50 ANOS DE AMIZADE - Faculdade de Letras da UFMG

ENCONTRO DE ALGUNS AMIGOS DA FACULDADE DE LETRAS.

PERÍODO: 1969/1972 – RESTAURANTE AMADEUS

RUA ALAGOAS, BELO HORIZONTE - MG

Presenças: Teotônio e esposa Rosângela, Márcio Amorim e esposa Dora, Sônia, Assunção, William, Maria Eugênia e marido Jaime, Luiz Gonzaga e esposa Fátima, Paulo Wangner e esposa Mônica.

Um dos livros da Bíblia Sagrada, o Levítico, nos dá notícia de um velho costume hebraico: a cada cinco décadas, o de celebrar o Ano Jubilar. Pois é. Aqui estamos para celebrar os 50 anos de amizade. Inacreditável. O Jubileu de um grupo da Faculdade de Letras da UFMG, formado por turmas que começaram, aproximadamente, no mês de fevereiro de 1969, no prédio da Rua Carangola, 288, bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte - MG.

Neste momento, o meu coração se inunda de uma saudade imensa dos professores, do ambiente da faculdade, dos colegas, daquele tempo e das coisas daquele tempo, sem dúvida. Mas acho que a saudade mais forte é a saudade de nós mesmos, da juventude que ficou para trás.

Estou muito feliz de poder compartilhar com vocês este momento. Uma emoção muita pura toma conta do meu coração. Pensar que sobrevivemos ao longo de todo esse tempo e que podemos, neste instante, olhar no fundo dos olhos, um a um, e ter a certeza de que a vida valeu e vale a pena.

Eu me ingressei na Faculdade de Letras, aos 19 anos de idade, magro, franzino... Muito inexperiente e com muita sede de aprender. Era um dos mais novos da turma. Naquela época de minha existência, quem tinha 22 anos, ou mais, era adulto. Embora fosse colega de todos, eu me sentia tratado mais ou menos como menino, por parte dos mais velhos, o que afinal era compreensível. Quando agora celebramos o Jubileu de nossa amizade, não há diferença se temos 70, 72 ou mais. Estamos todos no mesmo barco dos idosos. A primeira vez que tive a nítida sensação de que envelhecera aconteceu quando uma mocinha, no ônibus, me cedeu sua cadeira para que eu me sentasse.

No dia de hoje, neste momento tão significativo, não poderíamos deixar de fazer referência a nossos ex-professores. Grande parte deles já não está entre nós, como professor Romanelli, de Filologia Românica; professor José Lourenço, de Linguística; dos professores Carlos Peicher e Rubens, de Grego; do professor Oscarini, de Latim. Outros professores de cujos nomes não me lembro agora, certamente, não sobreviveram à força impiedosa do tempo. Também alguns colegas já se foram. Lembro-me deles com muita saudade: o Luiz Paulo de Brito, que saía cedinho da vizinha cidade de Congonhas, para assistir às aulas. Da Vanda, da Maria da Piedade e outros ou outras, dos quais não temos conhecimento se já não estão entre nós. Felizmente não foram muitos que partiram.

Há algum pouco tempo publiquei no site Recanto das Letras uma carta. Ela foi dirigida a alguns amigos da Faculdade de Letras. Peço licença para recordar algumas de suas passagens, pois acho que o momento é oportuno.

Foi mais ou menos assim:

Caros amigos, William, Paulo, Márcio, Teotônio, Mariângela e Maria Oiguênia:

Hoje tirei um tempinho para escrever-lhes. Meu desejo é colocar no papel, (ou na telinha já que a telinha do computador ou do celular é onde temos lido os textos na maioria das vezes), melhor dizendo, algumas lembranças, por ocasião de nossa passagem pela saudosa Faculdade de Letras da UFMG. Na verdade, o objetivo principal é registrar aqui como se iniciou a nossa amizade, muito pura e sincera, que guardarei em meu coração até o dia de minha mudança definitiva para outro plano da vida.

Saibam, caros irmãozinhos, que tive o privilégio de conquistá-los. Para mim, vocês sempre foram pessoas especiais, simples e humildes. Depois de muito sacrifício, esforço e coragem, chegaram a posições importantes, no cenário nacional. Até gostei de dizer no cenário nacional...

Acho que vou começar dirigindo-me ao professor William Jaques Pereira Santiago, de Pitangui-MG. Formado em Letras, no curso de Português, diplomou-se, também, em Jornalismo. Abandonou o país, após ser aprovado em concurso público no Ministério das Relações Exteriores, indo labutar em terras distantes, em embaixadas brasileiras, ou em consulados, como: Arábia Saudita, Dinamarca, Paraguai, etc. etc. Cônsul do Brasil no Paraguai, com destaque especial. Lembra-se, professor, quando, em 2009, estive em sua casa na cidade de Encarnación? Você, William, foi e é uma das pessoas mais inteligentes que conheci. São inúmeros os seus textos e livros publicados. Com sua simplicidade, alegria e despojamento, acabou por se tornar meu grande companheiro do humorismo. Sempre que nos encontramos, você sabe bem disse, temos uma piada para contar. Umas velhas, outras novas. Lembra-se de que quase matamos nossas colegas da faculdade de tanto rir?

Não poderia deixar de registrar aqui aquele acontecimento pitoresco ocorrido em 1969, na sala de aula de nossa escola, lá naquela última sala, à esquerda, do sétimo andar da Faculdade de Letras... Faz referência a você, meu ilustre companheiro, professor e alto funcionário da diplomacia brasileira. Eis que o amigo, chegando um pouco atrasado para uma das aulas, escutou do remetente dessa missiva a seguinte frase: Chegou o voador. Não houve nenhuma manifestação por parte do ilustre pitanguiense. Foi você mesmo que me reportou o fato, anos depois, quando já havíamos selado uma forte amizade, dizendo-me o ilustre voador qu.e ficara simplesmente p. da vida, já que o capitalista, aqui, seu grande amigo, simplesmente fizera pouco caso dele. O interiorano, já um pouco cabreiro e talvez sem lugar, quem sabe até meio complexado, na Escola que parecia haver somente pessoas da elite, ser taxado de voador, fora realmente uma ofensa.

Professor Santiago, que bom recordar esse fato que acaba por renovar nossas velhas e gostosas e gargalhadas!

Agora, dirijo-me a outro amigo do peito, também de Pitangui, você, grande Paulo Wangner de Miranda. Além de espirituoso, diplomar-se em dois cursos superiores, o de Inglês e de Geografia, não é para qualquer um. Tornando-se um diplomata de gabarito, como me orgulho de ser amigo de uma pessoa tão ilustre! Ocupar o cargo de embaixador do Brasil, em Granada, na América Central... É, Paulo, a turma de Pitangui não decepciona mesmo.

Agora vou me dirigir ao grande amigo daqui de Belo Horizonte, o professor Márcio Amorim. Homem de muita simplicidade, você conseguiu, com sua inteligência e dedicação, trabalhando, durante alguns anos na sofrida profissão de professor, conquistar seu espaço. Depois de ocupar um simples apê, à beira do córrego da avenida Atlântica, no bairro Alípio de Melo, por sinal, não muito cheiroso, hoje se destaca como um dos mais bem afortunados cidadãos de Belo Horizonte, residindo em uma região nobre de BH, ao lado de sua ilustríssima dona, a Dora, que também se diplomou nas letras da Língua Portuguesa. Hoje servidora de alto gabarito, aposentada do Poder Legislativo de Minas.

Agora é você, professor Teotônio Marques Filho, baiano de Tanque Novo! Como foi proveitoso o nosso Curso Clássico, realizado no Colégio Municipal de Belo Horizonte! Companheiro de uma inteligência invejável, amigo sincero e verdadeiro, como me ajudou a romper no curso de Português, na Faculdade de Letras! Eu, como muitos dos companheiros das letras, não nos esquecemos de sua prestimosa ajuda, com aulas complementares e esclarecedoras do latim e do grego. Sem dizer de outras disciplinas... Ah, se não fosse sua ajuda! E os trabalhos que o amigo publicou? A análise de dezenas de obras literárias, transformadas em preciosos instrumentos para que muitos candidatos pudessem chegar às universidades. Foi um trabalho árduo e meticuloso, sei muito bem disso, companheiro. Quero dizer, meu caro professor Teó, que tenho uma profunda gratidão por tudo que fez por mim e por manter-me por perto, desfrutando sua pura amizade. Continuará presente em meu coração, para sempre.

Deixei você, Maria Eugênia, por último, já que ist in Argentinien. Não, você não está na Argentina, embora de lá goste muito, está em meu coração de irmão, como de toda essa turma a qual estou dirigindo através dessa missiva. Estou até meio preocupado... Será que não estou sendo muito cafona? Azar, se estiver “cafona”, ou “bokomoko”. O professor William Santiago me disse que escrever faz bem para a mente e ajuda a driblar a ociosidade. Por isso me atrevi a escrever. E por que não para meus amigos da Faculdade de Letras?

Saiba, irmãzinha, que não é por acaso que as coisas acontecem em nossas vidas. O nosso grupo da Faculdade de Letras se estruturou de uma forma muito harmônica e espetacular, haja vista que não perdemos o contato e estamos sempre juntos, mantendo nosso tête-à-tête. Que bom!

Acho que já falei demais. Quero finalizar agradecendo a Deus pelo privilégio que tive de fazer parte de um grupo tão maravilhoso formado há cinquenta anos na Rua Carangola, com quem pude aprender tanto e desfrutar da companhia de pessoas do mais alto nível. A todos um beijo no coração.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA

Belo Horizonte, 09 de janeiro de 2019

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 10/01/2019
Reeditado em 04/09/2019
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