Por uma esquerda brasileira nacionalista e revolucionária.

Por uma esquerda brasileira nacionalista e revolucionária.

Nós comunistas somos internacionalistas, nossa ciência, o marxismo, nasceu batizado com a frase “Proletários do mundo, uni-vos”, dita por Marx no Manifesto do Partido Comunista, uma de suas principais obras. Defendemos a organização da classe trabalhadora dos quatro cantos do mundo, para a tomada de poder político, que culmine na derrocada violenta da burguesia e na queda do Estado burguês, para a construção de um Estado socialista, baseado na propriedade coletiva dos meios de produção, na liberdade dos povos e na participação popular no processo político, não mais comandado por corruptos, conciliadores e abutres da burguesia.

Nossa luta inclui proletários europeus que sofrem com o desmonte do antigo Estado de Bem-Estar Social, perdendo assim o pouco que tinham de qualidade de vida nas condições de sobrevivência em um continente com escassez de recursos naturais, como também inclui trabalhadores norte-americanos, prejudicados pelo desemprego, a inflação e dívidas bancárias, mazelas essas causadas pela crise de 2008, o segundo maior colapso do sistema capitalista em sua história.

Mas não há de se ignorar que os problemas sociais que o proletariado do século XXI enfrenta são os mesmos no mundo inteiro. O capitalismo inicialmente se desenvolveu na Europa, a partir da exploração colonial, primeiro nas Américas e, posteriormente, na Ásia e na África. O único país americano que conseguiu alcançar o desenvolvimento industrial da Europa foi os Estados Unidos, pelo fato dos seus conquistadores não terem intenções coloniais, mas de construírem uma nova nação para lá viverem, e mesmo quando a Inglaterra interveio política e militarmente, houve um processo revolucionário de independência. Enquanto em países da América do Sul e América Central, o mesmo foi mais tardio ou não efetivo, devido a intensa exploração colonial de países como França, Holanda, Inglaterra, Portugal e Espanha, que tratavam as populações nativas como escravos e nossos recursos naturais como produtos de mercado para abastecer a economia dos recém-criados Impérios. Dos séculos XVI a XIX, foi esse mesmo cenário, com religiões e línguas nativas sendo destruídas e um processo de miscigenação a base de estupros em massa, até iniciarem as lutas anticoloniais lideradas por nomes como Emiliano Zapata e Simon Bolívar, mas, infelizmente, com o surgimento do imperialismo, muitos países americanos não estadunidenses foram governados por ditaduras satélites dos países do capitalismo central e, quando não sendo o caso, sua economia estava totalmente subordinada ao chamado Primeiro Mundo, criando assim uma condição mais tarde explicada por filósofos marxistas, tais como Vânia Bambirra, André Gunder Frank, Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos, entre outros, que buscavam compreender a realidade do capitalismo dependente.

Na Ásia, países como Inglaterra e França, transformaram a população de países como Índia, Indochina e Japão em exércitos de trabalhadores das fábricas e indústrias lá construídas, além de também tentarem dar fim aos traços culturais desses povos, na busca por torná-los mais semelhantes aos Europeus, e a repressão violenta as diversas tentativas de luta anti-imperialista, chegando ao ponto de que só na metade do século XX, esses países pudessem se libertar após revoluções na Índia, China, a metade norte da Coréia, etc.

Na África e Oriente Médio, o cenário conseguiu juntar o pior das duas formas de exploração européia e norte-americana (colonialismo e imperialismo). Além do roubo de recursos naturais, seus povos nativos foram traficados e, por séculos, escravizados em todo o mundo, também só se libertando no século XX, mas até hoje sendo palco de guerras civis, trabalho escravo por parte das empresas instaladas no continente, ditaduras oligárquicas e situação de extrema fome e proliferação de doenças. Isso, sem ignorar que, mesmo depois da descolonização, a África do Sul, por exemplo, ainda sofreu com um longo processo de apartheid promovido pela elite branca e européia que vivia no país.

Logo, podemos entender no que se refere à teoria de dependência, que historicamente, países não europeus e não estadunidenses, tiveram sua sociedade, cultura, economia e política moldada ou construída pelos países de capitalismo central, e este penúltimo elemento numa condição de subordinação. Mas ao longo da história, existiram diversas tentativas de se conquistar a completa independência, entretanto, nem todas foram vitoriosas, e é necessário analisar ambos os exemplos, para entender qual deve ser o horizonte desse processo.

No Chile, em 1970, por exemplo, a esquerda nacionalista reformista chega ao poder com a eleição vitoriosa de Salvador Allende, que acreditava na possibilidade de se chegar ao socialismo pela via eleitoral e que poderia ser construído a partir de reformas políticas e econômicas. Assim, além de ampliar as possibilidades de participação popular nas decisões do Estado, também nacionalizou as minas de cobre, os bancos e a indústria de base. Entretanto, Allende sofreu um golpe militar, em 1973, que levou a sua morte e a instauração de uma das mais violentas ditaduras da América Latina, cujo líder máximo foi o militar neofascista Augusto Pinochet.

Já na Líbia, o militar nacionalista e socialista Muammar Al-Gaddafi, assumiu o poder após liderar a revolução militar ocorrida em 1969. Seu governo foi marcado por melhoras significativas em setores básicos da sociedade, como saúde, transporte, educação, moradia, etc. Também sendo responsável por reduzir consideravelmente o índice de desemprego, após suas políticas econômicas de nacionalização da produção de petróleo. Durante esse período, a Líbia se destacou como um dos poucos países da África onde o povo tinha qualidade de vida e progredia econômica e socialmente. Todavia, em 2011, após comprovar que não representava uma ameaça aos Estados Unidos, renunciando a produção de armamento nuclear, Gaddafi sofreu um golpe militar, devido a uma intervenção imperialista promovida pelo governo norte-americano, que resultou em sua morte. Mesmo processo esse que foi usado para derrubar o governo do Iraque, de Saddam Hussein, cujo governo e seu desfecho foram muito semelhantes aos de Gaddafi.

Por outro lado, tivemos exemplos de países de economia capitalista dependente que, num processo de transição, apesar das tentativas do imperialismo, não foram desestabilizados. Na China, os trabalhadores e partidos de oposição destruíram o antigo e retrógrado regime mantido pela Inglaterra, acabando assim com sua influência colonial. Após esse processo, o Kuomitang, liderado por Chiang Kai Shek, assume o poder e inicia um governo nacionalista, mas, todavia, reacionário, até ser derrubado pelos comunistas organizados por Mao Tse Tung que tornou-se o primeiro chefe de Estado da China Revolucionária, sendo responsável por profundas mudanças gerais em toda a estrutura do país, na construção do socialismo. Sua aliança com a URSS foi perfeitamente estratégica, para que não houvessem ameaças imperialistas.

No Vietnã e na Coréia Popular, também ocorreram revoluções comunistas, devido ao processo de descolonização, mas que resultaram em violentas guerras civis nos países, com influência norte-americana, que tinha como objetivo manter a condição de subordinação desses países, enquanto a URSS apoiou as frentes revolucionárias em defesa da manutenção da libertação dos povos da antiga Indochina. Tanto o Vietnã quanto a Coréia Popular se aliaram com o bloco soviético e a China revolucionária. Já na atualidade, após as ameaças feitas pelos EUA ao povo e ao governo coreano do lado socialista, o líder Kim Jong Un iniciou a produção e teste de armamento nuclear, como forma de defesa, o que fez com que o governo norte-americano optasse por vias diplomáticas e uma política de armistício.

O mesmo aconteceu em Cuba, que passou inicialmente por uma revolução nacionalista, contra o governo ditatorial satélite da Espanha, de Fulgêncio Batista, em 1959, liderada por Fidel Castro, seu irmão Raul, o também guerrilheiro Ernesto Che Guevara e o comandante Camilo Cienfuegos. As políticas implementadas por Castro foram de nacionalização das empresas instaladas na ilha, na produção de base e em reformas de base, iguais as que Gaddafi fizera na Líbia, posteriormente. Após esse processo, sofreu uma invasão mal sucedida dos Estados Unidos, o que levou ao governo se aliou politicamente a URSS e aceitou receber mísseis em seu território, apontados para os EUA, mas que, mais tarde vieram a ser retirados, devido ao acordo de não agressão entre os governos norte-americano e soviético. Mas os irmão Castro mantiveram, mesmo depois do fim da URSS, um governo nacionalista, mesmo estreitando relações com o Estados Unidos, devido a necessidades pelas quais a ilha passa, causadas pelo bloqueio econômico.

Após esse apanhado histórico sobre os países do chamado “capitalismo subdesenvolvido” e sua relação com o capitalismo central, podemos entender que o processo de libertação efetivo ocorrido nesses países se deu pela alternativa revolucionária e comunista, mas também antiimperialista, marcado pela defesa da economia nacional, da valorização dos setores básicos da população. Em outras palavras, foi construído o que podemos chamar de nacionalismo revolucionário, por compreendermos que, a luta dos povos da latino-americanos, americanos centrais, asiáticos e africanos não é só contra a burguesia local, mas também contra o grande capital estrangeiro que persiste em mantê-los como escravos de produção e consumo e sua terra como fonte interminável de exploração dos recursos naturais.

O jornalista e filósofo marxista José Carlos Mariátegui, em sua obra Os 7 Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, fez uma importante análise pelas lentes do materialismo histórico e dialético acerca de seu país, compreendo a condição de subordinação do Peru ao imperialismo norte-americano e britânico, defendendo, então, a luta revolucionária da classe trabalhadora e a valorização dos povos nativos numerosos no país. Um dos principais responsáveis pela aplicação do nacionalismo revolucionário na América Latina foi Fidel Castro, em Cuba, no ano de 1959. Seu legado, assim como o de outros líderes que lutaram contra o imperialismo e construíram projetos nacionalistas em seus países, tais como Mao Tse Tung, Ho Chi Mihn, Kim Il Sung, Thomas Sankara, etc, deve ser seguido pelas esquerdas de todos os continentes subordinados ao capitalismo central. Em especial, a esquerda brasileira necessita de superar o petismo, e outras alternativas reformistas e social democratas, compreender a nossa realidade material, para a organização dos trabalhadores, estudantes, as mulheres, LGBTs, negros e indígenas em prol da construção do poder popular, pela via revolucionária, rumo ao socialismo!
Gabriel Craveiro
Enviado por Gabriel Craveiro em 25/07/2019
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