"Pokemon Go" já fazendo suas vítimas

É bom que todos observem de olhos e mente aberta sobre o que está fazendo esse "joguinho" Pokemon Go, na mente das pessoas. O fato a seguir foi real, aconteceu na cidade de Porto Velho, capital de RONDÔNIA.

DEFRONTE AO CAMPO SANTO

“As almas: algumas penadas, outras nem tanto, todas livres, desimpedidas e sem fronteiras se revezando entre as dores dos adeuses derradeiros, as mangas verdes e a recente e viciadora caça ao Pokémon.”

Na tarde de ontem, de pé e atento defronte o Cemitério dos Inocentes no centro da cidade, sob escaldante sol e calor insuportável, envolto pela densa e incômoda névoa enfumaçada, quase rasteira, uma envenenada nuvem que nesses agostos malucos nos atingem os “zóios”, a garganta, os pulmões e a saúde como um todo, saldo das criminosas queimadas, aguardávamos o sepultamento do agora saudoso amigo Edivá Mota (o Tota) ex-jogador de futebol do Botafogo, Vasco e Ypiranga daqui de Porto Velho. Logo mais o corpo desceria uma sepultura daquele campo santo sem muro e sem fronteiras, cujas valiosas imaterialidades das memórias dos que ali descansam - entre anônimos e notáveis - sejam preservadas.

Depois que parte do muro frontal do cemitério desabou e amarrotou a lataria de alguns veículos estacionados, a intimidade silenciosa da derradeira morada ficou escancaradamente exposta, exibindo coisas que sequer imaginávamos lá dentro existir. Agora não mais as pessoas que adentravam para catar ou apanhar apetitosas mangas em tempo de farta safra e saboreá-las ali mesmo na sombra da frondosa árvore, sentados à beira das sepulturas, recostados nas cruzes.

Essas mangas, quando verdes ou “de vez”, ou seja, antes de ficarem maduras, eram recolhidas para depois, num pires meado com sal, ser um dos prediletos e apreciáveis petiscos ou tira-gostos para afamados e categorizados bebedores de cachaça da redondeza. Nós mesmos, quando do nosso “debut etílico” houvemos de provar até com certo ímpeto o drink (a cachaça) e seu nobre acompanhamento (sal e manga verde). Aquilo, porém, se dava sem a atividade da nociva depredação das sepulturas e objetos, o que hoje muito se vê.

Ao curso dos tempos os “catadores” de manga minguaram e deram vez aos “caçadores.” Caçadores? Isso mesmo, caçadores de Pokémon, vício virtual do momento que acomete crianças, jovens e até marmanjos. Ali no cemitério essa mania esparramou-se em plano mesmo de como acontece em forte expansão nas combalidas e descuidadas praças, ruas parques e outros locais públicos da nossa tão judiada e injustiçada cidade porto.

Enquanto mais de cem pessoas, entre amigos e parentes, dolorosamente serpenteavam os túmulos até o local onde depositariam o ataúde com o corpo do amigo Tota, eis que na contra mão ao cortejo mais de dez desenfreados e esbaforidos capturadores virtuais de elite, alheios e indiferentes ao triste “aqui jaz”, transpunham desrespeitosamente os sarcófagos pisando em castiçais, arranjos de flores, lápides com gravuras apontando as miras potentes dos seus celulares de última geração, agora nas vezes de armas infalíveis, para a exitosa captura daquele bichinho feio, o tal Pokémon.

Pelo que a mente constrói, sugere e impõe como permissiva viagem, a falta do muro, o limite físico e fronteiriço entre o mundo dos viventes e o sossegado paraíso dos mortos, algumas tantas almas mais afoitas, devem olhar adiante a liberdade horizontalmente espraiada e se aventuram em tour diário pela Rua Gal. Osório até alcançar a efervescente 7 de setembro. Quando não, se empreendem em bordejos pelo Mocambo e arrabaldes, como a querer saber donde veio essa história de caçar o Pokémon em pleno cemitério.

Com aquela sacanagem toda, as inquietas e festivas almas dos saudosos amigos Manelão, o general da Banda do Vai Quem Quer ali sepultado com emoções, honras e cerimoniais carnavalescos, do neguinho Orlando Pereira Machado (Orlando Estácio) e, também, a do poeta maranhense Joaquim “Vespasiano Ramos”, dentre outros, que lá deitaram pro repouso eterno e que, a essa altura, devem estar elevadamente enfezadas de serem pisoteadas em seus peitos pelos atiradores virtuais em alta temporada de caça.

A primeira vista, um simples e "inocente" jogo de celular, mas o que está acontecendo com quem joga não é nada saudável.

"No fututo a tecnologia ultrapassará a interação humana, e o mundo terá uma geração de idiotas."

(Albert Eisten, físico judeu e, o maior cientista da História).

Fabinho Oliveira
Enviado por Fabinho Oliveira em 28/08/2016
Reeditado em 28/08/2016
Código do texto: T5743036
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