O FUNERAL DO CONHECIMENTO

Ressaltar a importância da leitura para a formação cultural de um indivíduo é como “chover no molhado." Muitos que, neste tema, me precederam, e  com mais propriedade, já disseram e parece que ninguém dá ouvidos ao fato de que nossas crianças e adolescentes não estão dedicando parte do tempo à arte da leitura.

As escolas, com objetivos específicos de formar técnicos, exigência do mundo moderno e de sobrevivência, suprimem o espaço outrora dedicado à leitura de bons livros e, consequentemente, o contato com grandes autores clássicos e contemporâneos. Podemos procurar, com a “lamparina acesa," que dificilmente encontraremos dentre os mais jovens, e até mesmo muitos quarentões, quem leu Homero, Virgílio, Dante, Cervantes, Camões, Vieira, Milton e também os nomes consagrados da literatura brasileira, José de Alencar e Machado de Assis.

Sabemos que o hábito de leitura é um exercício para o cérebro. Quanto mais lemos mais aprendemos e retemos informações, o que nos possibilita melhores condições de interpretar textos, contextos e a realidade em geral, separando o trigo do joio, aproveitando as informações positivas e rejeitando as nocivas.

Infelizmente, o gosto pela leitura é algo do passado, peça de museu. Nossos pequeninos ocupam o tempo que “lhes sobram” com vídeo games, facebook, desenhos e programas devidamente preparados para entretê-los e despertar-lhes o desejo de adquirir produtos e serviços adequados a “seu mundo”. E, quanto aos pais, fica o sentimento de satisfação pelo fato de que a galera está “antenada” na modernidade. A televisão, a internet e outros recursos eletrônicos, constituem ferramentas essenciais na defesa da filosofia da escassez de tempo e recursos para administramos o crescimento e desenvolvimento de nossos filhos. Enquanto se ocupam, se divertem e se “informam” nessa parafernália, tocamos nossas vidas. Afinal, o capitalismo absorve todo o espaço que poderíamos dedicar ao acompanhamento e formação deles. É conveniente transferirmos a responsabilidade para a escola. Ela resolve tudo. Basta ir à escola, ter um certificado de conclusão do ensino fundamental, médio e quando muito de uma faculdade. Conhecimento á algo secundário, pouco importa. Dominar a tecnologia "é preciso."

Não encontramos livros na maioria das casas. O material impresso ainda possível de ser detectado são revistas de fofocas e eventos sociais que destacam e idealizam uma classe bem distante da realidade. Podemos encontrar também aqueles que nos mostram orgulhosamente em suas estantes os livros de Paulo Coelho, séries como Crepúsculo, Harry Potter, dentre outros da moderna literatura consumista (que consomem nosso dinheiro e nossa inteligência).

Recentemente, fizemos uma pesquisa informal, empírica, aleatória, com 10 jovens do nosso convívio os quais consideramos com um nível satisfatório de conhecimento. Perguntamos se gostavam de ler para se informar dos acontecimentos cotidianos e aquisição de bagagem cultural. Seis disseram que não, preferiam receber informações através dos telejornais e redes sociais. Três disseram que, de vez em quando, leem jornais e revistas; apenas um dos jovens nos informou que lê jornais, revistas e, na medida do possível, se dedica à leitura de livros de auto-ajuda para melhorar o desempenho no trabalho.

Lamentavelmente é esse o quadro que se desenha diante de todos nós. Sentimo-nos impotentes para mudar a realidade. Cada vez mais vemos anúncios de aumento de recursos em todas as esferas governamentais para a educação. Mas a destinação e eficácia destes são duvidosas. Escolas e professores estão simultaneamente sucateados. Os primeiros pelo espaço, mobiliários e livros e os outros pelos salários aviltantes que lhes furtam a dignidade e o desejo de se aperfeiçoarem na sagrada missão de ensinar.

Precisamos unir em busca de soluções. Temos que participar mais e mais da vida escolar de nossos filhos. Incentivá-los a ler bons livros que os tornarão mais competentes na fala, na escrita e na interpretação; cobrar dos governantes ações decisivas na área da educação. Não podemos calar.  O conhecimento está agonizando como um paciente terminal num leito hospitalar e nós esperamos, inertes, para realizar o seu funeral.