Dediquei um pedaço do meu sábado ao estudo de Espinosa e entro na tarde de domingo discursando sobre "Moral, Ética" e a chamada Imoralidade de Espinosa...

 

Espinosa, foi chamado em sua época de Imoralista. Mas a final, como pode um dos pais da ética ser um ser "imoral". Pois bem, na maioria das vezes o termo imoral é movido apenas como uma ofensa. É por isso que, para esclarecer, prefiro usar imoralista no lugar de imoral.

 

Todas as histórias, fatos, artigos, trabalhos acadêmicos sobre o descreve como um homem justo e jamais mundano, louco, extremista. Espinosa também não é caracterizado como um homem movido pelas paixões em busca de honra e riqueza. A literatura da vida do filósofo atesta essa impossibilidade:

 

Espinosa tinha um pequeno ofício, não tinha mais do que uns pares de roupas e dedicava sua vida à reflexão e ao conhecimento. Pela exposição de seus manuscritos e pensamentos além do seu tempo. Espinosa se protegia dos riscos que corria perante a alguns grupos sociais, ele vivia em reclusão e mantinha apenas um pequeno círculo de amigos íntimos. Logo, acusações sobre sua "imoralidade", não sabe bem do que está falando.

 

Espinosa, em Tratado da Correção do Intelecto, denuncia que se há algum bem supremo, esse não está nas coisas cotidianas. Essa percepção de sua vivência e prática o ensinou que em si mesmas elas não contêm nem bem, nem mal. Ou seja, a busca precisa ser conquistada, experienciada em outro lugar.

 

O pensamento do leitor questiona. Como pode, então, ser evidênciada em toda leitura sobre vida e obra de Espinosa o ser mencionado como "imoralista". Em que sentido podemos dizer que Espinosa não tinha moral? - Esse ponto é esclarecido à medida que entendemos a diferença entre Ética e Moral. Uma ordem moral do mundo ou sistema moral de pensamento é aquele que estabelece regras universais para a ação. A filosofia moralista é aquela que trabalha com a universalidade da verdade quanto lei, perfeição; bem como seus opostos, a falsidade, o proibido, o imperfeito... Enquanto a Ética, no entendimento de tradição filosófica, é o tipo de pensamento que considera a ação a partir de si mesma. Na falta de uma instância superior e externa, os critérios de juízos éticos são intrínsecos ao agente. Assim, não há uma regra que sirva como fundamento de nenhum modelo universal, nenhum imperativo categórico, nenhuma verdade inquestionável.

 

A Ética contempla o perspectiva do correto e coerente, assim como, , a crítica, a finitude, a multiplicidade, a diversidade… é uma maneira mais aberta de se pensar. Uma visão ética de mundo promove uma razão leve, que não tenta encaixar o mundo em seus moldes, mas procura encontrar as medidas certas para se relacionar com ele.

 

Espinosa desarticula todos os sistemas morais ao fazer uma matemática dos afetos. Como eles funcionam? Como fazê-los funcionar de modo que gerem mais alegrias do que tristezas? Há apenas o bom-jeito e o mau-jeito. 

 

“Se você fizer isso, é provável que aconteça aquilo”, tudo está resumido no modo como você se relaciona. O ignorante acusa e sofre as consequências; o sábio entende, decifra, mede e age.

 

Para Espinosa, Deus confunde-se com a natureza, logo, não há como desobedecê-lo, tudo que fazemos é sua vontade, então só temos que aprender o melhor jeito de fazê-lo. Deus nada julga, ele não é um soberano. Da perspectiva da natureza, não há erro, nem falta, nem imperfeição. É aqui que começamos a entender por que Imoralista torna-se um insulto. Estudiosos da filosofia de Espinosa, filósofo não julga uma tristeza por não ser alegria. Ele simplesmente pergunta “como isso funciona?”, “o que é isso que eu sinto?”.

 

Busca sentir tão profundamente tais sentimentos que os revela em descrições do conhecimento humano que se define pela razão de tal sentir. Uma vez, que acreditava que descoberta desvendaria como de fato funciona os afetos depois que conhecemos a forma de como a produzimos.

 

Espinosa escreveu: “Não queremos algo porque é bom, mas é bom porque queremos”!

 

A Ética faz uma verdadeira revolução com a Moral. Não há anterioridade na descoberta do que é bom e do que é ruim. Ou seja, bem e mal não estão acima da existência, mas junto dela, como bom e ruim. É por isso que a boa filosofia não presta para dar conselhos, porque tudo o que ela faz é apontar um caminho incerto dentre inúmeros possíveis.

 

 

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Várias leituras
Enviado por Monet Carmo em 23/10/2022
Reeditado em 23/10/2022
Código do texto: T7634260
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