Dia da consciência negra de quem?

Nessa noite na Universidade tivemos um debate sobre o Dia da Consciência Negra. Participei e falei sobre Alcides Nascimento Lins, um jovem pobre, NEGRO, morador do Coque (uma das comunidades mais carentes do Recife, PE). Alcides passou em 1º lugar no curso de Biomedicina, na UFPE.

Alcides usava os livros didáticos oferecidos pela escola pública onde estudou e também usava livros encontrados por sua mãe, que é catadora de lixo, para estudar para o exame de admissão na UFPE. Era o primeiro da família a ingressar numa universidade e a cursar um ensino superior.

Quando já estava cursando o 5º período do curso, Alcides foi brutalmente assassinado em sua casa. Seus algozes, dois, ambos reincidentes e em condicional, assassinaram Alcides por pensarem ser um traficante de uma gangue rival ou por ser um devedor do tráfico, não recordo muito bem. O curioso é que os assassinos também eram negros!

Terminei o debate indagando: existe alguma proibição para negros ingressarem em universidades públicas ou até em particulares por meio do ProUni ou em qualquer outro concurso? Tem alguém que aponta o dedo na cara dessas pessoas e dizem a elas que não são capazes de estudarem num curso superior? Por que tratam o caso de Alcides como apenas uma exceção e não como uma regra, como exemplo de superação, dedicação e de gana daquilo que você busca pra sua vida? Por que acham ser suficiente dar apenas o nome dele a uma escola pública como forma de "consolação"?

É isso que me deixa frustrado, e que me deixou muito frustrado hoje... ouvir, explicitamente, que o caso de Alcides foi apenas uma "exceção", transformando a força de vontade dele em praticamente NADA! E sem falar na lei da impunidade que assola nesse país, onde nós somos todos os dias mortos! Mortos por bandidos sanguinários que gostam de praticar os seus crimes, pois são crentes da "lei da impunidade" que há nesse país.

"Direitos Humanos", alguns dizem. O bandido entra para o mundo do crime pois não tinha outras oportunidades... então o que aconteceu com Alcides? Por que ele não entrou pro mundo do crime, como todos os outros negros "iguais" a ele? AONDE ESTAVAM OS DIREITOS HUMANOS QUANDO ELE ERA ASSASSINADO A SANGUE FRIO NA PRÓPRIA CASA?

Ah! Direitos Humanos... Os Direitos Humanos só estão preocupados em passar a mão na cabeça de pessoas do tipo que mataram Alcides e que matam a nós todos os dias nesse país! Para eles, Alcides se tornou uma estatística para usar contra o "sistema opressor" que eles mesmos criaram, quando segregam ainda mais os negros da sociedade com cotas e coisas do gênero e a estimular ainda mais a luta de classes, raças e cores.

Enquanto "existirem Alcides" nesse país, o termo "vítima da sociedade", pra mim, jamais será aceito pra definir pessoas que entram para o mundo do crime! E os únicos racistas serão as pessoas que defendem as cotas raciais, cujo segregam ainda mais os negros de toda a sociedade. Como eu dizia desde a época do ensino fundamental: "-O verdadeiro racista é aquele que, quando entra numa sala de aula ou em algum recinto, a primeira coisa que faz é contar quantos negros tem ali dentro!" Eu ainda me lembro quando eu estava numa sala de aula quando entrou uma mulher, que pediu para que, categoricamente, os alunos levantassem os braços de acordo com as cores e etnias que falava, com a finalidade de realizar uma contagem. Eu, naquela ocasião, não levantei as mãos NENHUMA DAS OCASIÕES, seja pra negro, pardo, branco ou indígena. Pra mim, desde aquela época, aquilo era totalmente irrisório. E não muito importante ressaltar aqui, mas quero deixar registrado: sou filho de uma mulher branca e de um pai preto!

Alcides, esteja onde estiver, saiba que você, além do meu pai e da minha mãe, é um exemplo na minha vida! Seu exemplo será transcendido aos meus filhos e aos meus netos e a todas pessoas que eu julgar necessário conhecerem sua história! Pra mim, você não é uma mera exceção, VOCÊ É A REGRA!!! Você é a regra para que todas as pessoas possam seguir aquilo que tanto almejam, que possam ser o que quiserem com esforço e dedicação. Quem sabe algum dia nos conheceremos e que eu possa demonstrar o quão admirado sou por sua vida! Obrigado, Alcides!

Bruno Aguiar
Enviado por Bruno Aguiar em 28/12/2018
Reeditado em 02/01/2019
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