Mediocridade

A impotência, os erros e outros caracteres abjetos inerentes ao ser humano refletem como se defronte a um espelho quando contemplamos nosso semelhante posto como um bicho desgraçado lançado à própria sorte e ao mau destino. Um bicho debaixo da marquise, um bicho conduzindo carroça, um bicho que vende seu único bem, o próprio corpo, para prazer e satisfação alheia e sua própria destruição. Um bicho que traz em si as marcas da fumaça que lhe promovem pesadelos, um bicho que sangra pelo frio da madrugada e aguarda o café servido por um suposto benfeitor, um bicho que transmite em herança as mazelas de sua existência e posterga dores e sofrimento. Um bicho olvidado pela ganância e egoísmo. Um bicho, meu Deus, um bicho. Noutro lugar, outro bicho, cego, que enfiasse em seus estufados cobertores e volve-se indiferente aos demais. Um bicho que não busca embelezar-se com o invisível, mas apega-se ao desprezível e superficial, ao egocentrismo e diminui-se. Aguarda a iniciativa de outrem para extinguir seus males, anseia a glória, enfada-se em delírios infames e ocupa-se do vil. Nega a realidade e replica o que lhe impuseram, sem análise, sem questionamento. Desencorajado, irresponsável, pusilânime. Enfia-se numa realidade fosca para driblar seus deslizes. Eiva-se de pessimismo. Bichos envoltos de si, de sua desumanidade. Cretinos e medíocres, distantes da Verdade, entregues à irracionalidade, agindo impulsivamente, moderado unicamente quanto à gratidão. Opositores das almas elevadas, admiradores das sem horizonte. Pobres! Arrependamo-nos, pois, de nossos próprios caminhos, abandonemos todo apanágio da mediocridade, regressemos à Verdade, ao Puro, ao singelo e Eterno, ao Amor.