DIVÓRCIO É O FIM?

É comum pensarmos que a família acaba junto com a separação dos pais, o que é apenas uma consequência da maneira em que concebemos como normal ou padrão para a estruturação de uma família.

Antes de falar sobre família é preciso pensar sobre a confusão que fazemos em não diferenciar normalidade com o que é comum, de maior frequência. Isso se amplia a muitos outros casos, mas, tratando de família, sabemos que existem diversas formas de uma família ser constituída, entretanto, é muito mais comum/frequente que elas sejam formadas a partir da união entre um homem e uma mulher - o que nos faz ter a noção que esse é o padrão normal de família, excluindo as outras maneiras de serem tratadas como famílias normais.

A exemplo disso, temos a família constituída por mãe e filho, que deixa de ser tratada como família e torna-se “mãe solteira” – como se houvesse a necessidade de um homem para completar sua família. Família a qual os avós que criam os netos, torna-se “filhos criados pelas avós” – como se não fosse normal ou não pudesse ser considerada apenas como uma família. Dentre tantos modelos que passam a ser inferiores perante o modelo de estrutura familiar (pai, mãe e filhos), damos margem à crença de que família pode ter fim.

Junto com a separação dos pais, acreditamos que se tem o fim de uma família. Justifica-se, com isso, tantos casos de sofrimentos e revoltas de filhos para/com pais e sua própria vida ao conceberem a noção de que sua família chegou ao fim.

Talvez, isso possa ter motivação pela intensa educação que oferecemos às crianças de que não há algo mais belo que uma família feliz. Estaríamos até certos se não associássemos a essa imagem apenas a noção de família constituída pela existência de um pai e uma mãe que convivem juntos.

Quando os pais se separam, põe-se fim nos relacionamentos amorosos, sexuais e de cumplicidade entre os dois. Não se é o fim de uma família, é a reestruturação dela. Família não possui fim, família pode ser reorganizada, reestruturada, modificada, complementada e reformulada. Os pais podem se separar, saírem de casa, constituírem outras famílias e, mesmo assim, a sua família permanece, apesar do distanciamento e percursos distintos tomados pelos pais.

Não é a convivência, o contato e a idealização de pai e mãe sob mesmo teto que formaliza a noção de família, pelo contrário, é a estruturação e estabelecimento de laços afetivos e a concepção do papel representativo de seus pais que nos dá a noção de família. É tanto que, se observarmos, há tantas famílias juntas, mas distantes afetivamente. Ou tantas famílias distantes, mas unidas.

Se você é mãe ou pai, possui algum filho e não mais um vínculo amoroso com a mãe ou pai de seu filho, é preciso que você saiba diferenciar a separação com sua esposa ou marido, do fim do relacionamento harmonioso e de cumplicidade na criação, educação e participação da vida de seus filhos. Independente do motivo que tenha vos levado à separação, existe um único motivo que deve ser levado em consideração e que justifica a necessidade da união quando o assunto for seu filho: a existência de uma pessoa que possui vínculo direto com a existência de vocês dois e os valorizam.

Se você é filho ou filha e seus pais são divorciados, não se preocupe, pois sua família não acabou. Entretanto, é preciso que você reflita e se desapegue de alguns conceitos errôneos que, provavelmente, aprendeu dentro de casa, no convívio social, na escola e na igreja: família é, na verdade, algo múltiplo, diverso e flexível, capaz de se modificar e reestruturar. Família não é apenas aquela em que os pais vivam na mesma casa e eternamente, doa a quem doer e até que a morte os separem.

Quando falo isso, posso ser confundido como quem desconsidera a dor do divórcio e da angústia de ter que ver, na maioria das vezes, seu pai ou sua mãe partir de sua casa com a ideia de não mais voltar. A dor é motivada pela discordância da separação, por ser uma decisão não participativa a qual não é de seu acordo. Esse é um dos maiores erros dos pais ao se separarem, acreditar que seus filhos não saberão lidar, que são pequenos demais para entender o que está acontecendo, ou que distanciá-lo do momento da partida é a melhor alternativa. O melhor é sempre a conversa sincera, verdadeira e explicativa, para que os filhos não cresçam e descubram que foram enganados, que a mudança seja incompreendida ou que retorne e perceba que o “passeio” foi um tapa-olho para não enxergar o momento exato de sua nova realidade.

A outra e maior dor, certamente, é a dor de dividir momentos que gostariam que fossem vividos juntos. Aos pais, em datas marcantes, simbólicas e representativas aos filhos, o esforço do contato, esquecendo razões, egos, orgulhos e se conscientizando que não se trata de vocês e sim de seus filhos. Faz falta, ao filho, o almoço com seus pais. Faz falta o abraço coletivo. Pai, Mãe, isso não é por vocês, é por eles.

Filhos, busquem em si o que lhe angustia, o que mais lhe incomoda, o que mais sente falta, o que deseja e expressem, não guardem, não ignorem, não desacreditem. Não pense que você é o culpado da separação e nem se trate como um idiota por não conseguir uma união. A dor é sua, mas o problema não. Seja sincero, verdadeiro e exija o seu direito de ser respeitado enquanto filho que nada tem a ver com as razões de uma separação. Em teus momentos, tuas regras, desejos e idealizações. E se nada resolver, lamente a imaturidade de seus pais e a use de exemplo sobre como não ser.

Pai e Mãe: Esforcem-se, permitam-se!

Filho e Filha: Analisem, exijam!

Divórcio não é o fim. E nós precisamos falar mais sobre isso.

Ruy Tadeu
Enviado por Ruy Tadeu em 30/05/2018
Reeditado em 30/05/2018
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