DISCURSOs...

O discurso manifesto, expressado e comunicado pelas pessoas é sempre de caráter pessoal, subjetivo. Tem sempre uma cara (expressão, marca) que parte da realidade que cada pessoa vive. Portanto, nenhum discurso é isolado, mas sempre situado em uma realidade, em um contexto. Toda fala está ligada aquilo que a pessoa faz na vida cotidiana. Logo, pobre fala como pobre, rico como rico, professor como professor, doméstica como doméstica, político como político... Sem estudos, sem reflexões e bons e saudáveis debates com pessoas de outras realidades, a maioria das pessoas não consegue nem sair desse discurso e nem compreender outros discursos. Portanto, também, não é capaz de compreender o outro.

Assim, e além disso, cada discurso pode engendrar duas possibilidades em termos de comunicação (aquilo que está por trás do que o sujeito expressa, fala). Uma, quando o indivíduo não tem consciência da sua realidade, não sabe como ela se constitui, apenas a vive, sem criticar, sem questionar e, pior, defende a sua realidade como a correta, eis uma comunicação alienada, alheia e sem conexão com a realidade, de fato.

Outra, quando o sujeito é conhecedor da sua situação existencial e manifesta (comunica, fala) este contexto, mesmo e ainda que não possa fazer muito para mudá-la. Neste caso, ter consciência implica juntar vozes e forças para transformar realidades e contextos que oprimem e contribuem para produzir desigualdades. Nem sempre é possível a mudança de uma realidade, mesmo com uma consciência elaborada da mesma. Esta, a realidade, constitui-se a partir de forças antagônicas, naturais ou artificiais (culturais). Neste caso, construídas por ações humanas. Das forças naturais não conhecemos (ainda) suas reais intencionalidades; as culturais são sempre movidas por interesses bem situados.

Somos todos reféns da nossa realidade. Libertar-nos significa apreender e aprender como esta realidade se constitui e é instituída e reagir. Primeiro, com as nossas próprias ações, depois, juntando forças que têm a mesma consciência – como ponto inicial de ações e não meramente ponderações imaginárias e fantasiosas.

Discurso é consciência. Consciência é ação a favor da qualificação da vida e das relações humanas.

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* Outras compreensões são possíveis e necessárias. Sempre.