Fugindo de mim.

Desculpem-me, mas não aguento mais viver assim!

Essa vida que estou levando tornou-se uma prisão e todas as cobranças sociais e familiares me sufocam, tudo me faz sofrer, e até aqui, no seio da minha família, que seria o lugar dos risos, alegrias e da cumplicidade, tenho ainda mais cobranças; coisas do passado mais remoto, e também, dum passado nem tão distante, sempre são trazidas à tona, são jogados na minha cara para me diminuir e me fazer sentir ainda pior do que já sou e estou.

Vejo pessoas sempre sorrindo, companheiras, agradáveis, ajudando-se mutuamente, ouvindo-se, acolhendo-se, e gostaria que comigo também fosse assim, mas não é, e longe disso, tudo que fazem por mim, fazem questão, e parecem ter prazer em esfregar na minha cara, de me cobrar, como se eu nada tivesse feito de bom em todo minha vida.

Eu cobro atenção, ouvido, carinho e amor, mas meus pedidos parecem fardos demasiado pesados aos que me rodeiam, percebo no rosto dos que me cercam um descontentamento, um desapontamento, e, se assim é, prefiro despedir-me, sair por aí, sem rumo, afinal, pelo que entendo, jamais sentirão minha falta mesmo, aliás, nunca sentiram. Não, eu não estou me fazendo de vítima, apenas não consigo mais fingir que está tudo bem. Ninguém ouve meus pedidos de ajuda, e se ouvem, demonstram não se incomodarem com todo meu sofrimento, com a minha angustia, e com a minha dor.

Saibam, é verdade, eu amo viver, e com toda força do meu ser, mas já entendi que esse amor sozinho, não será capaz de me manter bem por muito tempo, por isso vou embora, sem destino, por aí, vou viver como andarilho, sozinho, mesmo dentre mais de sete bilhões de seres da minha espécie, vou morrer só, e não quero sofrer ao lado de ninguém, meu sofrimento já me é demasiado pesado e árduo, não vou dividi-lo com alguém, ele é meu, e isso não é egoísmo, mas sim, o entendimento de que cada um tem seu carma, sua sina, seu destino, ou, simplesmente escreve, de acordo com seu contexto e conhecimento, ambiente e capacidade a sua própria história.

Entendam, essa minha atitude é a mais corajosa que já tomei na vida, mesmo que muitos digam ou entendam como covardia, saibam, eu sempre vou me lembrar daqueles que amei, mas sofrer junto de alguém, com alguém, ou por alguém é, ao menos pra mim, a maior prisão, e a maior idiotice que um homem pode cometer.

Sejam todos muito felizes, vivam plenamente, falem aos meus filhos quem verdadeiramente fui, e que sempre os amei, mesmo estando distante, digam-lhes que os quero fortes, destemidos e corajosos, que não se importem (como muitos fazem) com as opiniões alheias, pois estas jamais dirão o que de fato cada um deles é ou representa de fato, não me transformem num monstro para os meus descendentes mas, falem de mim, se não puderem dizer algo bom, ao menos, não destruam a imagem do pai, amigo, marido, filho etc, que sempre fiz questão de demonstrar, digam aos meu filhos que, mesmo distante, sempre lembro deles em minha orações, e que sou o pai que eles tiveram, ausente, mas tiveram, enfim, quero que saibam que eu amo a todos, de verdade, mas não aguento mais viver assim...

Paulo Francisco dos Santos
Enviado por Paulo Francisco dos Santos em 29/08/2016
Código do texto: T5743924
Classificação de conteúdo: seguro