você sentir prazer em beijar a boca do parceiro, que pode estar com gosto de chiclete, maçã ou café. não importa. O dono da boca é quem você gosta. É quem você escolheu por quem é, não pelo que tem. Liberdade é você saber que não trabalha fora por outros motivos que não porque se vende. Será que vale a pena deitar-se com um homem, mesmo que só de vez em quando, só porque ele te paga? E beijar na boca? Para mim, é o ato mais íntimo que pode haver entre duas pessoas. É preciso, no mínimo, gostar, sentir atração por quem se beija. Valorizar o corpo não é colocar preço. Já ouvi muitas mulheres afirmarem em alto e bom tom: "Eu não dou de graça!" Mas quem disse que o sexo é gratuito? Esse é um momento de troca de prazeres, os dois são beneficiados. A única coisa que se dá, ou melhor, se troca, é carinho, prazer. Ou ao menos é assim que devia ser. Já ouvi uma mãe dizer na frente da filha de dez anos: "De hoje em diante só quero homem para tirar dinheiro!" Olhe o exemplo! Sinto repulsa diante de discursos desse tipo.

Nesse universo de prostituição sutil há de um lado, uma mulher que se vende, e do outro, um homem que a compra. Ambos vítimas do sistema capitalista. Ela porque acha que seu corpo é um objeto que se comercializa, moeda de troca. Ele porque tem o poder aquisitivo e acha que pode comprar tudo. Os dois são infelizes, mas ela é mais. Sim, porque ele, embora tenha consciência da compra, mesmo que finja não perceber ou até mesmo se orgulhe disso, a escolheu. Nutre por ela um sentimento. Talvez até a ame. Ela não. Ela ama os presente que ganha dele. Mas não o ama. Quando muito, aprende a gostar, acostuma-se.

Se eu tivesse que atribuir a culpa a um dos dois pela infelicidade de ambos, principalmente a dela, certamente culparia a ele, porque das vítimas, ela é a mais prejudicada, ainda que não reconheça ou admita. Se um dia ela tomar consciência disso, em vez de culpar-se, vai odiá-lo para sempre.

Fico imaginando a infinidade de ocasiões que essas esposas/namoradas/amantes perderam. Quando se ama, até sentar-se à mesa para um café é um momento mágico. A troca de carinho, ouvir o som da voz, dormir agarradinho, passear de mãos dadas, tomar banho juntinhos, os beijos e braços gratuitos, olho no olho... tudo com quem se ama é incrível, inexplicável.

Se você ficar com alguém por amor, corre o risco de se apaixonar, de ser feliz, de se decepcionar, de sofrer, de chorar, de sorrir, de morrer de raiva, ou de saudade. Corre o risco de ter o relacionamento rompido, e de se lançar outras vezes em outros amores. Sim, já dizia o cantor e poeta Raul Seixas que: "Ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez. Uma vez!" O amor é uma fonte de energia inesgotável. Graças a Deus, ele pode acontecer várias vezes. Cada experiência pode ser uma lição.

Enfim, se você escolher seus relacionamentos por amor, corre o risco de viver. E essa é a verdadeira liberdade. Arrisque-se! Não existe liberdade maior do que ser dona de si mesma.

Joalice Dias Amorim (Jô)
Enviado por Joalice Dias Amorim (Jô) em 11/07/2016
Reeditado em 02/08/2016
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